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"Vizinha barulhenta": elas ouviram queixas por fazer sexo alto demais

Vitória Garcia, 25 anos, diz que sabe que é barulhenta na hora do sexo. - arquivo pessoal
Vitória Garcia, 25 anos, diz que sabe que é barulhenta na hora do sexo. Imagem: arquivo pessoal

Tina Borba

Colaboração para Universa

12/05/2021 04h00

Quem mora em apartamento está cercado de ruídos sobre os quais, na maioria das vezes, não tem controle. Só que às vezes os ruídos são gritos de prazer, gemidos e até uma cama batendo na parede com o movimento de uma relação sexual muito empolgada. Você já se deparou com esses ruídos? Se você não tem uma vizinha barulhenta, ela pode ser você!

Universa conversou com duas "vizinhas barulhentas", Vitória e Fernanda, que contaram as suas experiências com o sexo ruidoso e vizinhos incomodados. E com um criador de conteúdo do Tik Tok, que gravou um vídeo ao ser "o vizinho incomodado" e viralizou na rede social. Mas antes eu, jornalista que escreve essa matéria, também quero compartilhar a minha experiência.

Jato de água pela janela do quarto andar

Tina Borba, 31 anos  - arquivo pessoal - arquivo pessoal
Um vizinho de Tina Borba conseguiu jogar água dentro do apartamento dela enquanto ela transava.
Imagem: arquivo pessoal

Me chamo Tina Borba, tenho 31 anos e moro no quarto andar de um prédio em Porto Alegre (RS). Há 2 anos e meio sou uma das "vizinhas barulhentas" do meu condomínio.

Pelo que eu pude perceber até hoje, tem só mais uma. Mas, ao contrário dos vizinhos que se incomodam, eu fico feliz quando ouço ela, afinal alguém está se dando bem.

Durante o ato sexual eventualmente eu me empolgo com os gemidos, já ouvi gritos como: "Baixa o volume!" ou "eu quero dormir!". Mas até aí tudo bem.

Só que uma noite, antes da quarentena ainda, eu estava com um rapaz, nós estávamos transando. Nesse dia estava muito quente e eu ainda não tinha ar-condicionado, tivemos que deixar a janela e o vidro abertos. De repente, sentimos um jato d'água entrar pela janela, em cima dele - ressalto que eu moro no quarto andar.

Na hora nós paramos na posição em que estávamos, nos olhamos e eu perguntei pra ele: "Isso foi água?", ele disse: "Eu acho que sim". Nós sorrimos e continuamos até que os dois atingissem o clímax.

Depois, entre risos e suor fomos tentar entender como aquilo tinha acontecido. A conclusão que chegamos é que um vizinho do andar de cima pegou uma garrafa pet com água, e fez um movimento de chicote pra baixo: o sortudo conseguiu nos acertar. Nós rimos muito e gritamos um pouco menos nas vezes seguintes. Eu nunca conheci o tal vizinho, felizmente.

"Cala a boca, put@!"

Fernanda Romão, 43 anos, é secretária em um escritório de engenharia e estudante de jornalismo. Atualmente ela mora sozinha em uma casa de fundos e está sem namorado, mas já foi a vizinha barulhenta em alguns prédios.

"A primeira vez que isso aconteceu foi num prédio que eu morava no Leopoldina [bairro da Zona Norte de Porto Alegre]. Eu e um namorado estávamos juntos e do nada a gente só ouviu um grito assim: 'Cala a boca, put@!'.

Eu não me liguei na hora, daí quando terminamos de transar, meu namorado disse: "Eu acho que o vizinho gritou pra nós". É uma coisa que na hora tu não pensa, a gente está se divertindo, aproveitando, eu não fico pensando "ai, tá alto", "não tá", isso nunca me passou pela cabeça. Mas aquele dia, caiu minha ficha de que talvez eu fosse a 'vizinha barulhenta'.

Depois de um tempo, já em outro prédio que tinha portaria, umas três vezes o porteiro interfonou alegando que os vizinhos estavam reclamando do barulho. Mas acho que era porque era um pessoal mais velho. Em uma das vezes, o porteiro interfonou e disse: 'Senhora do 203, os vizinhos estão reclamando do barulho, vou pedir pra senhora diminuir a música'. Foi muito engraçado, porque não tinha música nenhuma. O barulho era de sexo mesmo, mas ele quis ser discreto.

Não sou uma pessoa alucinada de ficar gritando, até porque é de noite, está aquele silêncio... Um pouco é problema da construção mesmo e muito, claro, da mentalidade das pessoas, que tinha que ter um pouco mais de paciência. Não é como se eu fosse ficar de gritaria o dia inteiro, é rápido, não é a noite toda. Aquele vizinho que me chamou de 'p*ta' estava com inveja, isso sim." Fernanda Romão, 43 anos, secretária, de Porto Alegre (RS)

"Pede pra tua namorada ser mais discreta"

Vitória Garcia, 25 anos: desde os 19 escuta reclamações dos vizinhos pelos barulhos que faz durante o sexo. - arquivo pessoal - arquivo pessoal
Vitória Garcia, 25 anos: desde os 19 escuta reclamações dos vizinhos pelos barulhos que faz durante o sexo.
Imagem: arquivo pessoal

Vitória Garcia, 25 anos, é publicitária e líder de equipe em uma empresa de educação corporativa. Atualmente, ela mora com o namorado e pode fazer o barulho que quiser. Eles moram em um apartamento térreo, sem vizinhos dos lados ou em cima. Isso é um alívio, pois desde os 19 anos ela sabe que é barulhenta na hora do sexo.

