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Recém-nascidos e visitas: como lidar com a situação em tempos de pandemia?

Para médicos, falar sobre possíveis visitas de bebês numa pandemia não é tarefa fácil. - Drazen_/Getty Images
Para médicos, falar sobre possíveis visitas de bebês numa pandemia não é tarefa fácil. Imagem: Drazen_/Getty Images

Claudia Dias

Colaboração para Universa

13/08/2020 04h00

Fora do contexto da atual pandemia, a orientação para recém-nascidos é de cuidado especial no primeiro bimestre de vida. Isso significa que o bebê deve evitar contato com ambientes externos e pessoas que não fazem parte do núcleo familiar. Até atingir esse marco, costumava-se manter os bebês só dentro de casa, mas sendo visitado por parentes e pessoas próximas da família. Agora, a situação requer reflexão maior, já que não há uma recomendação específica dos órgãos médicos e os avós, na maioria das vezes, fazem parte do grupo de risco da COVID-19.

Segundo o pediatra e infectologista pediátrico Marcus Vinicius Vidal Martuchelli, a literatura e o dia a dia têm mostrado uma evolução com menor gravidade entre as crianças e aproximadamente 70% são assintomáticos ao SARS-CoV-2 (o coronavírus). Mesmo assim, falar sobre visitas de bebês numa pandemia não é fácil. "Recém-nascidos não têm imunidade suficiente para se defender de infecções simples, quanto mais de infecções mais complexas, como se nota ser o coronavírus. Visando o bem-estar do bebê e da família, minha sugestão mais sincera é que não ocorram visitas até que esta pandemia tenha acabado", defende o pediatra e neonatologista Nelson Douglas Ejzenbaum.

Avós X grupo de risco

Não é raro os avós serem recrutados para ajudar diretamente com os recém-nascidos. Entretanto, a maioria deles se enquadra no grupo de risco do coronavírus, por terem idade superior a 60 anos, o que leva a um novo dilema familiar.

Na casa dos Laranjeiras, por exemplo, a avó Edna, mãe de Diego e sogra de Marcela, a Mah, foi conhecer o neto Otto depois de 3 meses, após uma série de protocolos que a família seguiu, apesar de morarem pertinho.

Otto veio ao mundo dia 12 de abril, mas desde março a família inteira já estava em quarentena. O parto, domiciliar, não contou com a presença das avós, o que foi algo doloroso para a recém-mãe - apenas a doula, duas enfermeiras obstétricas e a fotógrafa participaram do momento, além dos moradores da casa.

Durante os três primeiros meses de vida de Otto, parentes só o viram o menino por videochamada ou à distância, pela janela do apartamento - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Durante os três primeiros meses de vida de Otto, parentes só o viram o menino por videochamada ou à distância, pela janela do apartamento
Imagem: Acervo pessoal

"Meu parto foi muito intenso e difícil, emocionalmente, pela ausência da minha mãe e da sogra. Dessa vez, elas não puderam estar e isso me abalou muito. O isolamento foi um soco no coração", diz Mah, que comanda o perfil @casadebamba101, onde compartilha as aventuras de ser mãe de quatro - Otto é irmão de Bento, 4; Nina, 10; e Malu, 12 anos (as meninas são do primeiro casamento de Marcela).

Durante os três primeiros meses de vida do garotinho, os parentes só o viram por videochamada ou à distância - eles na rua e Otto, com os pais, no alto da varanda do apartamento em que moram. Como a família tem médicos na linha de frente no combate ao coronavírus, todos se mantiveram firmes no isolamento, apesar da falta que sentem das muitas festas que promoviam anteriormente.

Para a visita, Marcela conta que seguiram orientação médica. Quando completaram 4 meses de isolamento e a curvas de contaminação no Rio de Janeiro (onde moram) começaram a cair e relaxamento, abrandar, os avós se isolaram e não recebiam nem entregadores de comida. Funcionários de um laboratório foram até a casa deles para colher sangue para checagem de covid. Assim que saiu o resultado negativo, foram para a casa de Marcela e Diego.

