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Mirei na Marina, acertei no Silvio Santos: o que a vida de ruiva me ensinou

Quem vê close não vê corre: perdi as contas de quantas vezes manchei o cabelo tentando aplicar produtos em casa - Bag Moreno
Quem vê close não vê corre: perdi as contas de quantas vezes manchei o cabelo tentando aplicar produtos em casa Imagem: Bag Moreno

Ana Bardella

De Universa

14/01/2021 04h00

Meu cabelo é castanho claro e tinha muita vontade de ser ruiva. A primeira vez que tentei, há sete anos, foi um desastre. Conforme o cabeleireiro secava meus fios, uma palavra começou a aterrorizar meus pensamentos: acaju, acaju, acaju... Sim, o resultado foi o acaju, aquela mistura de castanho com um tom avermelhado que só aparece na luz do sol. O pior pesadelo de quem quer chegar ao ruivo laranjinha.

Nem consegui disfarçar minha decepção quando me olhei no espelho. Eu, que tinha mirado no ruivo Marina Ruy Barbosa, estava ali, com o cabelo exatamente da mesma cor acaju do Silvio Santos.

Com o tempo, descobri qual foi o erro: jogar tonalizante escuro por cima das luzes. Para alcançar o tom acobreado que sonhava, teria que me submeter a um processo químico bem mais forte. Mas sabendo que se tratava de uma decisão difícil de reverter, só tomei coragem para fazer isso há três anos. De lá para cá, aprendi muito sobre esse universo.

Ao longo desse tempo pintando o cabelo, troquei de salão três vezes, arrisquei fazer procedimentos em casa seguindo tutoriais do YouTube e troquei as tintas tradicionais, que não faziam bem para o meu cabelo, por uma sem amônia. Gastei mais do que gosto de admitir.

Investi em produtos que fazem sucesso no mundo das ruivas e até hoje sou viciada em salvar fotos com as tonalidades que acho mais bonitas no Instagram, para tentar copiar depois. Criei até uma pasta com o nome "50 tons de ruivo" para servir de inspiração.

Na lista abaixo, falo sobre erros e acertos que tive ao longo desse tempo. As dicas valem para todas as tonalidades (do strawberry blond ao vermelho) e para todos os tipos de cabelo (do liso ao crespo).

1. Acertei quando encontrei um especialista em ruivos.

Essa é a dica que dou para qualquer pessoa que está pensando em migrar para o vermelho ou laranja e, arrisco dizer, a mais importante delas:

Ainda que você pretenda fazer os retoques de raiz em casa, escolha um profissional especialista em coloração para pintar o cabelo pela primeira vez. A base do cabelo faz toda a diferença.

A Catarine Mendes, além de colorista e visagista, também reage com emoji de olhinhos assustados toda vez que compartilho pelos stories do Instagram alguma técnica que pretendo testar sozinha nos fios — já que é ela quem cuida do meu cabelo atualmente.

Ela me explicou por que a primeira vez que alguém vai tingir o cabelo de ruivo é tão importante: se alguma coisa der errado no comprimento, vai ser trabalhoso corrigir.

"Erros de base são complexos de serem revertidos. Em geral, o comprimento e as pontas do cabelo não são tão saudáveis quanto a raiz e, devido à porosidade dos fios, eles podem não aderir completamente a tinta. Se isso acontece, o cabelo acaba manchado", diz.

Além disso, antes de sair comprando a tinta, é preciso considerar a possibilidade de interferir no seu tom atual para chegar na sua cor dos sonhos.

Se você está com os fios escuros e deseja chegar em um ruivo mais claro, pode ser necessário descolorir antes de passar a tintura. Já se quiser fazer como eu, que fui do loiro para o ruivo, terá que submeter o cabelo a uma pré-pigmentação — procedimento que evita o desbotamento.

2. A cada vez que você lavar o cabelo, o ruivão vai ficar diferente.

É muito viciante pesquisar sobre tons de ruivo: com o tempo, você passa a perceber as nuances de tons mais frios e mais quentes e aprende a diferença entre as cores de fundo laranja e as de fundo avermelhado — que são as minhas preferidas.

