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Prática comum, entenda o que é "spectatoring" e como ação dificulta orgasmo

É possível perceber que você está como "espectador" e reverter prática, dizem especialistas - iStock
É possível perceber que você está como "espectador" e reverter prática, dizem especialistas Imagem: iStock

Elisa Soupin

Colaboração para Universa

02/09/2020 04h00

Transar pensando no prazer do outro, no próximo movimento a fazer, na posição mais elaborada, como o parceiro ou parceira está enxergando seu corpo, se está estranhando as expressões que você está fazendo? E tanta coisa na cabeça que a mente não relaxa e o orgasmo não vem. Reconhece essa situação? O fenômeno é comum e em inglês recebe o nome de "spectatoring".

Essa é a forma como é chamada a sensação de estar fazendo sexo como espectador do ato e não como participante. E não escolhe orientação sexual nem estado civil. Se você transa, está sujeito a passar por isso.

"Na verdade, é raro ter um paciente que consegue de fato estar no presente. A ansiedade de desempenho ou de performance atrapalha muito. A forma como enxergamos o sexo muitas vezes vem da pornografia e há uma pressão para que você seja bom de cama", explica a psicóloga clínica, terapeuta sexual Paula Napolitano, autora do livro "Sexplicando: sexualidade sem mitos".

Na prática, isso significa que muita atenção às caras e bocas ou trocas de posição excessivas, quase numa encenação de filme pornô, afasta as pessoas do orgasmo.

"Existe uma ditadura do sexo, em que há necessidade de ter muitos orgasmos ou muitas relações sexuais e isso atrapalha o sexo real, porque você vive uma performance e não está focado nas sensações. É como se você se desligasse do que o seu corpo quer", explica ela sobre o spectatoring.

A pressão da performance atinge homens e mulheres, mas de maneiras distintas. Em comum, fica a dificuldade do orgasmo. "Para as mulheres heterossexuais, existe muito a questão de precisar agradar o parceiro, ela quer ser considerada boa de cama, mas ao mesmo tempo, não muito boa a ponto de parecer que sabe demais, que transa demais.", diz a sexóloga. "Para elas, existe ainda muito forte a questão da autoimagem, da cobrança do próprio corpo. Isso invade os pensamentos no sexo", continua Paula.

Já nos homens, a pressão por uma ereção longa e duradoura, digna do Xvideos, fica no caminho do prazer. "Eu tenho visto cada vez mais homens que evitam o sexo pelo medo de falhar na performance, porque o homem tem um flagrante que a mulher não tem, então, ele prefere nem fazer sexo tamanha pressão", diz a terapeuta de casais Denise Figueiredo, do Instituto do Casal.

Solteiros, casados, namorados: ninguém está imune

O Spectatoring não escolhe estado civil. Para os solteiros, a questão é o olhar desconhecido do outro. Já para quem vive relacionamentos, a própria rotina pode ficar no caminho do prazer. "No caso de mulheres que tem triplas jornadas, viver o presente é difícil porque há muitas ocupações que tomam a mente, distrações externas e internas que atrapalham que você entre no momento erótico", avalia Paula.

De espectador a atriz principal

As duas especialistas são unânimes em garantir que dá vencer o Spectatoring. Veja dicas para isso:

  • Invista nas preliminares

O sexo não começa na hora que os dois tiram a roupa e construir o clima pode fazer a diferença. Falar do que gosta, do que espera, lembrar de sensações boas antes do sexo pode fazer com que os parceiros ou parceiras fiquem mais presentes.

Estar aqui e agora é imprescindível. "Em casais, tomem um banho juntos, explorem os corpos um do outro. Pare, respire, esvazie a mente e busque estar presente no momento", ensina Denise Figueiredo. Se concentrar mentalmente é valioso. "Verbalize internamente, para si, o que está sentindo diante do toque do outro, descreva mentalmente o que você está tocando no corpo do outro e o que você gosta. Este processo pode ser difícil, mas ajuda a se manter nas sensações e não dispersar", diz Paula.

  • Seja gentil com seu corpo

Caso esteja insatisfeito ou inseguro com seu corpo, Denise indica uma reflexão: "Pense em momentos em que seu corpo já te deu muito prazer e em como ele pode voltar a te dar prazer", diz ela.

  • Não siga receitas prontas

Cada parceiro ou parceira é único e cada transa (mesmo que com o mesmo parceiro) pode ser sempre um recomeço. "Não tenha roteiro estabelecido, até porque um roteiro estabelecido do que eu gosto, do que eu não gosto, do que eu vou fazer, não funciona sempre e nem com todo mundo. Não é porque eu vivi com uma pessoa algo que amei que aquilo vai funcionar com outra. É importante estar no momento e nas sensações do momento", conclui.