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É hora de deixar seu filho sozinho em casa? Saiba se ele já está preparado

Idade e maturidade contam na hora da decisão de deixar o filho em casa  - iStock
Idade e maturidade contam na hora da decisão de deixar o filho em casa Imagem: iStock

Claudia Dias

Colaboração para Universa

25/01/2020 04h00

Antes de qualquer coisa, é bom deixar claro que, por lei, nenhuma criança ou adolescente pode ser deixado sozinho em casa antes dos 16 anos: o responsável pode incorrer no crime de abandono de incapaz. Muitas vezes a prática, no entanto, não condiz com a teoria — e não estamos falando em casos de negligência, mas de mães e pais que precisam se ausentar por curto período de tempo para resolver algo aqui e ali.

Não importa se por 5 minutos ou uma hora, isso só deve acontecer quando seu filho tiver idade e maturidade adequadas para ser colocado em situação em que possa ficar sem supervisão adulta. O problema é: como saber quando ele está pronto?

A especialista Ellen Moraes Senra, psicóloga e especialista em terapia cognitivo comportamental, compara tal processo ao de aprender a andar: primeiro, os bebês assimilam como engatinhar, depois se apoiam em pé e só então começam a trocar os passos sozinhos. "O filho deve ir recebendo atribuições de acordo com sua capacidade", diz.

Segundo a neuropsicóloga Deborah Moss, especialista em psicologia do desenvolvimento, a partir dos 11 anos a criança costuma começar a ter maior noção de crítica, pois é nessa fase que a área frontal do cérebro (que controla a impulsividade e as emoções, além da questão do juízo moral) termina de se desenvolver.

Isso, no entanto, não significa que ela já esteja pronta para ser deixada sozinha — serve apenas de parâmetro para entender quando e como começa o processo de amadurecimento dela.

"Crianças que ainda não chegaram à puberdade [o que ocorre por volta dos 13 anos] não costumam ter muito discernimento. A partir de então entende-se que elas já foram educadas para tarefas básicas, como usar o fogão e mexer em utensílios de cozinha", exemplifica o psicanalista Gregor Osipoff.

Um dos principais fatores a serem levados em conta, portanto, é se seu filho entende conceitos básicos de autopreservação, respeitando regras de autoproteção, segurança, higiene etc. "A maior preocupação deve ser com a integridade física da criança e do adolescente", frisa.

Autonomia se conquista no dia a dia

Para o psicanalista Gregor Osipoff, a maturidade que o filho precisa para ficar sozinho em casa não é algo que se adquire de uma hora para outra. "É preciso dar mais espaço para a criança conquistar sua autonomia, mas essa é uma construção diária, algo que acontece aos poucos, a partir de uma educação continuada", afirma.

O especialista ressalta que cada criança ou adolescente tem um ciclo de desenvolvimento, baseado na evolução pessoal, familiar e social. "Não podemos, de forma equivocada, nivelar por baixo a questão do amadurecimento, pois cada um tem seu tempo", reforça.

Cabe ao responsável adulto dar todo o suporte necessário para o crescimento saudável, o que se consegue acompanhando a evolução e as conquistas dos menores, o tempo todo. "Assim, damos insumos para que, no futuro, sejam pessoas saudáveis e que reproduzam as boas práticas que aprenderam", argumenta.

Diálogo e confiança

Júlia Bárány, psicanalista e pedagoga Waldorf e mestre em psicologia transformacional, defende que a conversa e a cumplicidade são necessárias para se estabelecer uma relação de confiança entre pais e filhos.

"A educação para a liberdade e a plenitude de um ser humano em crescimento exige que, aos poucos, a criança e o adolescente adquiram responsabilidade à altura de suas condições, o que os deixa cada vez mais independentes. No entanto, o amadurecimento emocional e psicológico é necessário para que possam, de fato, ficarem sozinhos", frisa a especialista.

Para incentivar o senso de responsabilidade — ou mesmo por falta de opção logística —, alguns pais tentam "forçar" a situação, acelerando o processo de deixar o filho sozinho. "Se a criança ainda está insegura, esses é um ponto que precisa ser trabalhado, porque ela demonstra que não está preparada para ficar sozinha", explica Deborah Moss. "Caso a criança tenha medos, poderá incorrer em danos a si mesma e ao ambiente caso fique sozinha e entre em pânico", acrescenta Júlia Bárány.

Como agir

É aos poucos que os pais devem testar a viabilidade de deixar o filho sozinho. Quando ele atingir idade pertinente e mostrar um comportamento mais maduro, vale começar devagarinho, com saídas curtas — ir até padaria ou o mercado do bairro e voltar bem rápido, por exemplo —, aumentando o tempo de ausência nas situações seguintes.

Importante lembrar que a questão temporal é desenvolvida ao longo da vida e que adultos têm uma sensação da passagem do tempo diferente da que as crianças apresentam. Ou seja, se para os pais uma ausência de 5 ou 10 minutos não parece nada, a percepção infantil pode ser de horas.

Outro ponto obrigatório é que, sem um adulto por perto, o filho precisa ter meios de entrar em contato com os pais tão rápido quanto for necessário. "Além de dar conforto à criança ou adolescente, isso permite que o responsável, em qualquer adversidade, possa intervir o mais rápido possível", diz Gregor.

Sinais que apontam amadurecimento

  • Demonstrar autocuidado nas atitudes diárias
  • Mostrar senso de responsabilidade e comprometimento
  • Não mexer em coisas que não são pertinentes, sobretudo itens perigosos (fogão, caixa de força, produtos de limpeza, itens de cozinha etc)
  • Ter noções de autoproteção (saber como agir se surgir fogo em casa ou no prédio ou quando um desconhecido toca a campainha ou o interfone, por exemplo)
  • Saber quem e onde procurar ajuda em caso de necessidade

Quando não é hora de deixá-lo sozinho

  • Ele não se interessa em aprender tarefas doméstica
  • Ele fala abertamente que não quer ficar sozinho
  • Tem algum tipo de necessidade especial
  • Não respeita as regras básicas do dia a dia
  • Gosta de permanecer em locais de risco
  • É muito curioso, impulsivo e não tem muita noção de perigo