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'Após ser discriminada nos EUA, ganhei prêmio por ajudar mulheres no país'

A psicóloga e terapeuta feminina Cris Linnares foi reconhecida por projeto que ajudava mulheres nos EUA - Carolina Rodrigues/Divulgação
A psicóloga e terapeuta feminina Cris Linnares foi reconhecida por projeto que ajudava mulheres nos EUA Imagem: Carolina Rodrigues/Divulgação

Cléo Francisco

Colaboração para Universa, de São Paulo

01/06/2022 04h00

"Conheci meu atual marido, Billy, em janeiro de 2005, durante uma viagem a Los Angeles. Nos casamos em agosto. Eu falava em inglês com ele mas, com outras pessoas, tinha medo, era insegura. Me mudei para a cidade de Fargo, na Dakota do Norte. Na hora em que começava a querer conversar comigo, o coração acelerava, eu não conseguia. Me dava pânico quando tinha que interagir com estranhos. Ia com meu marido para um evento, meu coração disparava e eu não dizia nada, ficava quieta. Descobri que sofria de ansiedade crônica. Nessas reuniões sociais, minha mão suava e ia me esconder no banheiro.

Depois de seis meses vivendo nos Estados Unidos com Billy, meu pai morreu. Ele era o grande amor da minha vida. Junto disso, tive depressão pós-parto, engordei 45 quilos e meu casamento começou a ir mal. Minha terapeuta disse que nunca tinha visto uma paciente passar por tantos lutos na vida: de nação, trabalho, família, amigos, corpo. Ela me indicou antidepressivos. Também fazia terapia de casal com Billy.

Comecei a estudar uma forma para sair desse estado de insegurança. Encontrei a resposta no poder da dança, o que comecei a fazer diariamente por um período. A experiência resultou no Diva Dance, uma técnica que criei e que usa a dança como elemento para o autoconhecimento. Isso me libertou e me levou para vários países, como França e Inglaterra, para dar palestras. No começo, ainda tinha muito medo de falar, então na primeira vez que palestrei, escrevi um roteiro, como se fosse teatro, e memorizei. Fui estudando inglês e começando a sair do meu casulo.

Vivia em uma região sem diversidade e sofri preconceito por ser latina, uma "mulher de cor". Uma vez, estava em um banheiro, em um evento, e entraram duas americanas falando sobre mim. Uma delas disse: "Você sabe como são as latinas, casa com gringo pra ganhar greencard [visto de imigrante]". Sinto esse preconceito até hoje. Mas a verdade é que consegui meu visto porque provei ter capacidades extraordinárias. Tenho direito de trabalhar nos Estados Unidos por causa dele.

Quando mudei para Fargo, tentei entrar em muitos grupos de mulheres, mas me sentia rejeitada. Tudo isso me ajudou a criar a ONG Women´s Impact, um site no qual mulheres postavam suas necessidades e colocavam e o que poderiam oferecer para ajudar umas às outras. Fazíamos reuniões e criávamos eventos cujas rendas eram revertidas para casos em que havia necessidade de dinheiro. Por exemplo, quando uma mãe que foi para um abrigo com os dois filhos precisava completar uma quantia que pagaria a licença para trabalhar como arquiteta. A ideia era tirar a competitividade do mundo feminino. Uma mulher, quando se permite brilhar, ilumina o caminho de todas.

Fui convidada para falar sobre esse projeto em palestras e me tornei uma voz de inclusão. Quando recebi a ligação da revista "Glamour", em 2015, e me falaram que eu tinha sido eleita uma das 50 heroínas regionais dos EUA, por ter ajudado mulheres, achei que era um trote. Chorei quando me dei conta que era real. No lugar em que me senti mais rejeitada, fui abraçada.

Hoje, organizo treinamentos para grupos de mulheres em empresas americanas, ministro palestras e atendo como terapeuta feminina, individualmente e online. Foco meu trabalho em mulheres líderes e influenciadoras. Também sou autora dos livros "Divas no Divã", lançado depois de montar o espetáculo de mesmo nome que foi um sucesso no início dos anos 2000. Em 2020, lancei o "Doidas no Divã" [Buzz Editora], falando sobre o que passei e superei. Aprendi que não se deve chegar em nenhum lugar mendigando reconhecimento e afeto."