'Achei que havia algo de errado comigo no sexo, mas aprendi como gozar'
Não consegue gozar com penetração? Acontece com muitas mulheres — e não há, necessariamente, nada de errado nisso. O importante é ter prazer. E entender que sexo vai muito além de pênis e vagina.
A Universa, a estudante Maria Eduarda Tenório, de 27 anos, conta como descobriu o prazer expandindo seus conceitos sobre o sexo.
"Há dez anos, minha geração não tinha tanto contato com esse universo do sexo. Na minha casa, sempre teve muito pudor. Minha mãe, por exemplo, nunca conversou comigo sobre sexo. Até hoje ela não sabe como foi nem com quem eu perdi a virgindade.
Fui ao ginecologista pela primeira vez sozinha. Era um tabu na família. E tive minha primeira relação sexual aos 17 anos. Não foi com um namorado: era uma pessoa com quem eu saía.
No início da minha vida sexual, achava que sexo era o homem penetrar, se satisfazer e pronto. Não tinha orientação de alguém mais experiente, e minhas amigas eram quase todas da minha idade, tinham as mesmas dúvidas que eu.
Ficava pensando: "será que é só isso mesmo? Será que sexo se resume a isso?" Depois de muitas tentativas frustradas de conseguir um orgasmo por meio da penetração, veio outro parceiro que me fez descobrir que não era só aquilo.
Com ele, a relação foi com muito estímulo clitoriano (o clitóris é considerado o órgão do prazer feminino). Ele fazia muito sexo oral e falei: "Caramba. Era isso o que estava faltando".
Comecei a pesquisar e a entender mais sobre meu corpo. Os vibradores foram um ponto crucial. Eles me ajudaram a me estimular e a ter ideia de como e onde sentia mais prazer
Antes, me questionava se eu estava fazendo algo de errado por falta de experiência. Não tinha o hábito de me tocar, me conhecer. Depois dessa relação, com esse estímulo do sexo oral e por meio de toys, aconteceu a mudança de chave.
Hoje minhas relações não estão mais baseadas na penetração, apesar de também ter aprendido a gostar."
Sem culpa
Relatos parecidos com os de Maria Eduarda são comuns no consultório da sexóloga Bárbara Bastos. Ela estima que 8 em cada 10 mulheres que atende não conseguem gozar apenas com a penetração.
Segundo a especialista, há até culpa em admitir que o orgasmo é possível — e até mais fácil — fora do que é considerado por muitos como o "ato sexual" (a penetração do pênis na vagina).
Isso ocorre principalmente, segundo Bárbara, com as mulheres que ainda não têm o costume de se tocar.
Muitas mulheres têm a ideia de que sexo é penetração e ponto. Fora disso, são preliminares, carícia, chamego, qualquer coisa, menos sexo
Bárbara Bastos, sexóloga
Ela explica que o prazer sem penetração tem relação com a anatomia do corpo feminino.
"O canal vaginal, biologicamente falando, é para descer um bebê. Imagina se ele tivesse tantas terminações nervosas. Seria impossível parir por ali", diz Bárbara.
Já o clitóris tem dez mil terminações nervosas e, quando estimulado da maneira certa, é onde a mulher sente mais prazer
Bárbara Bastos, sexóloga
Para que as mulheres sintam prazer também na penetração e alcancem ao orgasmo, segundo Bárbara, é importante que conheçam o próprio corpo e testem movimentos e posições.
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