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Paulo Chaccur

REPORTAGEM

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Coração pode ficar maior? Hipertensão, droga e exercício podem ser causas

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Colunista do UOL

25/09/2022 04h00

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"Ele tem um coração enorme". Provavelmente você já ouviu essa frase, dita para elencar alguém generoso ou bondoso. Mas e se pararmos para pensar no significado literal dela, será que faz sentido? A resposta é sim. Nosso coração, por razões diversas, pode aumentar de tamanho e ganhar proporções bem acima do normal, condição que recebe o nome de cardiomegalia. Porém, nesse caso ter um coração grande está bem longe de ser um elogio!

Para dar dimensão ao que estamos falando aqui, de modo geral, o coração de um adulto pesa entre 200 e 425 gramas e é um pouco maior do que o tamanho do nosso punho. Um exemplo recente de cardiomegalia relatada é a do baterista da banda Foo Fighters, Taylor Hawkins.

Segundo os médicos do Instituto Médico Legal da Colômbia, quando veio a óbito, o coração de Hawkins estava com cerca de 600 gramas, praticamente duas vezes maior do que deveria.

E por que isso acontece?

Assim como no caso do baterista do Foo Fighters, o consumo de drogas é apontado como uma das causas do problema. Devido ao seu poder estimulante, boa parte dos entorpecentes promove a liberação de hormônios de excitação e a aceleração do metabolismo, favorecendo o aumento da pressão, dos batimentos cardíacos e a vasoconstrição, cenário que passa a exigir um trabalho extra do órgão.

Se recorrente, com o tempo isso pode provocar o enfraquecimento da musculatura cardíaca e sérios danos a partir daí. Porém, não são só as drogas as vilãs nessa história. De modo geral, qualquer situação que faça o coração trabalhar com mais força ou intensidade constantemente pode provocar esse aumento do órgão.

Ou seja, a cardiomegalia é um indicador de uma condição que está colocando tensão excessiva ao músculo cardíaco, tornando mais difícil para o coração bombear sangue para o corpo.

Outras causas

Pressão alta, hipertensão arterial, medindo a pressão - iStock - iStock
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Esse aumento pode ocorrer ainda em consequência de uma hipertensão sem controle, por alterações das válvulas cardíacas, obstruções nas artérias que irrigam o órgão (como a doença arterial coronariana), arritmias e cardiomiopatias. Em alguns casos, o coração também aumenta devido a um problema subjacente a ele.

O fato é que muitos processos podem causar essa dilatação, inclusive aqueles sem relação direta ou tão evidente, como anemia, gravidez, artrite reumatoide, insuficiência renal, infecções bacterianas, virais e causadas por outros agentes (como a doença de Chagas), desordens da tireoide (hipertireoidismo e hipotireoidismo) e doenças pulmonares.

Às vezes o coração fica maior e se torna enfraquecido até por razões desconhecidas —condição chamada de cardiomiopatia idiopática.

Maior, porém, mais fraco

O coração dilatado pode ser uma questão temporária ou permanente, dependendo da causa. Além disso, é possível que a cardiomegalia acometa todo o órgão ou apenas parte dele. Em casos de pressão alta nas artérias dos pulmões (hipertensão pulmonar), o coração tem que trabalhar mais para mover o sangue entre ele e o pulmão, tensão que leva a um engrossamento ou aumento de seu lado direito.

Outro quadro para ilustrar: quando há excesso de ferro no corpo (hemocromatose), o mineral pode acumular em vários órgãos, incluindo o coração, que passa a apresentar inchaço em sua câmara esquerda.

Porém, para efeito comparativo, assim como os músculos dos braços ou pernas ficam maiores e mais fortes quando são estimulados em uma atividade, o coração também aumenta quando trabalha mais.

Entretanto, ao contrário dos músculos citados, nem sempre ele melhora seu rendimento. Pelo contrário: apesar de aumentar de tamanho, pode ter sua função debilitada. Na grande maioria dos casos, o músculo cardíaco perde força —o que pode acarretar problemas sérios.

Consequências

O risco de complicações depende da parte do coração afetada e da causa. Entre as principais consequências podemos incluir a insuficiência cardíaca, que ocorre se a câmara inferior esquerda do coração (ventrículo esquerdo) dilata.

O órgão passa então a não bombear a quantidade adequada de sangue para o corpo. Além disso, o aumento do coração pode impedir o fechamento das válvulas mitral e tricúspide, fazendo com que o sangue "vaze" para trás. Essa interrupção cria o chamado sopro cardíaco, que embora não seja necessariamente prejudicial, deve ser monitorado.

Outro cenário preocupante é da possível formação de coágulos de sangue no revestimento do órgão. Um coágulo que se forma no lado direito do coração pode se deslocar até os pulmões (causando uma embolia pulmonar), bloquear o fluxo sanguíneo na artéria do coração (coronária) ou ainda na artéria cerebral, provocando um infarto ou AVC (acidente vascular cerebral).

Coração de atleta

Correr na chuva, corrida - iStock - iStock
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Excepcionalmente, o aumento pode ser considerado positivo: particularmente entre atletas profissionais e de elite, o coração tende a ficar maior em resposta a exercícios frequentes e prolongados. É uma adaptação fisiológica que ocorre quando realizamos um treinamento físico frequente.

O músculo cardíaco sofre alterações estruturais e funcionais benignas na medida em que é mais solicitado para certas atividades. É o que chamamos de "coração de atleta".

No entanto, apesar do aumento de tamanho, nesses casos suas funcionalidades se mantêm intactas. Na verdade, podemos dizer que o "coração de atleta" é até mais eficiente do que de uma pessoa sedentária, uma vez que passa por essa adaptação com o objetivo de melhorar sua performance de funcionamento. Situações assim, mesmo que "normais", devem ter sempre o acompanhamento de um especialista.

Diagnóstico e tratamentos

Em algumas pessoas, a cardiomegalia não causa sintomas. Outras podem experimentar tonturas, edemas (inchaços, especialmente nas pernas, pés ou abdome), fadiga ou cansaço anormal, falta de ar no esforço ou mesmo em repouso, desmaios, insuficiência renal associada e palpitações.

Exames de imagem permitem mensurar o tamanho do coração, mas não conseguem apontar a causa pela qual o órgão está aumentado, o que exige uma investigação mais detalhada para identificar a raiz do problema. A partir do diagnóstico é possível definir o tratamento, que pode incluir mudanças no estilo de vida, medicamentos, um procedimento minimamente invasivo ou uma cirurgia.

No caso de uma cardiomegalia crônica, embora a questão possa não desaparecer, na grande maioria dos casos é possível monitorar e administrar a condição. O importante é buscar uma avaliação médica ao notar algo diferente e manter em dia os cuidados com a saúde do coração e o check-up cardiológico, independentemente de qualquer indício.

Além disso, ao ter consciência de alguém na família que já teve ou tem cardiomegalia, a recomendação é investigar. Quando se trata do coração, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem prevenir ou impedir o agravamento e danos mais sérios.