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Influencer fala sobre aborto espontâneo: "Me senti culpada"

Juliana Franceschi - @jujufranceschi/reprodução Instagram
Juliana Franceschi Imagem: @jujufranceschi/reprodução Instagram

Rebecca Vettore

Colaboração para Universa, de São Paulo

17/07/2022 16h34

Ontem (16), a influenciadora e jornalista Juliana Franceschi, casada com Rafael Piva, fez um relato sobre o aborto espontâneo que sofreu no ano passado. A criadora de conteúdo carioca, atualmente com 37 anos, contou para seus seguidores que naquele dia fazia exatamente um ano do dia em descobriu que estava grávida de Bento.

"Eu tô chorando, mas eu tô ok. Eu não estou triste. Eu só sinto uma saudade mesmo. Não sei explicar muito bem. É igual um eco no coração só que eu grito e ele não grita de volta, sabe?", declarou Juliana.

Mesmo com medo de mostrar seus sentimentos, a jornalista quis compartilhar aquele momento com as outras mulheres que também passaram pela mesma situação. De acordo com a nova pesquisa da revista médica The Lancet, cerca de 23 milhões de gestações em todo o mundo terminam em aborto espontâneo a cada ano - isso é 15% do total ou 44 a cada minuto.

A Universa conversou com Juliana e conta a seguir um pouco mais sobre o que ela viveu.

"Parecia que tinha falhado em algo que mulher deveria fazer"

Juliana e o marido já tinham planos de serem pais, quando ela descobriu a gravidez no ano passado. Mas não imaginavam que seria tão rápido. "Eu usei diu por 16 anos e fui orientada pelo meu médico para tirar, para meu organismo voltar ao lugar. Mas um mês depois, nem tive menstruação e descobri a gravidez", conta a jornalista.

Com o endométrio bem fino, devido ao uso duradouro do diu, e por sofrer de lúpus (doença onde o sistema imunológico do corpo ataca os tecidos, órgãos e fetos), a gravidez desde o início foi considerada de risco. Para que o bebê se desenvolvesse de uma forma mais tranquila, o médico receitou hormônios e vitaminas, repouso e injeções de anticoagulante, e tudo foi seguido à risca.

Quatro meses depois, em um exame de rotina, descobriram através do ultrassom que o bebê havia morrido e ela tinha tido um aborto retido. Por isso, Juliana precisou passar por um processo médico para tirar Bento. "Não senti falta de empatia do hospital, porque estava em momento de dor e fiquei durante muito tempo em uma sala junto com grávidas e bebês, não eu não queria que ninguém tivesse filhos, mas pela sensação de perder um filho, ver aquilo tudo ao meu redor me deixou triste porque não era mais a minha realidade", relata Juliana.

Depois da descoberta, o primeiro pensamento que veio a sua mente foi: "O que fiz de errado? Me senti culpada pela perda. Eu senti até vergonha, parecia que tinha fracassado em algo, que se subentende que a mulher nasça para fazer diante da sociedade. Me perguntei se deveria ter feito mais repouso, se tinha esquecido de tomar algum remédio e fiz tudo certo. Todas as mulheres que falaram comigo sobre aborto, me disseram a mesma coisa, que sentiam culpadas por não ter dado certo", diz a carioca.

Mesmo mostrando vulnerabilidade e dor, Juliana ouviu muitas opiniões indiferentes e sem empatia sobre o que ela estava passando: disseram que engravidar era fácil, para não sofrer por aquilo porque tinham coisas muito piores, que era melhor perder agora do que depois, etc.

O casal está planejando ter, em algum momento, um filho biológico e um filho adotivo.

Precisamos falar sobre o assunto

Mais do que nunca, a jornalista acredita que as mulheres precisam se reconhecer na dor do outro. "Eu só consegui ser efetivamente amparada e acolhida quando falei com pessoas que tinham passado por isso. Quem não tinha vivido o que vivi, ou me olhava com dó ou banalizava o que tinha acontecido", diz Juliana.

"A partir do momento que você descobre a gravidez, você é mãe. Meu filho tinha nome, eu ia começar a montar o quarto, não é algo simples para uma mãe perder o filho. Acredito que não falar sobre isso é continuar promovendo esse desconforto e falta de reflexão do ser humano."