"Vai passar? Vai. Meus pais, meus sogros e familiares ainda terão toda uma vida pra curtir ele? Sim. Mas essas fases que estão indo embora nunca mais serão recuperadas. Ninguém conheceu, curtiu ele recém-nascido. Perderam os primeiros sorrisos, as primeiras conquistas. Eu perdi toda rede de apoio emocional para passar pelo meu puerpério. O que mais dói são os momentos que se perderam", lamenta Mah.

Distância recomendada

Por estarem em grupos de risco, o melhor é que avós tenham um pouco mais de paciência e aguardem a oportunidade mais segura para conhecer os netinhos. Se os pais optarem por levar o bebê até eles, devem redobrar os cuidados como uso de máscara, álcool em gel e manutenção do distanciamento social.

Foi o que fez a engenheira civil Dani Capuano. Depois de 3 meses, ela e o marido Rodrigo levaram Sofia, que nasceu no dia 1 de abril, para visitar os avós. "Fizemos da maneira mais segura possível: ficamos de máscara, na varanda, com tudo aberto, e só depois de 14 dias em isolamento", diz.

Os avós, vizinhos do casal, tinham visto a netinha assim que ela nasceu, quando buscaram a família na maternidade. "Mas só a viram de longe, todos de máscara. Depois disso, não tivemos mais visitas. A minha sogra e minha cunhada, que moram em outra cidade, só a conhecem por foto e vídeo", conta a mãe.

A intenção dos pais é promover um encontro similar com a outra avó. Em relação aos demais parentes e amigos, é muito provável que vão continuar restringindo o contato. "Está difícil enxergar um fim nessa situação e é muito dolorido manter a distância, apesar de acreditarmos que é a melhor forma de garantir que estaremos todos juntos e bem quando passar", avalia.

Para avós que são a rede de apoio da mãe e do recém-nascido, a dica da pediatra Loretta Campos, consultora de aleitamento materno e educadora parental. é que fiquem isolados na mesma casa, sem necessidade de se deslocar entre duas moradias.

Não tenha receio de dizer "não"

É importante ressaltar que os pais não devem ter receio de rejeitar visitas, caso não se sintam à vontade com a situação."O quadro epidemiológico atual provoca uma série de questionamentos que podem colocar em cheque a tranquilidade familiar. As visitas passam, então, a ser um motivo a mais de preocupação, já que sua presença fere o contexto dos cuidados durante a pandemia", argumenta Juliana Barros do Vale, ginecologista e coordenadora do curso de Medicina da Estácio Jaraguá.

Por isso, a orientação é que os pais optem por alguma maneira confortável para agradecer as boas intenções e expor, de forma natural, os riscos envolvidos. "É melhor um mal-estar ou desagrado momentâneo com algum familiar do que a tristeza que pode advir da criança ser contaminada", opina Patrícia Rezende, pediatra do Grupo Prontobaby.

Não dá para evitar? Reforce os cuidados

Os profissionais já deixaram claro que o melhor a fazer, nesse momento, é barrar a ansiedade e esperar uma ocasião segura para conhecer os recém-nascidos.

Se isso não puder ser seguido à risca, eles lembram que os protocolos de proteção e higiene devem ser reforçados. Assim, é imprescindível adotar as seguintes atitudes, ao entrar em contato com um bebê:

  • Reforçar o isolamento social nas duas semanas antecedentes, tendo o mínimo contato com qualquer pessoa - delivery, inclusive.
  • Manter o distanciamento mínimo de 1,5 metro do recém-nascido
  • Lavar as mãos ou higienizá-las com álcool gel sempre.
  • Usar máscara em tempo integral.
  • Tomar um banho e trocar de roupa antes do contato com o bebê ou usar um "capote" se for se aproximar ou pegar o recém-nascido no colo.
  • Em hipótese alguma, pessoas com sintomas sugestivos devem estar com recém-nascidos. Melhor ficarem em casa.

Fontes: Juliana Barros do Valle, ginecologista e coordenadora do curso de Medicina da Estácio Jaraguá; Loretta Campos, pediatra e consultora de aleitamento materno e educadora parental; Marcus Vinicius Vidal Martuchelli, pediatra e infectologista pediátrico da Clínica Mantelli; Patrícia Rezende, pediatra do Grupo Prontobaby.