'Odiei a gravidez, mas encarei duas e hoje sou bem feliz sendo mãe'

"Foi horrível descobrir que eu estava grávida. Eu não tinha plano nenhum de ser mãe na época e tomava pílula de baixa dosagem para não sofrer muito com hormônios. Quando esquecia, tomava a do dia seguinte. O problema é que às vezes eu nem percebia que esquecia e, numa dessas, engravidei.

Eu sentia muito enjoo, da hora que acordava até a hora em que ia dormir. Acho que, até por isso, eu dormia bastante. Pra mim, isso era tudo sinal de que eu estava abortando. Mas no ultrassom, vi uma minipessoa com cabeça, braços e pernas e coração explodindo, batendo bem forte. Me olhei no espelho e falei: 'Não sei como, mas você vai ter um filho'.

Durante todo o tempo, me sentia sozinha, com inveja das pessoas livres, enjoada e deprimida. Fui a primeira do meu círculo de amigas a engravidar, então ninguém me puxou e falou a verdade antes: gravidez pode ser muito ruim. Eu só via fotos lindas e mulheres felizes e sorridentes, enquanto eu tinha muito enjoo, uma prisão de ventre absurda e hemorroidas. Minha pele estava empipocada, os peitos, doloridos, urinava involuntariamente, sentia um sono absurdo e tinha muita dificuldade de concentração. As pessoas até me acolhiam, mas eu me sentia muito sozinha porque estava detestando o processo e ninguém podia entender esse sentimento. Hoje, todas as amigas já tiveram filhos e me agradecem por eu ter dito o que sentia de verdade, sem disfarçar.

A única situação agradável para mim foi sentir o Guilherme mexer pela primeira vez. Hoje, olhando pra trás, eu me reconheço como severamente deprimida, porque estava apática.

Marina, grávida de Guilherme: odiou a gravidez
Marina, grávida de Guilherme: odiou a gravidez Imagem: Acervo pessoal

O mais difícil foi me sentir doente por 40 semanas — a prisão de ventre era a mais humilhante das sensações. Inchei muito, minha narina rachou, minha pressão oscilava e eu ganhei 30 kg.

Eu trabalhava desenhando e produzindo cenários para uma empresa evangélica e ali eu caminhava muito, porque o lugar era muito grande. Toda vez em que eu dizia que estava difícil para mim, ouvia algo como: 'você está pagando pelos pecados de Eva'. Era quase como 'você merece sofrer'. Todo mundo fazia eu me sentir na obrigação de estar amando a gravidez.

Tinha medo de não dar conta quando ele nascesse, mas minha gestação foi muito saudável para o bebê. Não houve intercorrências e ele realmente queria muito vir. Enquanto isso eu comia e dormia — eram as coisas que me davam prazer — e pensava que uma hora acaba. Realmente acaba. Olhando para trás, a gravidez é um ponto na linha, totalmente irrelevante perto do que é a maternidade. Mas quando você está vivendo aquilo, é difícil de entender isso.

No fim, tinha dificuldade de andar, de me mexer e muita azia.

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Na hora do parto, eu estava até animada pensando que a gravidez ia terminar. Encomendei 150 pães de mel, sendo que convidei poucas pessoas para me visitar na maternidade. O médico ficou conversando comigo e colocou Britney Spears, minha cantora favorita, para tocar.

Sou eternamente grata a ele por isso. Ouvi que, na hora de parir, você se apaixona por alguém na sala de parto: eu estava pronta para casar com o anestesista que cantava 'Oops!... I Did It Again', era animado e ria de tudo que eu falava. Ninguém nunca me disse nada sobre o parto, eu não sabia que existia a possibilidade de fazer cocô quando faz força, por exemplo. Sim, isso acontece. Fiz muita força e Guilherme veio com 4,6 kg: um bebezão. Chorei muito e choro de novo lembrando, porque é catártico demais. Ele todo melecado no meu colo, eu o beijando e sentindo os dedinhos da mão. Que sensação mais inexplicável!

Hoje penso que deveria ter ido a um psiquiatra no começo da gravidez. O que eu falo para consolar quem está passando mal como eu é que não parece, mas acaba. Não lembro, nem penso na gravidez nunca. Mesmo tendo estrias na barriga, sou bem feliz sendo mãe hoje e passaria por isso de novo — tanto que tive o segundo filho. Mas agora chega.

É importante que a gente não tente controlar o que não consegue. É bom tentar zerar essa carga de culpa que botam na gente. Você pode ser uma excelente mãe e será, mesmo odiando a gravidez. Ah, e para quem quiser parto normal, eu digo: faça musculação nas pernas porque tem que ter força, viu? Quem quer cesárea agendada não tem que ficar ouvindo críticas de quem quer ter parto normal.

O mesmo vale para quem quer viver a experiência natural: não escutar tanto palpite de quem só cogita a cesárea. Só você está grávida do seu filho, mais ninguém. Então ninguém tem o direito de dizer nada ou falar o que você tem que acreditar. Se escutar e fazer terapia ajuda bem mais do que enxoval. Nada melhor do que ser uma nova mãe terapeutizada do que ser uma mãe com a cabeça toda insegura, mas com o armário cheio de roupinhas."

Marina Vaz, 36 anos, empresária, mãe de Guilherme, 8, e Théo, 5

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