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Rico Vasconcelos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Variante mais virulenta de HIV não deve ser motivo de desespero

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

11/02/2022 04h00

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Depois de dois anos de pandemia de covid-19, a palavra "variante" tem tirado o sono de boa parte da população mundial. Esse deve ter sido um dos motivos para o alvoroço na última semana que uma notícia causou sobre uma nova variante de HIV identificada na Holanda. Assim, achei melhor explicar aqui de forma mais compreensível o que essa notícia significa e como ela pode influenciar na sua vida.

Em primeiro lugar, precisamos entender que o surgimento de variantes virais é um fenômeno comum e esperado dentro da virologia. Elas são resultantes do processo de replicação dos vírus. Imaginem que quando um determinado vírus está produzindo novas cópias suas, às vezes pode acontecer de o material genético (DNA ou RNA) de uma delas não ficar exatamente igual aos genes do modelo original. A cópia diferente é o que chamamos de uma variante viral.

Na maioria das vezes, as variações genéticas não são capazes de causar grandes mudanças no funcionamento do vírus por alterar muito pouco a configuração das proteínas virais codificadas por esses genes.

No entanto, se essas mutações modificarem substancialmente uma proteína que tem função importante para esse vírus, é possível que ele passe a ter melhor capacidade de infectar novas células, de se replicar ou ainda de escapar dos mecanismos de defesa da nossa imunidade. Quando isso acontece, dizemos que a variação genética tornou o vírus mais virulento.

A notícia em questão, fonte de todo o alarde da última semana, trazia informações sobre um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, publicado no início de fevereiro na revista científica Science.

Depois de analisar um extenso banco de dados com informações sobre pacientes infectados recentemente por HIV em países da Europa e África, foram encontrados 17 indivíduos que tinham cargas virais de HIV em seu sangue muito mais altas que os demais. O sequenciamento genético desses vírus identificou uma variante até então desconhecida do HIV com mais de 300 mutações genéticas.

Depois dos primeiros 17 casos, foram encontrados ao todo 109 indivíduos com a mesma variante no banco de pacientes estudados, praticamente todos eles habitantes da Holanda. O que chamou a atenção dos pesquisadores foi que devido às cargas virais mais altas, o vírus destruía as células de defesa dos indivíduos infectados mais rapidamente provocando uma progressão mais rápida da doença para a Aids.

No caso da infecção por HIV, as cargas virais mais altas no sangue significam que essa variante é também transmitida mais facilmente por via sexual. Isso teoricamente poderia causar uma rápida disseminação dessa variante pelo mundo, no entanto os pesquisadores estimam que o surgimento dessas mutações deve ter sido em torno de 1998 e agora, 24 anos depois, foram encontrados apenas esses casos dentro de um grupo de mais de 6.700 pacientes estudados.

Uma hipótese para a não disseminação maior dessa variante é que, apesar de ser mais virulenta, todos os métodos de prevenção, diagnóstico e tratamento continuam funcionando para essa cepa viral. No final da década de 1990, o mundo viu a ampliação do acesso à terapia antirretroviral, fazendo com que as pessoas infectadas atingissem cargas virais indetectáveis e deixassem de transmitir seus vírus por via sexual mesmo que não fosse utilizado o preservativo nas suas relações.

Em resumo, variantes virais sempre poderão surgir. Essa variante encontrada na Holanda poderia ter causado um verdadeiro estrago se não fossem os métodos de prevenção e tratamento disponíveis.

Para ajudar a controlar a sua disseminação, tenha uma rotina de testagem do HIV e encontre os métodos de prevenção que se encaixam na sua vida. Se você já vive com HIV, mantenha seu acompanhamento médico em dia, tomando adequadamente seu antirretroviral e desfrute de uma vida com qualidade e saúde.