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Caso Marielle e Anderson: quatro anos depois, em que pé está investigação?

Marielle Franco durante sessão na câmara do Rio - Arquivo/Câmara do Rio
Marielle Franco durante sessão na câmara do Rio Imagem: Arquivo/Câmara do Rio

Nathália Geraldo

De Universa

14/03/2022 04h00Atualizada em 14/03/2022 12h05

Há 1.461 dias, a família da vereadora Marielle Franco e a do motorista Anderson Gomes estão à espera de respostas sobre a motivação e os mandantes do assassinato que vitimou a dupla em 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro. A contagem de tempo está no site do Instituto Marielle Franco e também nas redes sociais de pessoas públicas, como a jornalista Eliane Brum e a cartunista Laerte, com o intuito de não deixar que o caso seja esquecido pela Justiça do Rio de Janeiro.

"Mulher, negra, mãe e cria da favela da Maré", como se apresentava, Marielle foi eleita a quinta vereadora mais votada da cidade em 2016. O assassinato da parlamentar em exercício colocou seu nome e, agora, legado, em projeção nacional e internacional: à medida que a sociedade civil ia às ruas repetir palavras de ordem - "Marielle Presente" e "Não seremos silenciadas"—, as investigações chegavam a nomes de acusados. A seguir, acompanhe os últimos acontecimentos em torno do caso.

Morte de Marielle completa quatro anos: cronologia da investigação

  • Março de 2022: MP volta a testemunhas e a celulares
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) volta a ouvir testemunhas, pessoas da família e que trabalhavam com a vereadora, e a analisar informações dos celulares apreendidos durante as apurações.
Segundo nota do órgão enviada para Universa, "nos últimos três meses, o MP colheu novos depoimentos relacionados à segunda fase da investigação que busca apurar os mandantes dos assassinatos".
O Ministério Público também disse que aguarda decisão do Supremo Tribunal Federal sobre recurso do Facebook "contra o compartilhamento de dados de interesse para a investigação". "O MPRJ já havia obtido decisão no STJ que obrigava o Facebook a disponibilizar dados telemáticos considerados importantes para o aprofundamento das investigações sobre os mandantes".
  • Fevereiro de 2021: Decisão por júri popular dos acusados do crime

Em 12 de março de 2019 ocorreu a prisão do sargento reformado da Polícia Ronnie Lessa e do ex-PM Élcio Vieira de Queiroz. A denúncia contra eles foi aceita pelo Tribunal de Justiça do Rio naquele mês. Ronnie Lessa foi apontado como o autor dos disparos, e Élcio, como o condutor do veículo.

O TJ negou o recurso pedido pela defesa dos acusados em fevereiro do ano passado e, com isso, os dois serão submetidos a júri popular. A data ainda não foi definida. Eles negam participação no crime.

  • Julho de 2021: Força-tarefa do Ministério Público

Em julho de 2021, foram anunciados novos promotores de Justiça para a força-tarefa do MPRJ que investiga o duplo assassinato.

A novidade se deu depois da saída voluntária do caso das promotoras de Justiça Simone Sibilio e Letícia Emile. Elas alegaram "interferências externas" para a decisão. A primeira atuou desde a primeira fase e foi responsável pela denúncia oferecida em março de 2019 contra os executores do crime, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz.

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14.jul.2021 - Família de Marielle Franco e Jurema Werneck, da Anistia Internacional, fazem ato simbólico cobrando respostas sobre investigação do caso
Imagem: Lola Ferreira/UOL


Na ocasião, Anielle Franco (na foto acima, no centro) comentou que a saída tirava a esperança, mas que a família continuaria atrás das respostas sobre o mandante do crime.

Questionado pela Folha sobre a mudança, o promotor Bruno Gangoni, coordenador do Gaeco e da força-tarefa, disse neste domingo (13) que "não houve qualquer ruptura nas linhas de investigação". Sobre o tempo que se leva para achar os mandantes, disse que "a identificação do mandante de qualquer homicídio é sempre mais complexa que a do executor. Em se tratando de um crime onde os executores são profissionais, que foram policiais militares, que sabem como se investiga, torna-se ainda mais difícil".

  • Fevereiro de 2022: Troca de delegados

No início de fevereiro, a Polícia Civil confirmou que um quinto delegado ficaria à frente das investigações do crime. A troca de cadeiras, disse a instituição, teve a ver com a promoção do delegado anterior. A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) tem agora o delegado Alexandre Herdy no lugar de Henrique Damasceno, que foi promovido para a diretoria do DGHPP (Departamento-Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa). O Comitê, na ocasião do anúncio, viu a troca com "preocupação".

  • Veja as notícias do dia no UOL News com Fabíola Cidral:

Famílias criam comitê


Em junho do ano passado, o caso passou a ser acompanhado por um grupo formado pelo "Comitê Justiça por Marielle e Anderson", que tem o Instituto Marielle Franco, a vereadora Mônica Benício (PSOL, viúva de Marielle), Agatha Reis (viúva de Anderson) e as organizações Justiça Global, Coalizão Negra por Direitos e Anistia Internacional.

Na quinta-feira (10), o comitê esteve em reunião com Herdy, no Rio. Segundo a advogada Marinete da Silva, mãe de Marielle, em entrevista para Universa, o objetivo do encontro com o novo delegado foi "criar vínculo para que tenhamos informações sobre novidades em relação ao processo".

Quem mandou matar Marielle? E por quê?

Ainda não se sabe por que e quem mandou matar Marielle. A força-tarefa do Ministério Público tenta desvendar quem foi o mandante do crime. Em agosto do ano passado, investigações deram conta de uma ligação de Ronnie Lessa com o ex-vereador do Rio Cristiano Girão. O parlamentar foi preso preventivamente em 2021, sob a acusação de ter participado com Lessa de um duplo homicídio — supostamente de um miliciano rival e esposa — praticado em 2014 na zona oeste do Rio. O MP na ocasião pontuou que a prisão não tinha relação com o caso Marielle e Anderson.

Marcelo Freixo foi às redes sociais na época para pontuar que a prisão poderia ajudar na solução do caso de sua companheira de partido.

"Esse assassinato mostra que Girão e Lessa, o executor de Marielle e Anderson, são parceiros em atividades criminosas. Essa descoberta pode ajudar a entender quem mandou matar Marielle e qual a motivação. Seguiremos firmes na luta por Justiça!".

Outra linha coloca o nome do político Domingos Brazão como suspeito de obstruir as investigações do caso: a colocação foi feita pela ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge em entrevista ao UOL, em 2020. O processo está sob sigilo no Tribunal de Justiça do Rio.

Festival marca os 4 anos

Neste ano, para chamar a população à mobilização pelo caso, o Instituto realizará ações: a principal delas é o "Festival Justiça Por Marielle e Anderson", que acontece nesta segunda-feira (14), no Circo Voador, na Lapa, centro do Rio de Janeiro.

"Nestes quatro anos, passamos pelo luto coletivo, pela luta contra a covid e o negacionismo. Passamos por eleições presidenciais, por eleições municipais e este ano vamos entrar em mais uma disputa eleitoral que irá decidir o futuro da democracia brasileira", diz a nota da instituição. "Estamos aqui, permanecendo de pé, para seguir o legado de Marielle e das mulheres negras, defender as suas memórias, regar as suas sementes e lutar para que não sejamos interrompidas".

Assista ao vídeo produzido por Universa em 2019, um ano após a morte de Marielle, sobre como rosto de vereadora virou sinônimo de luta. "Do Crime ao Ícone":