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E depois da vacina? Mulheres falam sobre F.O.D.A., o medo de ter encontros

Thamiris Lima fala de medo de ter date de novo após vacinação síndrome F.O.D.A - Arquivo pessoal
Thamiris Lima fala de medo de ter date de novo após vacinação síndrome F.O.D.A Imagem: Arquivo pessoal

Nathália Geraldo

De Universa

10/02/2021 04h00Atualizada em 06/05/2021 09h25

Se há uma palavra para definir a vida amorosa de parte dos solteiros na pandemia é esta: F.O.D.A. Calma, não é palavrão. Ela é apenas a sigla para "fear of dating again" ("medo de ter um encontro de novo") que o aplicativo de relacionamento Hinge, popular no Reino Unido, cunhou para explicar o sentimento de quem não se sente tão preparado assim para reativar contatinhos - mesmo quando a vacina chegar.

A coluna dos Soltos, de Universa, já explicou que a retomada à pista pode ser feita aos pouquinhos, quando todo mundo estiver imunizado e livre para se relacionar. Mas como lidar com tanto amor guardado por tanto tempo? Como voltar a flertar considerando a pessoa que você se tornou pós-pandemia?

Solteira há quatro anos, a servidora pública Thamiris Lima, 27, admite pertencer ao grupo das pessoas receosas com o rumo que a vida amorosa tomará. Para ela, os contatos já eram mais comuns no mundo virtual, antes mesmo da pandemia, o que pode dificultar os dates pós-isolamento social. "Estamos perdendo a inteligência emocional para conversar com as pessoas, encarar a vulnerabilidade que é encontrar com alguém", analisa.

Thamiris  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Thamiris Lima fala de medo de ter date pós-pandemia
Imagem: Arquivo pessoal

Ter encarado em "uma jornada de autoconhecimento" durante a pandemia, diz Thamiris, também é um fator que pesa para ampliar o medo do encontro. "Percebi que às vezes, quando nos voltamos para dentro, surge uma dificuldade de encontrar pessoas compatíveis com esse modo de vida."

Você quer se relacionar do mesmo modo que antes?

A servidora pública coloca na roda mais duas questões que podem ser comuns aos solteiros no isolamento: até que ponto a vontade de se relacionar é só uma resposta a uma "carência coletiva"? E será que queremos nos expor afetivamente da mesma forma como antes?

Parece que a pandemia fez com que as vulnerabilidades ficassem à flor da pele. Aí me sinto mais exposta, não só em termos de saúde, mas na questão de não querer me machucar nas relações, de ter medo de não haver reciprocidade. Thamiris Lima

A pesquisadora na área de saúde Camila Liberato, 25, conta que teve um date no final de 2020, e se viu tomada pelo medo de encontrar um desconhecido. Afinal, como manter os protocolos de distanciamento social em uma situação de paquera?

"A socialização ficou complexa. A gente fica pensando se a pessoa está se cuidando, como vamos agir, onde vamos nos encontrar", lista. "Se já tínhamos ansiedade para conhecer uma pessoa antes, agora, entram mais fatores."

Para ela, o flerte na pandemia perde parte da naturalidade. Tudo é cercado pela análise do risco. "Temos que redescobrir como lidar, ter jogo de cintura. Antes, era só sentar para tomar um café. Agora, temos que escolher um lugar aberto, decidir se tira ou não a máscara, que distância mantemos. É preciso até abordar a pessoa para perguntar se ela está tendo outros encontros, o que, aliás, deveria ser mais naturalizado."

Sexo: quando corpo quer mas cabeça nega

Se tomar um café já causa uma série de receios, desconfianças e medo, fazer sexo está algumas casas à frente. Então o corpo pode até sinalizar de que é hora de enfrentar o desafio, mas se a mente mostra que isso está longe de acontecer, respeite. Aliás, apesar da pergunta "será que transar/beijar é como andar de bicicleta?" ter virado meme, a gente garante: não, ninguém desaprende a transar por ficar tanto tempo sem a prática.

É o que Thamiris está fazendo. "Nesse tempo, estou mais fechada para algum contato, sexualmente falando. Parece que estou vivendo um celibato, para focar naquilo que eu gostaria de viver depois", comenta. "Tenho dedicado meu tempo para descobrir minha sexualidade e explorar meu prazer. Por isso, não faço questão de conhecer alguém agora. E acho que o nível de exigência nas relações pós-pandemia pode até aumentar", analisa.

Caso você também esteja aproveitando (e com razão!) o tempo sem crushes para explorar o uso de vibradores e outros produtos eróticos para masturbação, saiba que uma coisa não substitui a outra. Aliás, podem ser aproveitadas juntas! "É um medo real de chegar com expectativa de encontrar um produto e ser uma pessoa", brinca Camila. "Ao mesmo tempo, não tem outro jeito de conseguir o contato de pele."

Tem medo do encontro: abra o jogo

A terapeuta de casais Marina Vasconcellos analisa que o medo é um elemento de proteção, mas que, se vivenciado em excesso, pode ter um efeito paralisante. "E tudo que paralisa é preocupante", indica.

Há estratégias para que essa sensação possa ser controlada e os encontros amorosos aconteçam de maneira responsável. "É preciso levar tudo com bom senso. Se a pessoa quer conhecer alguém agora, pode ir a um lugar aberto, um parque, tomando as providências certas, usando máscara. Porque se recusar a ter qualquer contato pode ser um exagero", analisa.

Enquanto você não se sentir segura para sair, aposte em conversas por videochamada, combine atividades em casas separadas e fale abertamente sobre o dilema do "webflerte".

E, do mesmo modo que os recém-separados ainda se sentem meio perdidos quando se abrem para novos relacionamentos, os receosos de encontros pós-pandemia contam com uma carta na manga: a sinceridade. "É importante abrir diálogo com a pessoa que pretende encontrar. O mundo inteiro está passando por isso", indica Marina.