Topo

Ageless

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Endometriose na menopausa: o que mulheres precisam saber

iStock
Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

10/03/2023 08h27

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Março é o Mês de Conscientização da Endometriose, quando acontece a campanha Março Amarelo. A doença afeta uma em cada dez mulheres. Essas mulheres costumam passar décadas enfrentando cólicas lancinantes, dores durante o sexo e infertilidade.

A endometriose é uma condição de saúde em que o endométrio, tecido que reveste o útero, cresce e se acumula fora do órgão, na cavidade abdominal. Os fragmentos vão parar no ovário, nas trompas e até em regiões vizinhas. Principalmente em cima de nervos, e por isso causam tanta dor. Muitas mulheres enfrentam uma vida toda de sangramentos intensos e problemas de fertilidade, entre outros sintomas.

Esse tecido da endometriose responde aos hormônios femininos, assim como o revestimento do útero. Ele se acumula e se decompõe a cada mês —só que não pode sair do corpo através da vagina. Pode parecer lógico que quando os períodos menstruais terminam, na menopausa, a endometriose também cessaria. Mas nem sempre é o caso.

Conversei com a ginecologista Isabela Barboza, especialista em endometriose e cirurgia robótica e Coordenadora da Ginecologia do Hospital 9 de Julho (SP), para entender como a doença afeta as mulheres no climatério.

É possível desenvolver endometriose na menopausa se a mulher não teve antes?
"Muitas vezes a endometriose é descoberta já com a mulher mais velha, até na menopausa, mas com certeza ela já tinha as lesões antes e provavelmente não foram diagnosticadas", diz a médica. Sendo uma doença dependente dos hormônios femininos, ela costuma acometer as mulheres mais jovens quando ela ainda tem o ciclo menstrual.

O diagnóstico depende de exames como ultrassom transvaginal e ressonância magnética, por exemplo, que não são exames de rotina nas mulheres, por isso há mulheres que passam a vida sem saber o que têm.

A perimenopausa (quando a mulher já apresenta sintomas do climatério, mas ainda segue menstruando, o que pode durar vários anos antes do fim da menstruação), segundo Isabela, pode ser um momento mais delicado porque nessa fase a mulher ainda tem uma flutuação hormonal, provocando os sintomas de endometriose.

A endometriose vai embora então com a menopausa?
"Muito se fala que depois que a gente para de menstruar, não tem mais endometriose. Mas a verdade é que não temos a doença inflamatória, ativa. Mas se a mulher tem lesões de endometriose, ela tem a doença na pelve, mas pode ficar assintomática, sem dor."

Na maior parte dos casos, isso significa que os sintomas diminuem ou podem até deixar de existir. "Mas, mesmo assim, há mulheres que podem ainda ter dor. Porque depois de ter dor a vida toda, podem ter contratura de assoalho pélvico, muscular, podem desenvolver até vaginismo, que é dor na penetração."

Como tratar a mulher com endometriose na menopausa?
"Hoje em dia não existe um tratamento solo da endometriose. Quando ainda existe uma flutuação hormonal e a mulher ainda tiver dor nessa fase, se estiver menstruando, mas já com um ciclo hormonal irregular, podemos usar, por exemplo, um DIU com hormônio (Mirena) ou algum tratamento hormonal. Não é só um tratamento hormonal que a gente faz. É importante fazer uma dieta anti-inflamatória, atividade física, controle de estresse, tudo isso é ainda mais desafiador nesse período da perimenopausa."

Segundo Isabela, caso a mulher ainda tenha dores residuais causadas por contraturas no assoalho pélvico, uma fisioterapia para a região pode ser indicada.

Existem riscos para a mulher que tem endometriose na pós-menopausa?
"Se não houver lesões de alça intestinal que possa obstruir o intestino, ou alguma lesão que cause compressão no ureter, por exemplo, ou se forem apenas fibroses sem dor, é muito difícil que haja uma evolução disso."

Segundo a médica, se as lesões estiverem em algum local mais arriscado, é possível fazer uma cirurgia para retirá-las.

Mulheres com endometriose podem fazer reposição hormonal na menopausa?
Não existe contraindicação para a reposição nesse caso. "Mas é aquela paciente que a gente tem que ficar prestando mais atenção nos sintomas. Se ela começar a ter dor com a reposição, precisamos fazer exames de imagem para ver se não há evolução de algum foco da endometriose, por exemplo", diz a médica. Ou seja, as mulheres podem fazer, mas precisam de um acompanhamento médico mais atento.