Cosméticos feitos com casca e semente de uva: conheça o upcycling beauty

Traduzido do inglês ao pé da letra, upcycling significa reutilizar. Mas a indústria da beleza deu um novo significado ao termo. Upcycling beauty é usar como matéria-prima aquilo que seria descartado, como cascas e sementes, buscando ativos que podem fazer bem à pele, corpo e cabelo.

Não são todas as marcas que se interessam por esse tipo de insumo —e não à toa. Essa é uma decisão cara e trabalhosa de se tomar. Para além da reutilização, é necessária também a preocupação com a qualidade dos materiais.

Se uma marca, por exemplo, decide utilizar a casca de uma fruta como matéria-prima para o cosmético, o ideal é que a plantação seja orgânica, para que não haja contaminação por agrotóxico no produto.

Isabeli Fontana mexe em sementes de uva secas
Isabeli Fontana mexe em sementes de uva secas Imagem: Divulgação/Ziel

Busca no mercado

Para aqueles que focam seus esforços em criar cosméticos com essa pegada limpa e orgânica, um dos grandes desafios é convencer o consumidor sobre a importância de investir em produtos com essa pegada. Já que, geralmente, eles têm um preço mais salgado.

"Temos que reforçar com educação que pequenas trocas já trazem ganhos ao dia a dia. Um suco, um alimento, um sabonete orgânico que você escolhe usar, diminui a miligramagem de agrotóxico que entramos em contato todos os dias", diz a farmacêutica Ana Lucia Koff, que é pós-graduada em engenharia cosmética e pesquisa clínica.

Koff é a fundadora da marca Ziel, uma startup com dois anos de vida que nasceu em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, que tem produtos naturais para pele e cabelo. Suas fórmulas contam com insumos que seriam descartados pela indústria, como a casca e a semente da uva, e a casca da maçã.

Em seu catálogo eles têm xampu e condicionador em barra, hidratante corporal em barra, sabonete e bath bubble, que são sais de banho para derreter na banheira. Tudo natural e orgânico.

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Koff trabalhou em grandes farmacêuticas, mas seu objetivo sempre foi criar sua própria marca de beleza.

Para conseguir garantir que seus produtos são, de fato, naturais, a Ziel conta com pequenos produtores familiares para comprar suas matérias primas.

A Organovita, marca de produtos orgânicos e naturais em Garibaldi, por exemplo, fornece casca, semente e óleo de uva, e casca de maçã, que sobram da produção de seus sucos e vinagre. Além deles, há outros 30 produtores orgânicos fazendo essa roda de reutilização girar.

Casca de uva seca da Organovita, usada na produção de cosméticos da Ziel
Casca de uva seca da Organovita, usada na produção de cosméticos da Ziel Imagem: Rafaela Polo/UOL

Esses insumos são nobres para a indústria cosmética, pois são ricos em antioxidantes. De 96% a 100% do que usamos em nossos produtos são naturais e comestíveis. Ana Lucia Koff

E com tanta seleção é impossível que essa produção não seja custosa. Para se ter uma ideia, são necessários 20 quilos de semente de uvas para conseguir a extração de uma colher de chá de óleo da fruta. A Ziel consegue, atualmente, de 500 a mil litros desse óleo por ano.

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"Minha produção é pequena e tenho uma margem menor. Abrimos mão dela para levar ao consumidor com um bom preço. importante é conseguirmos entregar o produto dentro do propósito da circularidade", explica Koff.

Por conta dessa ligação com a uva, essa busca por insumos chegou às vinícolas. Um dos insumos utilizados para a produção das bath bubble, sais de banho efervescentes, são os cristais que se formam durante a produção do vinho. Esse material fica colado na parede dos tonéis onde a bebida é armazenada e é responsável pela efervescência do produto.

Com planos de construir uma fábrica, Koff quer ampliar ainda mais essa busca por insumos. "A ideia é que tudo que for vegetal e sobrar de um processo possa ser utilizado no mundo cosmético, seja como ativo ou recipiente", explica Koff.

*A jornalista viajou a convite da Ziel.

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