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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Em tempos de pandemia, autocompaixão nos ajuda a lidar com as emoções

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Imagem: iStock

Simone Cunha

Colaboração para o VivaBem

11/07/2020 04h00

Resumo da notícia

  • É natural ter dias ruins em que tristeza, medo, irritabilidade ou angústia predominam entre as nossas emoções
  • As nossas estratégias de alívio de estresse e ansiedade foram roubadas como shopping, parque ou happy-hour
  • A melhor maneira de investir em nossa saúde mental é desenvolvendo o acolhimento e o autocuidado
  • A autocompaixão é um exercício importante exigindo disposição emocional para se conectar com o próprio sofrimento

Resiliência, paciência e empatia têm sido essenciais para enfrentar essa fase difícil imposta pela pandemia, no entanto, tais sentimentos nobres não se perpetuam ao longo dos dias e das dificuldades que surgem ao longo da quarentena. Também é natural ter dias ruins em que tristeza, medo, irritabilidade ou angústia predominam entre as nossas emoções. Para Sandileia Pfeiffer, mestranda do programa de pós-graduação em Psicologia da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), derrapar é um processo natural, pois as emoções não podem ser controladas. Por isso ter compaixão consigo mesmo é importante.

Na prática, as emoções podem ser agradáveis ou desagradáveis com um papel protetivo importante, sendo natural senti-las. "É importante lidar de forma menos agressiva com as emoções, sem considerar errado sentir algumas delas como raiva, culpa ou tristeza", reforça Pfeiffer. E nesse período, acolher tais emoções é um desafio importante para minimizar a autocobrança.

Tudo bem não estar bem

A professora Larissa Polejack Brambatti, do Instituto de Psicologia da UnB (Universidade de Brasília) explica que essa oscilação emocional é bastante natural. "Todos estamos vivendo um período de adaptação inesperada, pois não foi uma escolha", afirma a docente. Além disso, as nossas estratégias de alívio de estresse e ansiedade desenvolvidas ao longo da vida foram roubadas de repente como shopping, happy-hour, cafezinho, praia, cinema, academia, parques, entre outros.

"Após um trimestre de isolamento social tivemos que nos adaptar à urgência de se proteger de um inimigo invisível, o novo coronavírus, e a falta de informações confiáveis contribuíram para o aumento da irritabilidade e da ansiedade", justifica a psicóloga Lina Sue Matsumoto, mestre em Ciências pelo IPq do HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Por isso, é fundamental acolher nossos sentimentos e compreender que não estar bem o tempo todo é permitido.

Saiba desenvolver a autocompaixão

"O organismo reage ao que somos expostos e isso é muito maior que nossas escolhas", explica Pfeiffer. Portanto, não adianta cair na armadilha do perfeccionismo e considerar que é necessário manter a saúde emocional estabilizada em tempo integral. "A tentativa de controlar as emoções vai no caminho oposto da inteligência emocional, que considera a importância de conhecer e aceitar as próprias emoções para depois poder gerenciar melhor como elas serão expressas diante do outro", acrescenta Matsumoto.

E a melhor maneira de investir em nossa saúde mental é desenvolvendo o acolhimento e o autocuidado. "Primeiro devemos acolher as nossas dores para depois fazer isso pelos outros", destaca Pfeiffer. E a autocompaixão é um exercício importante nesse momento, e em qualquer outro que demanda desafios, exigindo disposição emocional para se conectar com o próprio sofrimento.

E uma dica preciosa é que, em vez de lutar com a raiva, a tristeza ou o medo, podemos acionar os nossos atributos de autocompaixão e começar a treinar essa habilidade, pois ela pode ser aprendida. "A autocompaixão faz baixar o nosso índice de criticismo, ajuda a reconhecer e trabalhar todos os elementos para se tratar com uma postura bondosa, entendendo que é preciso acolher e cuidar das emoções desagradáveis para saber como lidar com elas, podendo fazer o melhor para aliviar esse sofrimento", diz Pfeiffer.

Livre-se da culpa

Cada um tem sua experiência e está vivenciando a situação atual de acordo com suas convicções e valores. Portanto, não é possível mensurar o sofrimento entre maior ou menor. Ou seja, não é preciso sentir-se culpado por derrapar em alguns dias sendo que há pessoas que não tem o conforto ou as necessidades materiais que você tem. Apenas aceite que todos estão atravessando águas turbulentas em tempos difíceis e juntos, com muito amor, colaboração e compaixão, será possível sobreviver para inventar um novo normal.