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PR: Justiça descarta feminicídio, e réu é condenado por homicídio da mulher

Ivanilda Karnarski foi assassinada em 2018; defesa do então, João Fernando Nedopetalski, negou relacionamento abusivo - Reprodução
Ivanilda Karnarski foi assassinada em 2018; defesa do então, João Fernando Nedopetalski, negou relacionamento abusivo Imagem: Reprodução

Bruna Barbosa Pereira

Colaboração para Universa, em Cuiabá

11/12/2020 15h56

João Fernando Nedopetalski, de 38 anos, foi condenado ontem a 24 anos e 4 meses de prisão. O Tribunal do Júri puniu João, réu por matar a mulher, Ivanilda Karnarski, de 30 anos, pelos crimes de homicídio qualificado — pelo recurso que dificultou a defesa da vítima — e por tentativa de homicídio contra o irmão de Ivanilda — que imobilizou o cunhado. Os crimes aconteceram em 2018, em um parque aquático de Irati (PR), cidade a cerca de 160 km de Curitiba.

Inicialmente, Nedopetalski foi denunciado por feminicídio e tentativa de homicídio contra o irmão da esposa — tese que foi afastada pelo Conselho de Sentença. De acordo com o advogado do réu, Jeffrey Chiquini, esse era o principal ponto da defesa.

"Nossa principal tese era afastar o feminicídio. Foi afastado porque os jurados entenderam que a vítima não morreu por condição de gênero, ela não morreu por ser mulher. Esse é um discurso que tem ganhado grande proporção, mas a lei é muito clara: para ser feminicídio, exige-se uma condição de gênero, em que a vítima é subjugada, em que ela sofre uma relação abusiva. E os jurados entenderam que Ivanilda não vivia essa situação. Foi um fato isolado", explicou Jeffrey.

No entanto, ele afirmou que pretende recorrer na questão da dosimetria da pena de João por "questões técnicas". Jeffrey também ressaltou que o Conselho de Sentença era composto por seis mulheres.

O julgamento

O julgamento teve duração de dois dias e, entre os ouvidos, estavam João e o irmão de Ivanilda, Romildo. O réu alegou que cometeu o crime após a mulher se negar a deixá-lo levar os filhos para Curitiba, para onde ele decidiu se mudar quando descobriu que a vítima estaria tendo um relacionamento fora do casamento.

Conforme Nedopetalski, Ivanilda tinha um caso com o melhor amigo dele, conhecido como Paçoca. Ele contou que, na semana do crime, foi procurado pela mulher do amigo que alegou ter encontrado fotos de Ivanilda nua no celular de Paçoca.

A mulher ainda teria revelado a João que Ivanilda e Paçoca planejavam matar os dois. Quando voltou para casa, Nedopetalski teria confrontado a mulher, que confessou o caso.

"Deu detalhes. Comecei a especular se era quando eu ia para a roça, quando levava o menino para jogar futebol. Nesse intervalo, ele [Paçoca] iria lá. Procurei meu filho, disse que Ivanilda havia nos traído. Conversamos com ela, isso já era de noite, ela disse que iria para a casa da mãe e eu falei que iria para Curitiba, que iríamos nos separar", disse no julgamento.

Na época do crime, os filhos do casal tinham 12 e 7 anos. Conforme João, ele e as crianças ficaram dois dias em Curitiba, quando voltaram para Irati. Na ocasião, ele e Ivanilda combinaram de conversar, sendo o parque aquático o local escolhido.

O irmão da vítima alegou que o encontro aconteceu no parque por ser um espaço público. Em determinado momento da conversa, Ivanilda não teria concordado com o fato de João ir morar com as crianças em Curitiba.

"Ficou tudo preto, saquei a arma e atirei. Não apontei a arma para o Romildo, deitei no chão e ele deitou em cima de mim. Ele pedia a arma e eu dizia que não daria, porque senão ele iria me matar. O policial chegou, apontou a arma para minha cabeça e deu voz de prisão. Soltei a arma. Não tinha motivo para apontar a arma para Romildo", alegou o réu durante o júri.

No tribunal, João explicou que andava armado para defesa própria, já que, como era agricultor, costumava ter dinheiro em espécie. A arma usada foi uma Taurus calibre 6.35 mm. No dia do crime, R$ 950 foram apreendidos com ele.

Violência doméstica

Em seu depoimento, o irmão de Ivanilda explicou que, enquanto a vítima esteve na casa da mãe, confessou que sofria agressões constantes durante todo o casamento. Eles se casaram em janeiro de 2004.

O irmão ressaltou que a família costumava observar hematomas em Ivanilda, mas ela dizia que havia se machucado enquanto trabalhava na roça.

"No dia que ela se separou, ela contou tudo, se abriu. Disse: 'Hoje tenho mais segurança, estou perto da minha família e sei que nada vai acontecer'. Disse que ele sempre batia nela. Nesse dia ela estava com muito medo, tremia muito", disse ele.

Ivanilda foi baleada no tórax e no ombro, ela chegou a ser socorrida, mas morreu no hospital. O crime foi cometido na frente dos filhos do casal, que brincavam no parque.

Sobre o histórico de violência doméstica, Jeffrey afirmou que são "ilações isoladas das provas dos autos".