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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Responsabilidade afetiva é essencial para relações saudáveis; saiba o que é

Getty Images
Imagem: Getty Images

Simone Cunha

Colaboração para o VivaBem

08/01/2021 04h00

Resumo da notícia

  • A responsabilidade afetiva surge com o intuito de manter aberto um canal de comunicação e respeito
  • Ela deve pautar qualquer relação --amizade, trabalho, família-- em que se estabelece um convívio de afetividade
  • É importante refletir sobre como estabelecer vínculos mais saudáveis baseados numa honestidade amorosa
  • O exercício da empatia é um bom termômetro para saber se estamos colocando a responsabilidade afetiva em prática

Embora o assunto não seja tema de estudos acadêmicos, despertar a necessidade para relacionamentos interpessoais mais respeitosos e saudáveis vem ganhando ibope. Há quem não aguente mais relações que geram dúvidas e angústia, e é aí que entra a responsabilidade afetiva, que surge com o intuito de manter aberto um canal de comunicação e respeito.

Ela nada mais é do que o "jogar limpo" com o outro, de forma honesta, porém respeitosa. Na prática, seria deixar claro para o "crush" que, apesar de o beijo ter sido muito bom, você está em busca de relações casuais. Ou mostrar àquele amigo seu real interesse e disponibilidade (ou não) em ajuda-lo.

"Dessa forma, pode ser esclarecido para si e para o outro o que cada um querer, deseja, imagina e espera, promovendo um posicionamento franco e respeitoso diante dessa relação", explica Paulo Eduardo R. A. Evangelista, professor adjunto do Departamento de Psicologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Como você percebeu, ter responsabilidade afetiva não se limita apenas aos relacionamentos amorosos. Ela deve pautar qualquer relação entre duas ou mais pessoas —com amigos, colegas de trabalho ou familiares — em que se estabelece um convívio de afetividade, sinceridade, ponderações, empatia e franqueza.

Infelizmente, ainda temos muito a aprender nesse quesito. No entanto, o fato de o tema estar em evidência já um grande passo. "É importante não apenas se relacionar, mas refletir sobre como estabelecer vínculos mais saudáveis baseados numa honestidade amorosa", afirma a psicóloga Cristiane Boff, doutoranda em psicologia clínica pela PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).

Tudo bem deixar o outro no vácuo --só que não

Para Marcelo Alves dos Santos, psicólogo e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas, as pessoas pouco pensam ou se preocupam com os laços que se estabelecem com o outro, principalmente quem até então elas não conheciam. "As relações fluidas estabelecidas em uma sociedade moderna tendem a dificultar a existência de uma preocupação com os laços afetivos", alerta.

Porém, até mesmo uma aventura de fim de semana merece esse cuidado. "A gente nunca sabe qual impacto pode causar na vida do outro, por isso em qualquer situação vale ter preocupação com afetividade que se estabelece", acrescenta.

Digamos que seja uma atitude gentil e honesta. E mesmo relacionamentos que se convergem em situações de vida profissional e social devem levar consigo a preocupação sobre o que se pode causar nas emoções do outro. Independentemente do vínculo estabelecido, é muito importante não gerar falsas expectativas. "As relações são feitas e desfeitas sem responsabilidade afetiva, basta um bloqueio, uma mensagem não respondida e até o sumiço das redes sociais para dar sinais de que não quer mais", exemplifica Boff.

Tais atitudes podem machucar e até gerar sofrimento no outro. É só pensar: Você gostaria que fizessem o mesmo com você?

Estou no caminho certo?

O exercício da empatia é um bom termômetro para saber se estamos colocando a responsabilidade afetiva em prática. "Você está no caminho certo se não perdeu a sensibilidade e a capacidade empática de entender o sofrimento e angustia do outro, ou se consegue sentir um constrangimento ao efetuar uma ação que afeta ou machuca a outra pessoa", diz Santos.

Claro que, em um mundo ideal, seria muito melhor que houvesse responsabilidade afetiva em todas as relações. No entanto, é possível começar a rever suas atitudes com os mais próximos. Para dar um primeiro passo, observe mais seus relacionamentos. Evangelista sugere notar as situações em que o outro se destaca dos contatos que você já tem, criando uma relação mais particularizada.

Além disso, ele indica perceber se aquela pessoa se sobressai e se você se vê fazendo coisas ao lado dela, pensando nela e identificando um empenho dela em o diferenciar dos demais. "Isso permite que se brote uma relação mais demarcada e exercita a responsabilidade afetiva", diz.

É importante se sentir conectado e responsável, desenvolver a consciência e agir sem manobras, buscando sempre uma comunicação clara e mostrando ao outro o que ele pode esperar de você. "As relações são uma via de mão dupla e não podemos olhar apenas para os nossos interesses. É importante conseguir se vincular de maneira mais saudável e, consequentemente, ter relações melhores", ressalta Larissa Polejack Brambatti, docente do Instituto de Psicologia da UnB (Universidade de Brasília).

Saiba como investir na responsabilidade afetiva

  • Cabe a você fornecer ao outro características mais plausíveis e reais da sua personalidade, pois quanto mais subsídios se oferece ao outro, mais fidedigna será a expectativa dele em relação a você;
  • Franqueza e empatia são ingredientes essenciais para manter um relacionamento responsável e verdadeiro;
  • Zelo e cuidado ajudam a preservar o outro de algum sofrimento motivado pelo envolvimento afetivo criado. Portanto, ética e transparência devem ser alimentadas desde sempre;
  • É importante que haja um esforço para que os termos da relação estejam bem definidos: condições, desejos, expectativas, disponibilidades. Isso ajuda a situar e delimitar até onde cada um pode ir;
  • Preste atenção em suas próprias condutas, prevendo o que do seu comportamento pode repercutir no outro, evitando mágoas e ressentimentos;
  • Saiba como dizer o que se espera do outro, da relação e o que está disposto a oferecer.