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Mãe de jovem morta por guarda municipal: "Nem medida protetiva a salvou"

A professora Maxelline da Silva dos Santos, vítima de feminicídio - Arquivo Pessoal
A professora Maxelline da Silva dos Santos, vítima de feminicídio Imagem: Arquivo Pessoal

Bruna Barbosa Pereira

Colaboração para Universa

05/03/2020 04h00

Uma medida protetiva requerida há 15 dias pela professora Maxelline da Silva dos Santos, de 28 anos, contra seu ex-namorado, o guarda municipal Valtenir Pereira da Silva, 35, não foi suficiente para impedir que ela fosse morta no domingo (1º) em Campo Grande — é o que a mãe da vítima, Maria Rodrigues, ainda lamenta.

O guarda municipal é suspeito de ter assassinado a professora com dois tiros, na cabeça e no peito, após invadir a casa de uma amiga dela. O promotor de vendas Sterferson Batista de Souza, 34, foi atingido com um tiro no tórax e morreu. Ele era marido da amiga de Maxelline, que também foi baleada e está internada. Todos estavam em um churrasco que acontecia no local na noite do crime, no bairro Jardim Noroeste. Valtenir, que está foragido, não aceitava o fim do relacionamento de sete meses, segundo a mãe da professora.

O guarda municipal Valtenir - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O guarda municipal Valtenir Pereira da Silva, suspeito do crime
Imagem: Arquivo Pessoal

A Secretaria Especial de Segurança e Defesa Social (Sedes) de Campo Grande informou, por meio de nota, que foi determinada a abertura imediata de processo administrativo disciplinar para apurar o caso, assim como o afastamento de Valtenir da Guarda Municipal e recolhimento da arma funcional do suspeito.

Ainda não há informações se ele cometeu os crimes utilizando a arma de trabalho. Valtenir teve a prisão preventiva decretada por feminicídio, homicídio e tentativa de assassinato. De acordo com a delegada responsável pelo caso, Sueili Araújo, policiais ainda fazem buscas para tentar localizar o suspeito, que não é visto desde domingo.

"Ela precisava ter sido protegida"

Marisa conta que, há 15 dias, Valtenir estava armado e tentou invadir a casa de Maxelline pela primeira vez. "Ele [o suspeito] pulou o muro e ela ficou com muito medo. Registrou um boletim de ocorrência e pediu uma medida protetiva. Mas não adiantou nada, o papel não deu nenhuma segurança para minha filha. Ela precisava ter sido protegida, nós [família e amigos] não conseguimos sozinhos", diz.

A mãe diz ter ligado para a professora algumas vezes na noite do crime. "Falava para ela prestar muita atenção quando fosse sair dos lugares ou da casa dela, para sempre ficar olhando se tinha alguém seguindo."

Com a voz embargada, Marisa ressalta que a vida dela também acabou após o assassinato da professora, sua única filha mulher. Para ela, o afastamento e a determinação do recolhimento da arma funcional de Valtenir aconteceu "tarde demais". Ela define o suspeito como "um psicopata".

"Ela fez tudo certo, ela queria terminar [o namoro], não queria mais ficar com ele. Ela tinha esse direito. Agora perdi minha filha, uma pessoa tão boa, amada por todos que conviviam com ela."

Capacitado para atender vítimas de violência

Algumas testemunhas, como uma tia de Maxelline já foram ouvidas pela delegada Sueili, que hoje deve ouvir a amiga da vítima, que não corre risco de morte, mas ainda está internada. A oitiva deve acontecer na unidade hospitalar.

Segundo Marisa, a sobrevivente está em estado de choque. Emocionada, a mulher ressalta que, além de matar a filha, o guarda municipal ainda "acabou com a vida" da amiga dela.

Sueili Araújo afirmou que Valtenir é reincidente em crimes contra a mulher. Em 2014, ele agrediu e ameaçou de morte outra ex-namorada por não aceitar a separação.
"Demonstra um sentimento de posse sobre a mulher, comum do machismo enraizado em muitos homens e até em mulheres, contra o qual toda a sociedade precisa lutar", afirma Sueili.

Embora tivesse cometido o crime, o guarda era capacitado para atender mulheres vítimas de violência. Conforme publicação do Diário Oficial de Campo Grande, em outubro do ano passado, Valtenir participou do Curso de Capacitação de Atendimento às Situações de Violência Contra a Mulher na Segurança Pública Municipal, promovido pela Sedes em parceria com a Subsecretaria de Políticas para Mulher.

Suspeito lamentou morte por mensagem

A Polícia Civil recebeu denúncias de que Valtenir havia enviado mensagens de despedida para contatos de seu Whatsapp, em que afirmava que a fraqueza do "coração e mente do ser humano" levam a cometer erros impensados. O suspeito também escreveu que seu destino seria "o inferno".

No texto, o guarda municipal também se despediu dos cinco filhos, dos pais e dos colegas de trabalho. No entanto, Sueili explica que informações colhidas pela polícia apontaram que Valtenir está bem e vivo, além de não demonstrar ter intenção de se entregar.

"Seria só uma forma de iludir e de tentar se esquivar da responsabilidade criminal. Nossas equipes continuam buscando pelo paradeiro dele", afirma a delegada.