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Dia Internacional da Mulher: o medo domina o cotidiano das mulheres no Afeganistão

As mulheres afegãs participam de um protesto em Shahr-e Naw em Cabul, em 16 de dezembro de 2021, exigindo do governo Talibã o direito à educação, ao emprego e à representação política. - WAKIL KOHSAR/ AFP
As mulheres afegãs participam de um protesto em Shahr-e Naw em Cabul, em 16 de dezembro de 2021, exigindo do governo Talibã o direito à educação, ao emprego e à representação política. Imagem: WAKIL KOHSAR/ AFP

08/03/2022 11h11

A vida cotidiana das mulheres afegãs mudou muito desde que o Talibã assumiu o poder em 15 de agosto de 2021. Os fundamentalistas religiosos restringiram os direitos das mulheres, substituíram o Ministério de Assuntos da Mulher por um para a promoção da virtude e a supressão do vício. As mulheres vivem com medo e, quando são militantes, como fugitivas.

Da correspondente RFI em Islamabad, Sonia Feghali

"Justiça! Estamos cansadas de viver enclausuradas", entoava um grupo de ativistas feministas nas ruas de Cabul há alguns meses. Várias delas foram presas pelo Talibã e detidas por vários dias antes de serem libertadas.

Uma militante que conseguiu não ser presa concordou em falar com a RFI. Sua identidade foi mantida em sigilo por razões de segurança. "Elas me disseram que foram bem tratadas pelo Talibã, mas dizem que seu estado psicológico e sua saúde mental não estão nada bem. Elas dizem que mesmo estando livres, elas ainda se sentem como se estivessem na prisão. Isso sugere que elas tenham sofrido maus-tratos do Talibã."

A única ativista que concordou em falar com a reportagem da RFI explica que vive como uma fugitiva. "Meu moral não está bom. Não posso sair, não posso trabalhar, não estou segura em casa. Já faz mais de um mês que nao saio. Eu mudo constantemente de endereço, também tenho me escondido em outras províncias."

A vida das mulheres não vale nada

Elas continuam a fazer campanha pelos direitos das mulheres, mas evitam a rua e se encontram em apartamentos cujos endereços mantêm em segredo, e filmam seus encontros. "Comida! Trabalho! Justiça!", bradam. "Liberdade, pois somos seres humanos!".

Nas ruas de Cabul, são raras as mulheres que, como antes, deixam mechas de cabelo escapar dos véus. Algumas ainda se atrevem a pichar frases feministas nas paredes da capital, correndo o risco de serem presas.

A vida das mulheres afegãs mudou desde que o Talibã assumiu o poder. Elas são banidas da vida política e muitas universidades e escolas de ensino médio ainda estão fechadas para estudantes do sexo feminino. As mulheres devem ser acompanhadas por um moharram, um acompanhante da família.

Saba, uma jornalista de 23 anos de Cabul, diz que nunca se sentiu tão vulnerável. Ela mora sozinha com a irmã de 22 anos. "Nunca me senti tão frágil assim. Na semana passada, minha irmã foi para a província de Zabul com meu tio materno para pegar seu passaporte. Eles se recusaram a entregar o documento a ela porque não havia pai ou irmão junto", explica Saba. "E me sinto fraca porque não posso fazer nada para ajudar minha irmã. Nosso pai está morto e nosso irmão é muito jovem, ele é menor de idade. O que eu vejo é que a vida das mulheres não importa para essas pessoas, elas nem nos consideram seres humanos."