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Preciso comer carboidratos para queimar gorduras? Entenda essa relação

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Nathalie Ayres

Colaboração para o VivaBem

26/07/2021 04h00

Quando se pensa em dietas para perda de peso, há hoje um movimento cada vez mais direcionado para métodos como low carb, dieta cetogênica e outras formas de regime que reduzem a ingestão de carboidratos. E aí há quem diga que o carboidrato é imprescindível para o funcionamento do corpo, inclusive a queima de gordura: é como se o primeiro fosse a "chama" que consome a segunda. Mas será mesmo?

Toda essa história começa nas nossas células (mais especificamente nas mitocôndrias, você se lembra delas das aulas de biologia?), onde oxigênio e nutrientes que consumimos são convertidos em ATP (adenosina trifosfato), a molécula que constitui a principal forma de energia do corpo. Normalmente a ATP é produzida em um processo bioquímico celular chamado ciclo de Krebs.

"Na principal via metabólica de fornecimento de energia para o nosso organismo, que envolve o ciclo de Krebs, a glicólise [série de reações que extrai energia da glicose] ocorre na matriz da mitocôndria, liberando moléculas de ATP e outros substratos essenciais para o gasto de energia pelas células", diz a endocrinologista Cynthia Valerio, membro da diretoria da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica). Por isso ela é considerada a "chama" que alimenta todo o nosso processo energético", diz.

Então, de fato, a glicose é importante para a realização desse processo. Mas seria a única?

"Chamas" de gordura e de proteínas

Valerio explica que em algumas situações, quando o organismo já utilizou suas reservas de glicose e não houve ingestão adequada ou suficiente de carboidratos, o organismo pode sim utilizar as reservas de gordura (ácidos graxos) ou proteínas (aminoácidos) para gerar energia para as células. "Esse processo é denominado gliconeogênese e trata-se de uma forma também eficiente do organismo produzir energia a partir de fontes que não sejam de carboidratos ou quando exposto a situações de jejum um pouco mais prolongado, por exemplo", explica a especialista.

pão de forma integral, alimentos com fibras - iStock - iStock
Gorduras queimam numa chama de aminoácidos, carboidratos e gorduras, quando em déficit calórico
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O nutricionista Felipe Almeida, pós-graduado em bioquímica e fisiologia da nutrição e professor de cursos de aprimoramento para nutricionistas, explica com mais detalhes: "Aminoácidos também servem como intermediários do ciclo de Krebs, formando tanto citrato quanto oxaloacetato, logo, podemos usar proteínas como geradores de intermediários do ciclo de Krebs", considera.

Já as gorduras costumam formar no fígado os famosos corpos cetônicos, que, de acordo com ele, são usados como intermediários desse ciclo em outros órgãos do corpo, como os músculos, cérebro e a adrenal (glândulas suprarrenais).

No entanto, a glicose sempre será a fonte de energia de preferência do corpo, e o uso adequado dos aminoácidos e ácidos graxos para esse fim só vai acontecer de forma eficiente se houver um déficit calórico. "Nessas situações, em vez de o corpo usar todo o carboidrato para gerar energia, ele vai usar uma quantidade para manter órgãos que são dependentes da glicose e usar outros substratos para gerar energia. No caso, o objetivo é que se use a gordura, e não a proteína, para formação de glicose e energia", ressalta a nutricionista Amanda Marcuartú, professora colaboradora da Lismiuc da Unama (Liga Interdisciplinar em Saúde da Mulher e da Criança da Universidade da Amazônia) e orientadora no grupo de pesquisa da FSCM-PA (Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará).

Mas o que tudo isso significa?

Na prática, uma dieta eficiente ainda é muito mais determinada pela clássica matemática: gastar mais do que você consome. Mesmo a famosa cetose (espécie de queima da gordura induzida pelo corte radical nos carboidratos) da dieta cetogênica não é um processo que dura para sempre. "Passada a fase inicial da cetose, o principal componente responsável pela eficácia destas dietas ainda é o déficit calórico total", alerta Valerio.

Mas, além de tudo isso, é importante lembrar que cada pessoa é um organismo único. "Muitas vezes nós vamos tentar uma coisa que bioquimicamente funciona para a maioria das pessoas, só que para aquela pessoa não vai funcionar. Então a gente vai ter que trabalhar com tentativa e erro, sempre visando a saúde do paciente, lembrando que não vale qualquer coisa pelo emagrecimento", ressalta Marcuartú.

Além disso, de nada adianta utilizar esse tipo de estratégia se o paciente não se adapta a ela. "Em resumo: dieta boa é aquela dieta equilibrada do ponto de vista nutricional e a que o paciente consegue ter boa adesão. Uma vez alcançado o déficit calórico necessário, é importante que o processo seja sustentável", finaliza Valerio.