Salvar fotos de referência e mostrar no salão é bastante útil para explicar ao profissional exatamente o que você quer. Mas é preciso lembrar que pigmentos vermelhos desbotam rápido — e, por causa disso, o cabelo inevitavelmente fica mais claro a cada lavagem.

Testei diversos tons até chegar no meu preferido: o cobre avermelhado - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
No início, me empolguei e testava uma coloração diferente a cada vez que pintava
Imagem: Arquivo pessoal

O desbotamento irrita, mas também tem seu lado bom: você pode experimentar diferentes tons de tinta, sem medo de que elas permaneçam no cabelo por muito tempo (meu ascendente em Gêmeos, que adora uma mudança, se diverte).

Testei de tudo, sempre usando tintas da Igora, a primeira marca que usei.

Comecei com o ruivo laranjinha, depois pedi para fechar a cor e deixá-la com um efeito um pouco mais natural. Usei também o strawberry blond (que durou pouquíssimo, por ser muito claro) e o ruivo puxado para o rosé até descobrir minha tonalidade preferida: o cobre avermelhado.

A única vez que senti o desbotamento diferente foi quando usei a versão strawberry: em duas semanas, meu cabelo estava quase loiro. Nas demais, o resultado foi o mesmo. De pouco em pouco, o cabelo foi perdendo o brilho e ficando de um laranja mais claro e apagado.

3. Máscaras de pigmentação vão se tornar suas melhores amigas.

Máscaras de pigmentação são úteis, mas requerem atenção na hora de aplicar - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Máscaras de pigmentação são úteis, mas requerem atenção na hora de aplicar
Imagem: Arquivo pessoal

Não seria viável e nem saudável recorrer à tintura a cada vez que o cabelo desbota. Por isso, existem no mercado shampoos, condicionadores e máscaras de pigmentação (que não têm efeito algum na raiz natural, mas que funcionam bem nas partes tingidas), que ajudam a devolver a cor. Muitas delas vêm com a instrução de serem diluídas em uma máscara branca, a fim de tornar o pigmento uniforme e não manchar os fios.

Isso pode passar a impressão de que elas são "leves" e inofensivas de passar em casa, mas não.

Foi com as máscaras de pigmentação que cometi os erros durante esses três anos.

Quando apliquei a cor Flamingo, da Kamaleão, pela primeira vez, subestimei a potência do produto: fiquei com uma mancha laranja-neon por três semanas na parte da frente da franja. Algo parecido aconteceu usando a máscara Garota Veneno, da Lola, que saiu de linha há alguns meses, e o Gloss Matizador Vermelho Intenso, da Magic Color.

Perguntei a Cat se o erro é comum e ela me garantiu que sim: "Os produtos da Kamaleão, por exemplo, têm pigmentos diretos. Ou seja, eles revelam a cor assim que encostam no fio. Isso faz com que os lugares nos quais você aplicou primeiro fiquem mais fortes do que as outras partes. Por isso é importante aplicar de forma homogênea para não manchar. Isso vale para qualquer máscara", diz.

Outra questão importante é manter o cabelo saudável. "Fios mais danificados absorvem mais as máscaras pigmentantes do que aqueles com a cutícula selada. Logo, a indicação antes de usar este tipo de produto é estar com o cabelo muito bem tratado", indica.

Hoje em dia, meus produtos preferidos para reavivar a cor são suaves e seus efeitos duram só por duas lavagens. Mas sei que posso aplicar tranquila, durante o banho, que não mancham o cabelo. Um deles é o Gloss Matizador Efeito Ruivo Intenso, da Magic Color e o outro é a henna em creme da cor cobre, da Surya Brasil.

4. Todo processo químico traz gastos e consequências.

Desde a primeira vez que apliquei a tinta, meu cabelo começou a cair em maior volume. Meus fios são naturalmente grossos, mas foram se tornando menos encorpados com o passar do tempo, em especial as pontas. Para deixá-los mais saudáveis, comecei a intercalar máscaras de nutrição, hidratação e reconstrução.

Procuro fazer a manutenção da raiz no salão a cada dois meses e, em algumas delas, peço para aplicar tonalizante no comprimento, para reavivar a cor. O gasto é de pelo menos R$ 200 a cada vez que vou ao salão.

