Topo

Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


O que você sente ao ouvir música? Som tem poder sobre regulação emocional

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Heloísa Noronha

Colaboração para o VivaBem

26/02/2021 04h00

A maioria das pessoas tem um repertório de músicas marcantes em sua vida: a que lembra a infância, a que embalou a adolescência, uma canção que evoca a memória de alguém que já partiu, aquela que provoca um desejo imediato de dançar. A música sempre fez parte da história da humanidade, desde os ritos primitivos e religiosos até as lives durante a pandemia. Além de divertir e conectar pessoas, uma de suas principais funções —e que começou a ser estudada com mais afinco a partir dos anos 1990 — é nos ajudar a lidar melhor com as emoções a partir da conexão que ela promove entre os neurônios.

Quando ouvimos música, o som é processado pelo sistema auditivo, composto pelas orelhas e vias auditivas do cérebro, que permite traduzir ondas de pressão do ar e localizar as fontes sonoras. Os padrões de harmonia, melodia e ritmicidade são armazenados pelo córtex temporal com a memorização de notas e sua sequência temporal, enquanto o córtex auditivo processa o volume e o tom.

A partir daí são criados padrões de informações que são repassados a outras áreas do cérebro através das fibras de associação. Assim, diversas regiões são ativadas, como os lobos temporais e parietais, que evocam memórias relacionadas àqueles sons. O sistema límbico é a principal delas, pois é inteiramente ativado, produzindo ou fortalecendo emoções, levando o hipotálamo a controlar as reações automáticas do corpo frente às emoções, como frequência cardíaca, pressão, pupilas, excitação sexual etc.

A música também ativa a memória motora, que fica em circuitos do cerebelo, tronco e medula. As emoções e lembranças podem ativar o córtex visual, para evocar imagens relacionadas a alguma música específica.

Na prática, todo esse processo pode resultar em alguns benefícios à saúde mental. A seguir, veja alguns:

Casal de idosos dançando, idosos felizes, idoso feliz, idoso dançando - iStock - iStock
Imagem: iStock

Sensação de prazer

Ao ouvir uma canção da qual você gosta, seu cérebro ativa a liberação de dopamina —um dos hormônios relacionados à sensação de bem-estar — no organismo. Para algumas pessoas, essa impressão é intensa a ponto de mimetizar a euforia que ocorre com comportamentos viciantes, como a dependência química. Além disso, músicas com viradas repentinas e mudanças bruscas e surpreendentes no ritmo provocam o mesmo efeito e são associadas a emoções positivas. A quebra das expectativas "assustam" o sistema nervoso autônomo em sua região mais primitiva (o tronco cerebral), produzindo a aceleração cardíaca e uma espécie de "frisson".

empatia; abraço; companheirismo; parceria; casal; amor - iStock/Getty Images - iStock/Getty Images
Imagem: iStock/Getty Images

Ativação da memória e da empatia

Certas músicas despertam lembranças, mas ouvir uma nova canção também atua como um reforço para a memória pelo nível de atenção que exige. Certas letras e melodias também estimulam o nosso senso de empatia ao tentar compreender o que o compositor ou o cantor sentia ao criar tudo aquilo.

jovem com smartphone ouve música fone de ouvido headphone - Andrea Piacquadio / Pexels - Andrea Piacquadio / Pexels
Imagem: Andrea Piacquadio / Pexels

Regulação emocional

O córtex cerebral é o local onde ocorrem as funções cognitivas e o processamento de informação de nível mais elevado. Entre suas funções estão o pensamento, o raciocínio, a memória, a consciência, a atenção, a consciência perceptiva e a linguagem. Estimulado pela música, ele leva a perceber as emoções de um modo mais consistente, atenuar o seu peso e a dar significado para elas. Isso vale tanto para a tristeza quanto para a alegria. Em outras palavras, a pessoa reage de uma forma mais saudável e menos impulsiva ao sentimento que está vivenciando. Sob certas circunstâncias, a música ajuda a refletir e a compreender melhor o que se passa internamente.

rapaz descansa na poltrona, relaxando, rapaz feliz, descansando, homem relaxando - Thinkstock - Thinkstock
Imagem: Thinkstock

Poder desestressante

Realizar atividades tidas como chatas ou extenuantes ao som da batida favorita pode ser algo menos enfadonho. No caso de um faxina pesada em casa, por exemplo, vira até uma ação divertida. A música ainda alivia o tédio e o cansaço de viagens longas.

Mulher dançando, rebolar, rebolando - CarlosDavid.org/Getty Images/iStockphoto - CarlosDavid.org/Getty Images/iStockphoto
Imagem: CarlosDavid.org/Getty Images/iStockphoto

Antecipação de alegria

Esperar pelo refrão ou pelo trecho mais intenso de música ativa um circuito de antecipação, quebra e resolução de expectativas que dispara a liberação de dopamina em todo o nosso corpo. Com a companhia de outras pessoas, então, o sentimento de deleite é ainda mais forte.

Bebê dançando - iStock - iStock
Imagem: iStock

Desenvolvimento do cérebro

Incentivar o apreço das crianças por ouvir música ou aprender a tocar um instrumento proporciona estímulos a diferentes áreas cerebrais, promovendo a plasticidade cerebral —que consiste na capacidade do nosso cérebro de modificar, criar novas conexões ou gerar novos neurônios. Outros benefícios são o estimulo à aprendizagem e à retenção de novas informações.

Mindfulness - iStock - iStock
Imagem: iStock

Viver o presente

Segundo especialistas, a música nos auxilia na prática do mindfulness, que é a capacidade humana de estar no momento presente sem julgamentos, críticas, apegos etc. Essa prática é benéfica para o controle de estresse.

Mulher de Peixes ouvindo música Alto Astral - alvarez/Getty Images - alvarez/Getty Images
Imagem: alvarez/Getty Images

Terapia de saúde

A musicoterapia é a utilização da música e de experiências musicais para a promoção da saúde, aprendizagem, reabilitação, expressão e melhora da comunicação. Nas consultas, o musicoterapeuta incentiva o paciente a se expressar através de uma canção, um improviso, ou até tocando algum instrumento musical.

O método ajuda a melhorar as frequências cardíacas e respiratórias e a pressão de pacientes portadores de doença arterial coronária e auxilia em transtornos neurológicos como o AVC (Acidente Vascular Cerebral). Pessoas com Alzheimer e outros tipos de doenças neurodegenerativas também são beneficiadas, pois o tratamento faz com que tenham certa ativação neural.

Fontes: Gabriela Malzyner, psicóloga, psicanalista e professora do curso de formação em psicanálise do CEP (Centro de Estudos Psicanalíticos); Giovanna C. da Silva Balzer, musicoterapeuta e psicopedagoga do NUPA (Núcleo Paranaense de Recuperação Motora Cognitiva e Comportamental); Luiz Scocca, psiquiatra pelo IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e membro da APA (Associação Americana de Psiquiatria); Marco Antonio Abud, psiquiatra assistente do Hospital Universitário da USP, integrante do corpo clínico do Hospital Samaritano e do Hospital Israelita Albert Einstein, e criador do canal "Saúde da Mente" no YouTube; Sandra Tambara, psicóloga clínica, de Sorocaba (SP); William Rezende do Carmo, neurologista, chefe de equipe no Hospital Sírio Libanês e no Hospital Israelita Albert Einstein Albert Einstein e fundador da clínica Regenerati, na capital paulista.