Por que as rainhas da Inglaterra são mais lembradas do que os reis?
As rainhas Elizabeth 1ª, Vitoria e Elizabeth 2ª têm em comum mais do que o fato de serem mulheres que reinaram em uma grande nação, a Inglaterra. Elas passaram de nomes pouco prováveis à sucessão do trono a monarcas que entraram para a história por suas habilidades políticas e êxito no que diz respeito à expansão e manutenção do poder do país, superando a maioria dos homens que ocuparam o posto de reis —desde o ano 900, foram 62 pessoas ocupando o trono, sendo seis delas mulheres.
Essas três rainhas foram, cada uma em seu tempo, responsáveis por garantir que a nação despontasse como grande potência imperialista e, por isso, seus nomes são mais lembrados do que o dos homens até hoje, segundo Carolina Galdino, doutora e mestre em Relações Internacionais pela Unesp (Universidade Estadual Paulista).
As três viveram cenários em que o papel da mulher não cabia demonstrações públicas de poder, mas isso era ainda pior para as duas primeiras, que governaram entre os séculos 16 e 20. Por isso, suas histórias são ainda mais marcantes. "Nós temos que levar em consideração todas as resistências pelas quais Elizabeth 1ª teve que passar no que se refere a articulação do seu poder, fazendo parte de um conselho fundamentalmente formado por homens, diferentemente do protagonismo exercido pela Elizabeth 2ª", ressalta Carolina.
Elizabeth 1ª, que reinou entre 1533 e 1603, chegou a ser considerada filha ilegítima do rei Henrique 8º e, depois de reverter a situação, assumiu seu lugar na linha sucessória do trono. Coroada, foi quem alçou a Inglaterra a sua Era de Ouro, "quando o país tem um período de progresso territorial significativo", explica Carolina.
"Ela teve diversas vitórias militares, o que acaba configurando como um elemento de grande valia para esse reinado, além do protagonismo no cenário naval, fazendo com que a nação de fato crescesse de forma exponencial naquele momento", diz.
Duzentos anos depois, veio a rainha Vitória, aumentando o domínio pelo território inglês, sobretudo nas colônias da África. Seu reinado, de tão marcante, deu nome ao período entre 1837 e 1901, conhecido com Era Vitoriana.
Para Carolina, a habilidade política da rainha Vitória foi tão importante quanto a da Elizabeth 1ª justamente pelo fato de fazer com que a Inglaterra conseguisse assumir um posicionamento relevante na arena internacional.
"Mas, embora esse posicionamento tenha sido relevante fazendo com que outras nações estivessem submetidas a seu poder, não podemos romantizar a supressão da liberdade de outros povos", pontua. "É importante ressaltar, portanto, que outras rainhas no continente africano e asiático, por exemplo, lideraram a resistência contra o colonialismo, algo que é muito pouco difundido", destaca.
Uma das referências da luta anticolonialista é a rainha Yaa Asantewaa da nação Ashanti, atual região de Gana, que viveu entre 1840 e 1921 e manteve forte resistência contra as investidas britânicas no continente africano. Assim como Ndaté Yalla, a monarca do Senegal, viva entre 1810 e 1860, lutou contra os franceses.
A rainha Vitória foi coroada após a morte do seu tio, o primeiro na linha de sucessão, e Elizabeth 2ª chegou ao trono de maneira parecida: assumindo o lugar do irmão do pai que abdicou da coroa para se casar com uma socialite norte-americana. Ambas tiveram os reinados mais longos da história e sustentaram 64 e 70 anos de poder, respectivamente.
Elizabeth 2º fez o povo voltar a se sentir súdito
Além de uma série de problemas familiares que ganharam repercussão em todo o mundo, a Segunda Guerra Mundial e o pós-guerra estão entre as adversidades com as quais Elizabeth 2ª teve que lidar durante seu reinado. Fatores que, segundo a especialista, não foram suficientes para minar sua permanência como principal nome da coroa britânica.
"A rainha Elizabeth 2ª conseguiu trazer para a população uma essência de importância de sua monarquia, e de um protagonismo mundial no sentido de um reconhecimento global da sua atuação. Ela conseguiu manter mais do que a coesão do seu reinado, mas o reconhecimento do mesmo", destaca Carolina.
Na década de 1980, ainda que tivessem discordâncias ideológicas, as duas pessoas mais poderosas da Inglaterra eram mulheres: a ex-primeira-ministra Margaret Thatcher e a rainha Elizabeth 2ª. "Não podemos deixar de considerar o quão importante foi ter esse protagonismo", diz a especialista.
Diferentemente das outras rainhas, Elizabeth 2ª vivenciou, estando no trono, as principais revoluções feministas do último século e viu acontecer avanços importantes, como os relacionados à inserção das mulheres no mercado de trabalho.
Apesar de se reafirmar em um posicionamento apolítico, na prática, a monarca estabeleceu um salário maior para as mulheres que trabalhavam para ela, com uma diferença de 8,3% em relação aos homens, segundo um relatório divulgado pela Comissão de Igualdades e Direitos Humanos do Reino Unido.
"Ainda que a rainha não tenha se manifestado diretamente com relação a esses temas, ela os presenciou, o que é um fato extremamente importante", destaca Carolina.
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