5. O couro cabeludo coçou? Tem algo muito errado aí...

Resultado de quando usei uma tinta sem amônia pela primeira vez - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Resultado de quando usei uma tinta sem amônia pela primeira vez
Imagem: Arquivo pessoal

Certa vez, em um dos salões pelo qual passei, presenciei uma menina chorar de tanta ardência que estava sentindo no couro cabeludo. Ela balançava as pernas e mantinha os olhos fechados, tentando parar de lacrimejar.

Cat explica que a amônia é um dos componentes mais alergênicos das colorações e que pessoas com histórico de alergias alimentares ou a medicamentos tem mais riscos de desenvolver reações aos produtos. "Por isso é importante fazer um teste de mecha antes de passar no cabelo todo", relembra.

Geralmente as reações são coceira, ardência, vermelhidão na região. Nos casos mais graves, podem aparecer queimaduras. A cena me deixou incomodada e comecei a me questionar sobre a toxicidade dos produtos que vinha aplicando com tanta frequência. Eu mesma tinha esses sintomas, só que mais leves.

Outro fator que me fez questionar o uso da tinta é o histórico de câncer na minha família. Existem estudos que associam o uso de tintura capilar permanente com o aumento do risco de desenvolvimento de alguns tipos de câncer em mulheres, entre eles o de mama e o de ovário.

Apesar de amar a cor, cogitei a possibilidade de sair do ruivo e deixar os fios crescerem naturais novamente. Mas antes, pesquisei alternativas de produtos cujos componentes são menos agressivos para tentar manter a cor.

Cheguei a ir em um salão do bairro do Jardim Paulista, em São Paulo, para saber o preço do serviço intitulado coloração vegetal, que é feito à base de henna pura, como o da cantora Maiara, da dupla com Maraísa.

Saí de lá desanimada: além de não ser tão natural assim, já que precisaria descolorir os fios, também teria que desembolsar quase mil e duzentos reais a cada vez que decidisse retocar a cor. Minha vontade era perguntar: 'Mas, moça, você sabe quanto ganha uma jornalista?'.

Por fim, cheguei a uma opção intermediária: a linha So Pure, da Keune, que é livre de amônia. Os resultados da cor não são, nem de longe, tão vibrantes quanto os da Igora. Porém, desde que comecei a usá-la, há um ano, minha queda de cabelo diminuiu. Não sinto mais arder e coçar o couro cabeludo e nem os olhos durante a aplicação. A textura dos fios também fica bem menos ressecada. Comecei usando uma versão mais vermelha, como a da foto acima. Hoje, uso uma mistura das cores 7.43 com 8.3 para retocar a raiz e gosto bastante do resultado.

Para quem também deseja migrar para as tintas sem amônia, Cat lista as marcas que são atualmente comercializadas no mercado:

  • Natucor, da Embelleze
  • Essensity, da Schwarzkopf
  • So Pure, da Keune
  • Inoa, da L'Oréal
  • Casting Creme Gloss, da L'Oréal
  • Soft Color, da Wella
  • Light Color, da Salon Line

6. Você vai descobrir uma rede de sororidade ruiva.

Entrar para o time das ruivas é como fazer parte de um clube: existem páginas no Instagram, grupos de Facebook (obrigada por tudo, Amor Acobreado), canais de YouTube e tudo mais que você possa imaginar sobre o assunto. Não interessa se a sua dúvida é básica ou se você se meteu em uma daquelas situações que parecem sem volta: alguém já vai ter passado exatamente pela mesma coisa. E essa pessoa estará disposta a te dar dicas e te ajudar.

Hoje em dia, sempre que alguém do meu convívio diz que sente vontade de experimentar o ruivo, eu incentivo a pessoa a testar. A variedade de cores é imensa e sempre existe um tom que combina melhor com a personalidade de cada um.

No meu caso, foi exatamente isso o que senti desde a primeira vez que me vi no espelho com o cabelo novo: como se tivesse conhecido uma versão melhor de mim. É como um casamento, com erros e acertos, mas não tem um dia em que eu me arrependa de ter me arriscado a tentar.