Topo

Victor Machado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fazer dieta low carb: sim ou não? Escolhas conscientes vêm em 1º lugar

iStock
Imagem: iStock

Colunista do UOL

11/10/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Atualmente, a dieta low carb é tida como uma das mais eficazes quando se trata de emagrecimento, melhora da resistência à insulina e do perfil lipídico. É comum encontrar na literatura cientifica vários artigos comprovando a eficácia dessas dietas no processo da perda de peso e redução da gordura. Entretanto, não se tem tantas evidências assim para definir o que de fato é uma dieta low carb.

Muitos vão dizer que se trata de comer menos que 40% de carboidratos de todo o consumo diário, outros definem que low carb significa comer menos que 130 g de carboidratos por dia. Às vezes pode se tratar simplesmente de reduzir o consumo diário de carboidratos sem um número específico, até porque existem pessoas de diferentes tamanhos e pesos, então definir que todos os adeptos da low carb devem comer menos que 130 g de carboidrato acaba não fazendo muito sentido.

Nas dietas low carb encontradas na internet algo muito comum é a atenção ao índice glicêmico e também alguns alimentos que são permitidos e proibidos. Dentre os permitidos, estão as frutas —com cautela—, proteínas magras, vegetais e gorduras boas. Em relação aos alimentos proibidos, estão presentes os açúcares, cereais, frutas secas e farinhas em geral como tapioca e pão branco.

A verdade é que tratar um alimento como permitido ou proibido gera uma dicotomia alimentar, em que existe alimento do bem e do mal. Para uma pessoa que precisa resolver questões emocionais, comer algo fora do que é permitido aumenta a sua frustração, gera uma sensação de fracasso e muitas vezes esse sentimento é seguido de um comer exagerado como forma de aliviar o sentimento de culpa, transformando isso em um ciclo vicioso com a alimentação.

A ideia do texto não é entrar nos aspectos fisiológicos da low carb, mas fazer uma reflexão dos impactos que ela pode gerar na vida de uma pessoa. Entenda que quando se fala em privação de algum alimento, isso não precisa se restringir a fisiologia e a nutrição, mas pode ser um conceito expandido para a mente humana.

Privar o ser humano de algo, seja comida, sexo, sono, descanso, boas conversas, pode descompensar ou gerar exageros em outras esferas da vida. Portanto, seria muito mais simples pensar em low carb como algo pontual.

Como fica a vida daquela pessoa que desde a infância come pão francês no café da manhã? Será que a privação desse alimento para ela se encaixar em uma dieta é o melhor dos caminhos?

Por isso é importante entender qual o significado que os alimentos tem na vida de alguém. Outra coisa seria avaliar como está o consumo de pão de uma pessoa... Suponhamos que você coma pão em quantidades exageradas em todas as suas refeições, então seria interessante reduzir o consumo desse pão e adicionar outros alimentos no lugar como estratégia para melhorar o consumo de outros nutrientes. Nesse caso, não necessariamente você fez uma low carb, apenas melhorou o seu padrão alimentar.

No ponto de vista do movimento low carb, pode-se observar que o mesmo se iniciou por volta dos anos 60 com o médico americano Robert Atkins. Nos EUA, há vários alimentos com baixas quantidades de carboidratos, além de vários outros protocolos low carb, mas ainda assim continua sendo o país com maior índice de obesidade do planeta.

Então ficar rotulando uma dieta ideal para todo mundo parece não estar funcionando muito bem. Ao contrário da Itália, que é o terceiro país mais magro do mundo, comendo carboidratos normalmente sem colocar um rótulo na sua alimentação. Imagine você convidando um italiano para fazer uma low carb...

A verdade é que comer de tudo, mas não tudo, com quantidades equilibradas, é o que de fato se torna algo sustentável para a saúde.

O texto não se resume a dizer que devemos comer carboidratos em quantidades exageradas ou trocar todas as refeições por açúcar e farinha branca. Porém, melhorar o padrão alimentar, aprender a não proibir os alimentos, saber fazer escolhas saudáveis e conscientes é mais importante do que ficar preso em uma dieta específica fingindo ser um estilo de vida.