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Mãe cria rede de babás voluntárias pra cuidar de filhos de quem fará Enem

Francieli com a filha Maria Lua: no dia do Enem, uma babá ajudou - Arquivo Pessoal
Francieli com a filha Maria Lua: no dia do Enem, uma babá ajudou Imagem: Arquivo Pessoal

Vanessa Fajardo

Colaboração para Universa

26/10/2019 04h00

Quando foi fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2016, em São Paulo, a cantora Franciele Nóbrega, de 23 anos, contou com a ajuda de uma babá voluntária. Ela não tinha com quem deixar a filha Maria Lua, na época com 1 ano, e uma mulher chamada Bel cuidou da garota gratuitamente enquanto ela fazia as provas do governo federal para conseguir uma vaga na universidade.

"Antes do Enem, a Bel passou uma tarde com a gente, foi conhecer minha filha, me conhecer. É uma mulher maravilhosa, me senti bem segura. Nos dias das provas, ela foi buscar minha filha, levou para casa dela, e depois me trouxe de volta. Foi muito especial", conta Franciele.

Franciele foi uma das beneficiadas do projeto Mãe no Enem, criado pela jornalista Fernanda Vicente, de 40 anos, naquele ano, para conectar babás voluntárias e mulheres inscritas no exame que precisam de uma rede apoio para cuidar das crianças enquanto estão nas provas. Em 2016, o projeto atendeu 42 mulheres em todo o país; em 2017, foram 30. No ano passado, ele não foi realizado.

Fernanda Vicente e Davi - iStock - iStock
Fernanda Vicente e Davi: ela criou uma rede de babás
Imagem: iStock

Agora em 2019, o Mães no Enem chega em sua terceira edição. O Enem será aplicado em todo o Brasil nos dias 3 e 10 de novembro, dois domingos. São 3.031.828 mulheres inscritas, que representam 59,5% do total, a maioria tem entre 21 a 30 anos, segundo o Ministério da Educação.

O projeto funciona assim: mulheres com mais de 18 anos que moram no Brasil podem se candidatar a ser uma das babás voluntárias. Para isso, precisam preencher uma ficha com dados pessoais, e fornecer algumas informações secundárias, como com quem mora, ou ainda, se prefere cuidar de crianças na faixa etária de 0 a 6 anos, ou de 6 a 12 anos. É necessário encaminhar documentos digitalizados e comprovante de endereço.

As mães que precisam solicitar o serviço também preenchem ficha cadastral e fornecem informações sobre os filhos. O que o projeto faz é cruzar os dados, principalmente a localização, dos dois lados, e quando consegue aliá-los realiza a aproximação entre mãe e voluntária.

"Mandamos um e-mail copiando as duas partes, fazendo as devidas apresentações. Aí elas se contatam e conversam, marcam encontros pessoalmente, conhecem uma a casa da outra e fazem a adaptação da criança quando possível. Mas a partir daí é uma parceria entre elas", explica Fernanda, que é mãe do Davi, de 10 anos.

Caso as mulheres fechem a parceria, é assinado um termo de responsabilidade e cada uma das partes envolvidas, uma representante do projeto inclusa, fica com uma via.

Empatia e sororidade

A ideia do Mães no Enem surgiu em 2016 quando Fernanda resolveu fazer um post em sua página pessoal do Facebook se oferecendo para cuidar do filho de alguma candidata que faria o Enem em Santos, cidade onde mora.

"O post viralizou e em 24h já tinha umas 120 mulheres me procurando para falar que também queriam ajudar. Aí decidi criar uma página para organizar e cadastrar essas pessoas interessadas", explica Fernanda. Em dois meses, ela cadastrou mais de 240 mulheres interessadas em ajudar e que precisavam de ajuda. Foi aí que decidiu então abrir oficialmente o projeto e iniciar o trabalho de conexão entre essas mulheres, que é feito 100% manualmente. "Ainda não conseguimos uma parceria para criarmos o aplicativo. É algo que temos muita vontade e necessidade."

Para Fernanda, o Mães no Enem é uma maneira de empoderar e fortalecer as mulheres. "Todo o projeto é sem fins lucrativos, apartidário. Sabemos como é difícil conciliar maternidade, estudo, trabalho. Muitas dessas mães são periféricas, de baixa renda, tiveram filhos muito novas. Com todo o contexto machista, patriarcal, pensam em desistir, não acreditam que vão chegar lá, por isso oferecemos esse suporte."

Maria Lua e a babá Bel - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Maria Lua e a babá Bel: ajuda importantíssima
Imagem: Arquivo Pessoal

Com o exame que fez em 2016, Franciele conseguiu pontuação suficiente para ser contemplada com uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni) para cursar pedagogia, mas acabou desistindo para investir na carreira na música. Hoje ela vai lançar seu primeiro álbum como cantora e toca bateria no musical Elza, que conta a trajetória de Elza Soares, em cartaz em São Paulo.

"Foi muito importante a vivência que tive no 'Mães no Enem'. A gente conversa tanto sobre a união e a força feminina, mas às vezes parece algo distante. Temos muito carinho pela Bel [a babá voluntária]. Consegui voltar para o mercado de trabalho e sempre estarei disposta a ajudar outras mães, como retribuição."

Quem quiser participar, ser voluntária ou solicitar ajuda do Mães no Enem deste ano, pode entrar em contato pelo email maesnoenem2019@gmail.com até quinta (31).