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Artista na Netflix e 3 faculdades: quem é a única rainha no poder que sobra

Rainha Margarida 2ª - Morten Abrahamsen
Rainha Margarida 2ª Imagem: Morten Abrahamsen

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL

19/09/2022 04h00

A rainha Margarida 2ª, da Dinamarca, tornou-se a única mulher monarca reinante no mundo após a morte de Elizabeth 2ª, na quinta-feira (8), na Escócia.

Hoje com 82 anos, a dinamarquesa assumiu o trono em 1972, depois da morte do pai, o rei Frederico 9º, cujo reinado durou pouco mais de duas décadas.

Filha mais velha do então príncipe herdeiro, Margarida só ocuparia o posto de primeira rainha do país graças a uma lei, aprovada por referendo em 1953, garantir às mulheres o direito de sucessão. Antes disso, apenas homens poderiam ascender ao reinado dinamarquês.

A mudança ocorreu porque Frederico 9º e a esposa, Ingrid, não tinham em sua prole nenhum herdeiro do sexo masculino —as filhas eram Margarida, Benedita e Ana Maria, que já havia sido rainha da Grécia, onde se casou com Constantino 2º, primo em terceiro grau.

Margarida, por sua vez, foi casada com Henrique Maria João André, um plebeu que, embora tenha virado príncipe, não escondia a insatisfação por jamais ter recebido o título de rei consorte.

Permaneceram juntos por quase 50 anos até a morte dele, em 2018. Da união nasceram o príncipe herdeiro Frederico, que tem 54 anos, e o príncipe Joaquim, 53.

No ato de coroação, a primogênita fez um discurso emocionado do alto de uma varanda do Palácio Real em Copenhague.

"Meu querido pai, nosso rei, está morto. A tarefa que o meu pai levou por quase 25 anos agora descansará sobre meus ombros. Rogo a Deus que me ajude e dê-me força para prosseguir o pesado legado. E que possa confiar o que fora confiado a meu pai também a mim", disse ela, na ocasião, diante de uma praça lotada.

Amalienborg é uma das residências oficiais da família real dinamarquesa. O complexo é composto por quatro palácios —dois deles abertos ao público. A troca diária da guarda atrai centenas de espectadores.

Poliglota e apaixonada por artes

O currículo acadêmico de Margarida é vasto e inclui ao menos três graduações em instituições renomadas.

Tudo começou quando ela foi aprovada no exame de filosofia na Universidade de Copenhague, em 1960, mas não prosseguiu.

Anos depois, porém, formou-se em arqueologia pré-histórica na Universidade de Cambridge.

Posteriormente, estudou ciências políticas em Aarhus, a segunda universidade dinamarquesa, e economia na London School of Economics (Escola de Economia de Londres).

Além do idioma natal, a monarca fala francês, sueco, inglês e alemão.

Pintura, ilustração de livros, aquarelas, gravuras, desenhos e bordados estão entre as predileções artísticas de Margarida 2ª.

Não à toa, teve muitos de seus trabalhos expostos em museus da Dinamarca e em outros países.

Cenógrafa da Netflix

No ano passado, Margarida foi contratada pela Netflix para fazer parte da produção de "Ehrengard", romance dinamarquês inspirado em livro homônimo da baronesa —e igualmente dinamarquesa— Karen Blixen.

A rainha foi responsável pela cenografia do longa-metragem, anunciado oficialmente no fim de agosto.

"As histórias de Karen Blixen sempre me fascinaram, com seus contos estéticos, sua imaginação e seus, para mim, mundos de criação de imagens. Eu tentei interpretar o universo fantástico de Blixen no desenvolvimento das découpages e figurinos, e estou ansiosa para ver a história de Ehrengard ganhar vida no filme", declarou ela sobre o trabalho.

Anteriormente, ela já havia sido designer de produção no filme "Wild Swans", de 2009, e no curta-metragem "A Rainha da Neve", nos anos 2000.

Com um extenso trabalho na área, a monarca passou a ser membro honorário da Associação de Cenógrafos Dinamarqueses.

A atuação na plataforma de filmes, contudo, não é o primeiro trabalho de Margarida fora da realeza.

Em 2021, a rainha ilustrou posters para edições dinamarquesas de "O Senhor dos Anéis".

Entre hobbies e deveres oficiais, ela também promove ações de caridade em favor instituições ligadas a questões sociais, à política exterior, à investigação científica, à saúde, à ajuda humanitária, à sustentabilidade e ao meio ambiente.

A monarca também é comandante-chefe das Forças Armadas dinamarquesas.

Em abril, Margarida festejou com a família seu 82º aniversário no Palácio de Marselisborg, sua residência de verão, em Aarhus, costa dinamarquesa.

Naquela ocasião, a Casa Real divulgou uma foto em que a monarca aparece sorridente na varanda e acena para pessoas que a aguardavam e aplaudiam do lado de fora do palácio.

Mesmo com a idade avançada, Margarida não dá sinais de que vá abrir mão da coroa e repassá-la em vida ao filho mais velho, o príncipe Frederico. Em entrevistas a veículos da imprensa dinamarquesa, costuma repetir que "a missão de ser rainha é para a vida toda".

Visita ao Brasil

Em 1999, Margarida 2ª esteve no Brasil em sua única visita oficial ao país. Ao lado da atriz Fernanda Montenegro, a rainha assistiu ao filme "Central do Brasil", produção nacional indicada ao Oscar. Recebida pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, ela foi condecorada com o colar da Ordem do Cruzeiro do Sul em solenidade no Palácio do Planalto, em Brasília.

Em retribuição, concedeu ao chefe do Executivo federal a medalha grã-cruz da Ordem do Elefante —a mais alta e mais antiga honraria do Reino da Dinamarca.

O périplo dela em solo brasileiro incluiu visitas aos estados de São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná.

Comemorações de cinquentenário reduzidas

A última onda da pandemia obrigou a rainha dinamarquesa a adiar eventos comemorativos dos 50 anos de reinado, que ocorreriam em janeiro e acabaram remarcados para o fim de semana passado.

Com a confirmação da morte da rainha Elizabeth, Margarida externou pesar ao rei Charles 3º e determinou que as celebrações fossem reduzidas.

Na noite de domingo (11), promoveu um discreto jantar de gala no Castelo de Christiansborg, para o qual foram convidados membros da família real e algumas poucas autoridades.