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Papo de vagina

Elas falam de sexo, clitóris e prazer feminino no Instagram; conheça perfis

Bióloga, Victoria Castro criou a página Diga Vulva no Instagram para falar com mulheres - Arquivo Pessoal
Bióloga, Victoria Castro criou a página Diga Vulva no Instagram para falar com mulheres Imagem: Arquivo Pessoal

Nathália Geraldo

De Universa

07/04/2020 04h00

Pelo menos 98 mil pessoas têm em suas vidas as palavras de ordem "Meu clitóris, minhas regras" como algo bastante familiar. É que esse é o número de seguidores da página do Instagram @meuclitorisminhasregras, que compartilha conteúdo sobre sexualidade feminina, autoconhecimento e prazer - sem tabus e com humor.

Criada por uma ex-empresária de sex shop, que usa o nome artístico Gaia, o perfil na rede social é um dos que desmistificam a forma com que mulheres podem ter experiências sexuais, especialmente descobrindo o que o clitóris - único órgão do corpo projetado para o prazer — pode fazer por elas. Conheça a história dessa e de outras "influencers sexuais".

Sexualidade feminina no Instagram: conheça perfis

Desconhecimento, tabu, vergonha. A construção da sexualidade feminina quase sempre é cercada por conceitos que atrapalham a vida sexual e a aproximação da mulher com o próprio corpo - muitas de nós ainda sentimos "nojo" em relação a cheiros, por exemplo.

Para romper essas barreiras, e naturalizar o que entendemos por sexo, prazer e autoconhecimento, algumas mulheres tomaram para si a tarefa de divulgar conhecimento, no Instagram, sobre os assuntos.

Biscuit de clitóris deu origem a perfil

Depois de dez anos no mercado erótico, como proprietária de sex shop, Gaia resolveu criar o perfil "Meu clitóris, minhas regras", em 2018 ao perceber que pouca gente conhecia a anatomia do clitóris.

"Quando eu tinha a sex shop, fiz um biscuit em formato de clitóris para entregar para as pessoas e pouca gente sabia o que era. Então, criei o perfil, em referência à fala 'Meu corpo, minhas regras', para falar com as mulheres sobre sexualidade, de forma cômica", comenta a administradora.

Entre as dicas de autoconhecimento, Gaia conta que incentiva suas seguidoras a fazerem o básico: pegar um espelhinho, analisar sua própria vulva, e entender, por si própria, os caminhos para ter orgasmos. "Todo mundo me pergunta 'como eu faço para gozar', mas não há uma fórmula mágica. Digo que é preciso de autoconhecimento, já que cada mulher tem autonomia do seu prazer", analisa.

O conteúdo do perfil, diz Gaia, que atua em São Paulo (SP), é feito com base em consultas a profissionais de saúde, ginecologistas, sexólogos e fisioterapeutas pélvicos. Frases engraçadas, como "Busque em você as estrelas", ilustrada por uma mulher tocando a própria vagina, e desenhos divertidos, como o de um "clitóris feliz" quando ele foi encontrado, fazem parte do material divulgado na rede social.

Além da página, Gaia conta que promove um curso online com dicas conceituais e práticas para masturbação - daí, o nome "Classe da Siririca" - e mantém uma loja virtual colaborativa com artistas que criam materiais relacionados à anatomia feminina para venda a educadores e público em geral.

"Diga Vulva" foi inspirado na análise da anatomia feminina

Masturbação - JulyProkopiv/iStock - JulyProkopiv/iStock
Na "Diga Vulva", mulheres recebem informações sobre fertilidade, sexualidade, ciclos menstruais, entre outros temas
Imagem: JulyProkopiv/iStock

Já a página Diga Vulva estreou na rede social, no início do ano passado, para falar de saúde feminina e sexualidade de forma leve e bastante didática. Isso porque a criadora da página, Victória Castro, de Porto Alegre (RS), é bióloga e professora - e sempre se interessou em compartilhar informação sobre fisiologia feminina e conhecimento do próprio corpo.

Atualmente, são mais de 45 mil que seguem o perfil e recebem doses frequentes de informação sobre sexualidade plena, cuidados com traumas sexuais, anatomia feminina, fertilidade, menstruação, entre outros temas.

"Sempre gostei dessas pautas, mas na faculdade a fisiologia feminina é uma pincelada de conteúdo; resolvi, então, pesquisar de forma autônoma sobre ciclo menstrual, fertilidade. Meu primeiro contato com os assuntos foi por meio de grupos no Facebook", conta a bióloga.

A criação da @digavulva, "que tem esse nome porque a palavra vulva é sempre esquecida", diz Victoria, foi a forma que a bióloga encontrou para abordar pautas de empoderamento feminino por meio do conhecimento da autoestima - estética e sexual.

"Um dos primeiros posts que bombaram, inclusive, foi o que comentei sobre a diversidade anatômica de vulvas. E é algo que precisa ser falado o tempo inteiro, principalmente para adolescentes, que vejo que é um público que acompanha a página", explica.

Victoria conta que o perfil no Instagram não é monetizado de forma alguma; no entanto, ela se mantém como educadora menstrual - promovendo cursos on-line sobre menstruação em aspectos biológicos, sociais e até ambientais.

Questionar a visão ocidental do sexo é tarefa de Maria Chantal

Maria Chantal - Divulgação/Paola Alfamor - Divulgação/Paola Alfamor
Maria Chantal se intitula como pesquisadora do corpo feminino e promove oficinas de autoconhecimento
Imagem: Divulgação/Paola Alfamor

A pesquisa pessoal sobre níveis de prazer, conta Maria Chantal, em 2016, foi a que fez iniciar uma jornada de quebra de tabus sobre a sexualidade, que resultou na criação de seu perfil @maria.chantal para tratar do tema. "Inicialmente, eu falava sobre o que estava lendo, pedindo opinião das pessoas. Com o tempo, passei a produzir conteúdo com mais frequência, especialmente sobre como o lado oriental do mundo vê a sexualidade", explica.

Seguida por 11 mil pessoas, Maria Chantal se define como uma pesquisadora do corpo feminino, explorando, em suas publicações, os problemas que se dão no sexo por conta da sociedade machista e patriarcal em que vivemos. "O que se vê é que não se respeita o tempo da mulher, por exemplo. O sexo ocidental é pensado no homem, em quanto tempo ele leva para ejacular, na penetração", afirma.

Estudos sobre o sexo tântrico, diz Maria, e o diálogo sobre a sexualidade com adolescentes faz parte do material que compartilha em sua página. "Muita gente acha que falar com a jovem sobre o corpo e sexo é um estímulo para ela transar; e não, você está educando, inclusive para que ela saiba como e quando iniciar as relações sexuais", aponta.

A forma integrada de ver o corpo feminino, diz Maria, faz parte tanto de seu perfil na rede social quanto das oficinas de autoconhecimento feminino que administra, mais recentemente, feitas de forma virtual. "É quando eu falo de anatomia, alimentação, como isso tem relação com todo o corpo", detalha.

Em sua fala, também está a necessidade de valorizar o conhecimento da ginecologia natural e trazê-lo como algo que surgiu, originalmente, entre povos negros e indígenas. "Trago essa questão racial, também, de forma sutil e agregada. A maioria das minhas seguidoras são mulheres negras, então precisamos reconhecer que isso foi trazido por nossas ancestrais".

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