"Quando eu morava no meu primeiro apartamento, não sabia muito como era ter vizinhos próximos pois sempre tinha morado em casas até então. Daí eu fui morar com o meu namorado da época, e a gente era empolgado, aquela coisa de início de relacionamento. Algumas vezes, ficávamos muito empolgados, principalmente depois de festas.

Nesse apartamento tinha uma janela que dava para uma espécie de poço de luz, todas as janelas do prédio eram voltadas para aquele lugar. Até então eu não sabia, mas descobri depois que dava para ouvir tudo que os moradores falavam quando deixavam a janela aberta, porque ecoava no poço.

A situação, felizmente, aconteceu com o meu namorado, porque se não eu ia ficar muito envergonhada. Uma vizinha abordou ele no corredor e disse: "Fala pra tua namorada pra ela ser um pouquinho mais discreta, porque está dando pra ouvir tudo, e a gente quer dormir".

O que eu achei mais engraçado é que não foi na hora que aconteceu que ela abordou meu namorado, foi num momento aleatório. Encontrou ele e pensou "ah, é contigo mesmo que eu quero falar", como se fosse uma coisa normal abordar pessoas desconhecidas no corredor.

Depois disso eu achava que estava sendo mais discreta. Mas uma vizinha achou de bom tom descer na rua de madrugada pra tocar o interfone do meu apartamento. Eu fiquei apavorada. Não sei como eles identificaram qual era o meu.

Na hora peguei o interfone e fiquei ouvindo em silêncio, pra ver se era comigo mesmo. Porque o interfone era na rua, não tinha portaria, podia ser qualquer coisa. Daí eu comecei a ouvir a vizinha falando com outra pessoa - não sei quem: "Ah isso é um absurdo, que ficam gritando, essa barulheira!" Num dado momento ela disse: "Eu sei que tu ta ouvindo!". Eu desliguei bem devagarinho e me fiz de "muito doida", nunca soube quem era a vizinha, nunca vi a cara dela.

Morei um ano nesse prédio. Mas depois disso tentei ser mais discreta, pois eu sempre pensava "menos, a vizinha deve tá ouvindo".

No prédio em que moro agora, já ouvi o vizinho fazendo sexo do segundo andar algumas vezes. Quando eu ouço, penso "parabéns, acho que tá fazendo um bom trabalho". Acho divertido". Vitória Garcia, 25 anos, publicitária, de Porto Alegre (RS)

Vizinho incomodado viralizou no TikTok

Luis Otavio, 22 anos, é estudante de medicina e criador de conteúdo nas redes sociais. Recentemente ele postou um vídeo no Tik Tok que já tem mais de 320 mil curtidas, cuja legenda é: "Bom dia para quem? Que raiva na moral".

No vídeo ele relata que os vizinhos o acordaram às 2h53 com ruídos sexuais. Para mostrar seu descontentamento com a situação ele colocou um funk bem alto, que começa assim: "Parem de transar / porque eu quero dormir / Tá me incomodando esse barulho aí / Quando for minha vez vocês vão reclamar / E vai ser difícil vocês me aturar".

"Não é a primeira vez que isso acontece. Só que dessa vez estava demais, era de madrugada, eu lembro que eu tava querendo dormir, e eu comecei a ouvir a cama deles batendo na parede. Dá pra ouvir no vídeo. Não tem muito o que a gente fazer, não vou virar pro vizinho e dizer: "Ô, para de transar!".

"Não eram nem gemidos ou gritos, o sexo não era tão escandaloso, o que me incomodou mesmo foi o barulho da cabeceira batendo na parede, por ser parede com parede. Eu sou fã de funk e aí veio o insight. Acabou virando um dos vídeos meus que tem mais curtidas."

Para Luis, o que mais incomodou nem foi o barulho, mas o horário da movimentação: 2 da manhã. "Se fosse no início da quarentena eu ficaria bem indignado, 'pô, eu aqui em isolamento'... dessa vez me veio um sentimento de "eu tô no meu espaço de privacidade, eu preciso de um tempo". Se você quer fazer isso, faz às 22h, de madrugada é punk", diz.

Ele, que mora com o pai e o irmão em Brasília (DF), diz que acha que nunca foi o vizinho barulhento de ninguém. E aproveita para dar uma dica: "depois da experiência com meu vizinho, agora eu tenho cuidado redobrado e coloco uma almofada entre a cama e a parede".