Mel Lisboa: 'Meu filho nasceu aparentemente morto, reagiu e ficou bem logo'

"As minhas duas gravidezes foram desejadas, mas a primeira foi um certo susto porque apesar de eu e o pai dos meus filhos estarmos muito apaixonados, nos conhecíamos havia pouco tempo. A gente queria muito que acontecesse, mas não achávamos que seria tão rápido.

Depois, tive uma gravidez ectópica e fiquei um pouco chateada. Queria muito ter outro filho. Tive que retirar a tuba e minha fertilidade caiu 50%. Além disso, descobri um princípio de endometriose. Mas, mesmo com todos esses poréns, o médico sugeriu que eu tentasse engravidar logo. Funcionou: em pouco tempo eu estava grávida.

Cada uma delas foi diferente. O Bernardo era mais quietinho, a Clarice se mexia muito e eu tinha um filho aqui fora já. No dele, eu demorei para entrar em trabalho de parto. Já ela, nasceu duas semanas antes do previsto.

No final da gestação, começa uma fase de muita expectativa e ansiedade. Eu acordava muito, queria que ele nascesse de qualquer jeito. Mas por outro lado, a gente sabe que, depois que nascer, enfrentará uma mudança na vida para sempre. Essa mistura de sentimentos e falta de controle das emoções e hormônios faz com que não tenhamos total consciência daquilo que está acontecendo. É natural que nós tenhamos pensamentos muito conflitantes.

Não sinto que tive tantas questões na gravidez, mas o mais complicado foi no parto do Bernardo. Estava com contrações havia muito tempo e quando finalmente dilatou, começou o expulsivo. Mas ele se enrolou várias vezes no cordão, sem que percebêssemos, e travou no canal. Tivemos que partir para uma cesárea de emergência. Quando ele nasceu, ganhou a nota Apgar 2 — estava aparentemente morto. Mas respondeu rápido aos estímulos e, por ser muito saudável, ficou bem logo, sem sequelas. O meu segundo parto foi normal, depois de três anos e meio.

Durante a gravidez, o puerpério e no desenvolvimento da própria maternidade, muita gente fala muita coisa para as mulheres. É natural se sentir um pouco perdida: querer ouvir os conselhos, mas não da maneira como são dados. É importante respeitar as mulheres na individualidade delas e em suas escolhas e cuidar para não tentar ajudar de maneira muito invasiva. Esse momento de perinatalidade, da gravidez, do parto e do pós-parto, é uma fase muito particular e por muitas vezes senti que estava sendo invadida.

Eu olho pra trás e penso que faria algumas coisas diferentes, mas procuro pensar que é o que eu podia fazer naquela época. Essas fases passam. Aí chega a adolescência, que é a fase em que eu estou com meus filhos, e vêm outros problemas.

Penso que estar bem informada é a melhor forma de se proteger da vulnerabilidade em que a gente se encontra para saber o que está acontecendo e fazer as escolhas que são melhores para todos. Quanto mais informação, mais protegida a gente fica."

Mel Lisboa, atriz, 42, mãe de Bernardo, 15, e Clarice, 11

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