'Tive um parto normal e uma cesárea no mesmo dia, na 25ª semana'

"Foi um processo muito complicado engravidar. Fiz várias tentativas frustrantes. Lembro que tentávamos de tudo o que escutamos das pessoas ou vimos na internet. É incrível como existem mil e umas táticas para engravidar, uma mais interessante que a outra. É engraçado.

Quando deu positivo, estava tão cansada de fazer testes e dar negativo que saí do banheiro correndo e joguei o teste no meu marido. Estávamos em tal ponto de estresse que, a cada negativo, um culpava o outro. Mas tudo mudou. Eu me senti muito acolhida, principalmente quando descobrimos que eram gêmeos. Todos achavam incrível a novidade e eram muitas perguntas sobre como era a sensação, se na nossa família tinham gêmeos, se havíamos feito tratamento... Eu estava extremamente feliz e realizada.

Passei por várias situações difíceis. O pior foi quando recebemos o resultado da minha tomografia e foi constatado que eu estava com uma bactéria no pulmão e que somente 30% deles estavam funcionando. Eu ali temi por minha vida e pela dos meus filhos. Trabalhei até as 24 semanas, quando descobrimos que eu estava com pneumonia. Aí entrei em trabalho de parto ativo por nove dias. Acho que foram tantas contrações que meu corpo já estava anestesiado. Eu tive vários edemas pelo corpo, incluindo nas partes íntimas, devido a alta concentração de líquidos que eu tomava para manter meu corpo hidratado. Tive escaras nas costas, fiz muitos exames e tomei medicamentos de hora em hora.

Acho que nunca tive tanta fé. Mesmo estando debilitada ao extremo, sabia que sairíamos todos de lá juntos. E assim foi. Eu pensava que meu corpo precisava estar forte, vivo, para que os bebês ficassem ali na minha barriga o máximo de tempo possível. Conversava muito com eles ainda na barriga pedindo calma e que eles esperassem mais um pouquinho.

Meu parto foi uma cena de filme: eu estava na UTI, em um aparelho respiratório chamado CPAP, que trabalha com pressão positiva — só quem já usou sabe a tortura. Meu esposo tinha tido pela primeira a liberação da assistente social para dormir comigo na UTI, mas depois de quase dez dias sem dormir, ao chegar lá ele apagou. Tentei chamar a enfermagem pela campainha, mas ela caiu e eu não conseguia me mexer para pegar. Tentei tirar a máscara do CPAP mas eu não tinha forças. Foram 40 minutos assim, até que a fisioterapeuta voltou para retirar minha máscara e logo chamou a equipe médica. Eles iam nascer.

Segundos depois, já estávamos no centro cirúrgico e enquanto me passavam de uma maca para a outra a Maria nasceu de parto normal. Nesse meio tempo, aplicaram a anestesia, porque o Caíque já estava em sofrimento fetal. Eu só escutava a médica gritar que já tinha um bebê na sala e que tinha que abrir para tirar o outro. Mas a anestesia não tinha pegado e eu senti um calor horrível entrar pela minha barriga — era o corte da cesárea. Ali, eu apaguei.

Após o parto, fui encaminhada em coma induzido para a UTI para o tratamento da pneumonia e para o meu corpo se recuperar de todo o trauma. A médica havia dito ao meu marido que demoraria alguns dias para que eu acordasse. Mas em menos de um dia em coma, acordei. Estava amarrada na cama para que eu não me extubasse e vi meu marido, minha sogra e minha mãe no quarto, porque era horário de visita. Eles me disseram que as crianças estavam bem, vi fotos deles e voltei a apagar. Saí da UTI cinco dias depois e pude conhecer os gêmeos. E aí foram longos 98 dias de UTI neonatal. Hoje, os dois têm 11 anos e estão ótimos.

Quando penso em tudo isso, me lembro do quanto sou forte. É um misto de emoções que começa a subir do estômago para a garganta. Depois do que passei, sei que posso qualquer coisa. A gente não sabe a força que tem até precisarmos dela. Quando você se torna mãe, desde o primeiro dia com seu bebê em seu ventre, começa a ganhar mais força até se tornar na heroína de alguém. Hoje sou heroína de dois e é inexplicável sentir tanto amor."

Maylla Martins Veiga, 35 anos, personal organizer, mãe de Maria Beatriz e Caique Levy, 11 anos

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