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Mulher ajuda neta em parto improvisado dentro de casa e vira heroína no PI

Jucineia Araújo de Castro segura o bisneto Oto - Arquivo pessoal
Jucineia Araújo de Castro segura o bisneto Oto Imagem: Arquivo pessoal

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

16/10/2019 15h25

Eram 4h de segunda-feira (14), quando a advogada Nara Letícia, 29, acordou sentindo cólica. Grávida de 37 semanas, ela estava em casa, em Teresina, com tudo pronto para, a qualquer momento, ir à maternidade dar à luz Oto. Mas o destino quis que o bebê não desse aviso prévio e nascesse pelas mãos de sua bisavó, a viúva Jucineia Araújo de Castro, 77.

Nara Letícia afirma que não sentiu qualquer sinal que indicasse que havia chegado a hora de Oto nascer. Por isso, sequer acordou o marido ao sentir as dores.

"Eu acordei sentindo cólica, mas não achei que iria nascer porque não tive outros sintomas normais como a bolsa romper ou sentir contrações. Era apenas uma cólica e fui até o quarto de minha avó. Eu sentia uma pressão forte e pedi pra ela olhar. Deitei na cama e aí ela disse: 'o neném está nascendo'", conta ela, que já é mãe de Antônio, de 2 anos.

A bisavó de Oto havia chegado no dia anterior de São Raimundo Nonato (522 km de Teresina) para assistir ao nascimento do bisneto e ajudar nos primeiros dias, mas acabou sendo surpreendida pela urgência.

"Quando ela disse que estava nascendo, deitei rapidamente, e meu esposo ligou para o médico avisando. Mas não deu tempo de ir ou ele chegar", explica Nara.

Nara Letícia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Nara Letícia e o filho Oto
Imagem: Arquivo pessoal
Para a mãe de Oto, a forma do nascimento foi algo totalmente inesperado. "Eu estava em acompanhamento com meu médico, estava tudo muito tranquilo na gravidez. Fiz o pré-natal direitinho, queria o parto normal --porque meu primeiro filho foi parto normal--, e meu médico toda semana estava me avaliando e dizia que ainda não tinha dilatação", diz.

Na hora do parto, Letícia explica que sequer chegou a fazer força para o menino nascer e que todo o processo não durou 30 minutos. Mesmo assim, ela não esconde que teve medo e tentou segurar Oto em sua barriga.

Eu fiquei com medo porque eu sei que pode acontecer uma complicação, mas não tem como segurar. Eu agora costumo dizer que que criança não só não avisa quando vem, como não espera também. Eu ainda tentei fechar as pernas, mas não teve como e ele foi nascendo
Nara Letícia, que foi ajudada pela avó no parto

"Poderia ter acontecido algo mais grave, mas minha avó tirou, e graças a Deus ele nasceu bem. Uns cinco minutos depois do nascimento o médico chegou, mas o bebê já estava no meu colo", explica.

Homenagem ao bisavô

O destino ainda deu um ingrediente a mais na curiosa história: o nome Oto foi escolhido em homenagem ao avô de Nara, que era marido de Jucineia e morreu. "Eu já tinha colocado esse nome, tudo dele já tinha o nome Oto, e foi uma coincidência ter ocorrido nessa situação", diz a mãe.

Jucineia mora em São Raimundo Nonato e chegou para ajudar a filha nos dias iniciais. Para a família, ela é a avó cuidadosa que adora ajeitar e ficar perto dos parentes. "Vim pra ver o parto, nunca imaginei que fosse acontecer isso. Mas aconteceu", conta sorrindo a bisavó de Oto, orgulhosa e feliz com o feito.

Ela afirma que já havia trabalhado na parte burocrática em uma casa maternal, em São Raimundo Nonato, mas que fazer um parto era algo inédito. "Nunca tinha feito um parto, só tinha assistido quando era alguma amiga dando à luz", explica.

Sobre o parto, ela diz que conseguiu manter-se calma para ajudar a neta e o bisneto. "Eu disse a Lara: 'acalme-se e entregue a Deus'. Ela não ficou nervosa, e isso me ajudou, e eu também estava tranquila. Se ela ficasse nervosa eu ficaria também", relata.

Emocionada após a chegada do médico e vendo que tudo tinha dado certo, Jucineia pôde, enfim, chorar.

Só quando o médico chegou é que eu chorei. Mas na hora, não. Fiz como deveria ser feito. Deus ajuda a gente nessa hora porque se tivesse só ela e o marido dela só deus sabe o que teria acontecido
Jucineia Araújo de Castro, bisavó de Oto

A bisavó ainda lembra que ficou muito feliz quando soube que o bisneto se chamaria Oto. "Há 22 anos meu esposo morreu, e Lara era muito apegado a ele, e ele era apegado a ela. Fiquei muito feliz em saber da escolha, foi outra emoção", finaliza.

Em casa, Oto já recebeu visita de médicos, amigos e familiares, que puderam constatar a saúde do pequeno bebê. "Está tudo bem com ele, saudável e mamando", diz a mamãe, ciente de que terá uma bela história para contar ao novo integrante da família quando ele crescer.