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Rico Vasconcelos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

EUA indicam dose extra de vacina de covid-19 em pessoas que vivem com HIV

Vacinação contra a covid-19 na Filadélfia, nos Estados Unidos - Hannah Beier/Reuters
Vacinação contra a covid-19 na Filadélfia, nos Estados Unidos Imagem: Hannah Beier/Reuters

Colunista do UOL

20/08/2021 04h00

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Na última semana, a diretora do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) do Estados Unidos, Rochelle P. Walensky, informou que o órgão norte-americano passou a recomendar uma terceira dose da vacina contra a covid-19 para as pessoas que têm alguma condição médica que diminua de forma moderada ou grave a sua imunidade.

A declaração chegou no meio de uma discussão crescente nos últimos dias sobre a necessidade da aplicação de doses adicionais de vacinas contra o coronavírus e em que subgrupos.

Segundo Walensky, a emenda na autorização do uso emergencial dessas vacinas é um importante passo para garantir que todas as pessoas, incluindo aquelas mais vulneráveis à covid-19, possam usufruir do máximo de proteção possível obtida por meio da vacinação.

O documento do CDC argumenta que dados recentes têm demonstrado que, em pessoas com algum acometimento na imunidade, a proteção induzida pelo esquema tradicional de vacinação com 2 doses nem sempre é comparável a aquela atingida entre imunocompetentes.

Além disso, já há trabalhos indicando que uma parte importante dos pacientes internados em surtos recentes de covid-19 eram pessoas imunodeprimidas já com a vacinação completa, e que quando infectados, indivíduos imunocomprometidos têm maior risco de transmissão do Sars-CoV-2 às pessoas com quem convivem.

Ainda que sejam uma parcela pequena da população mundial, hoje compreendemos que pessoas com alguma condição clínica que enfraquece sua imunidade estão sob maior risco de desenvolver formas mais graves de covid-19.

Podem ser incluídos nessa categoria os receptores de transplantes de órgão sólido ou de medula óssea, pessoas com infecção por HIV avançada ou não tratada, pessoas em tratamento para câncer e aqueles que fazem uso de alguma medicação imunossupressora, como por exemplo o uso prolongado e em altas doses de corticoide sistêmico.

O CDC enfatiza que por enquanto não recomenda dose adicional da vacina em nenhuma outra situação, e que aqueles que receberem a terceira dose deve continuar atentos às medidas comportamentais de prevenção do coronavírus, como o uso de máscaras e o distanciamento social.

Essa recomendação vale somente para esquemas de vacinação com a tecnologia de RNA mensageiro (Pfizer ou Moderna) e a dose extra deve ser administrada a partir de 4 semanas depois da segunda.

Os Estados Unidos enfrentam nas últimas semanas uma explosão nos novos casos de covid-19, a maioria deles entre pessoas saudáveis não vacinadas. Com a disseminação da variante delta pelo planeta, a baixa cobertura populacional da vacinação completa se torna um problema, uma vez que essa variante apresenta maior transmissibilidade e não é protegida adequadamente com a vacinação incompleta.

Por enquanto a dose adicional da vacina será aplicada apenas nos Estados Unidos, com o objetivo de proteger os mais vulneráveis às formas graves da covid-19, mas essa ação joga luz sobre um assunto que devemos aqui começar a debater, de forma cientificamente embasada, desde já.

No Brasil temos apenas 24% da população completamente vacinada. Ainda que estejamos com um bom ritmo de crescimento da aplicação das doses, temos menos da metade dos quase 51% dos Estados Unidos.

Escolher bem o braço de quem vai receber as poucas doses de vacinas disponíveis é fundamental nesse momento. Administrar doses extras em pessoas que não precisam, de acordo com os estudos, não só não vai ter efeito real na redução dos casos graves da doença, como vai também retardar a ampliação da cobertura vacinal completa no país.