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De câncer a hidrocefalia, elas ficaram à beira da morte e sobreviveram

Carolina Prado e Letícia Rós

Colaboração para Universa

22/06/2018 04h00

Receber a notícia de que se está diante de um elevado risco de morte, com um prazo de expectativa de vida de apenas alguns meses, é, obviamente, um choque. Mas as entrevistadas a seguir deram a volta por cima e contam à Universa suas trajetórias.

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“Superei dois cânceres mudando radicalmente meu estilo de vida”

Amábile Pereira - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

“Fui diagnosticada com câncer de mama quando tinha 29 anos. Estava no começo quando descobrimos, então, foi uma tristeza, claro, mas eu fui confiante para o tratamento. Fiz todo o processo de medicação, acompanhamento etc. Mas o que me deixou sem chão mesmo foi descobrir, dois anos depois, um tumor na tireoide. O médico, na época, me falou que, se fosse para escolher, dentre todos os tumores, eu havia desenvolvido o mais tranquilo. ‘Mas isso não significa que não mate’, ele me disse. A frase ficou na minha cabeça por muito tempo. Só que, em vez de desanimar, usei isso como um impulso para mudar a minha vida. Fiz a cirurgia e comecei com a iodoterapia. O médico me disse que eu precisaria me exercitar, se vencesse a doença. Eu, que era totalmente sedentária, comecei com exercícios funcionais, depois iniciei a caminhada e, enfim, a corrida. Quando vi, já estava participando de eventos e minha última prova foi de 42 quilômetros. Também tomei outra decisão importante: saí da empresa em que atuava como publicitária, porque eu trabalhava demais, não respeitava meu corpo e tenho certeza que foi por isso que fiquei doente. Abri a minha agência de Marketing Esportivo, voltada à captação de patrocínio para atletas, eventos e para as vendas das mais alucinantes provas de corrida de rua e montanha. Hoje, sou outra pessoa. Passei mais duas vezes na fila da alegria, me sinto mais viva, com gás renovado.”

(Amábile Pereira, 36 anos, publicitária e atleta amadora de corrida de montanha)

“Nasci com hidrocefalia, mas não tenho mais nenhum vestígio da doença”

Carolina Ribeiro Moraes - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

“Eu nasci prematura, de sete meses. Três meses depois, veio o diagnóstico de hidrocefalia e começou a corrida para o hospital. Os médicos não me davam um ano de vida devido aos riscos que eu corria. Mas, graças ao empenho da minha mãe e ao tratamento que recebi, logo que foi descoberta a doença, estou contando essa história hoje. A hidrocefalia é uma doença que causa um acúmulo de líquido no nosso crânio e a cabeça começa a inchar. Pode dar má formação nas pontas dos dedos, das mãos e dos pés, além de outras deficiências. Algumas pessoas, quando sobrevivem, não conseguem andar nem falar direito. Então, por isso, eu digo: ‘Pô, eu sou muito, muito sortuda’. Fizeram uma cirurgia muito bem-sucedida em mim, para implantar uma válvula com um pequeno dreno, que leva o líquido que sobra do crânio para escoar em alguma parte do corpo. No meu caso, puseram na bexiga, o que resultou em alguns anos de incontinência urinária. Mas, com o tempo, consegui controlar esse sintoma. A única coisa que havia ficado de vestígio da doença era uma dor de cabeça muito forte, tão forte que provocava vômitos. Mas eu sempre tive muita força de vontade, busquei ajuda médica e me curei disso também. Hoje, só faço acompanhamento, mas estudo e trabalho, estou terminando minha monografia, inclusive. Por conta da hidrocefalia, eu não tenho mais nada de sequela.”

(Carolina Ribeiro Moraes, 22 anos, estagiária)

“Fui intoxicada com veneno e o médico me deu três meses de vida”

Edna da Cruz Silva - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

“Eu tinha 25 anos quando comecei a trabalhar. Prestava serviço para combater o mosquito da dengue nas casas e lá diziam que os venenos não intoxicavam, que só faziam mal para o mosquito. Mas passados oito, nove meses, comecei a me sentir mal, ter fraqueza, desmaio e não sabia o porquê. Passei por vários tratamentos e só fui piorando. Tinha vômitos, diarreias, tremores várias vezes ao dia, cheguei a pesar 30 quilos e não conseguia nem sair casa. Nessa época, os médicos me deram mais três meses de vida e só, quando identificaram a intoxicação por produto organofosforado. Cheguei a pensar em suicídio, fiquei desesperada, mas minha mãe nunca desanimou, me tratava em casa com ervas, me levava a outros especialistas. Graças a ela, acabamos encontrando uma médica que se interessou pelo meu caso. Agora eu sei que o meu problema não tem cura, mas, com os remédios certos e a minha autoestima recuperada, voltei a comer, a sair de casa para fazer minhas atividades, a dirigir, a viver. Sei que se eu não tivesse ficado tão ruim, eu não teria reconhecimento de várias coisas boas da minha vida. Cada dia que passa eu agradeço por estar viva. Aprecio mais a natureza, os meus amigos, voltei a tocar violão e a fazer animação infantil, me vestindo de palhaça. Como forma de retribuição, também visito hospitais e procuro dar energia boa a quem precisa. De uma coisa ruim que aconteceu comigo, eu tirei muitas lições positivas.”

(Edna da Cruz Silva, 51 anos, aposentada)

Agradecimento: Míria de Amorim, médica e fundadora do Instituto BioFAO.

“Tive paralisia cerebral e levo uma vida normal”

Maria Rita de Cássia Leonardo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

“Nasci de oito meses. Minha mãe, mesmo surpresa com o parto inesperado, se chocou ainda mais com a informação de que eu não possuía a ligação entre o esôfago e o estômago e precisaria operar antes de completar 48 horas de vida. Correu tudo bem na cirurgia. O problema foi que tive duas paradas cardiorrespiratórias logo depois e, em uma delas, tive uma perda de oxigênio por um período de tempo longo o suficiente para atrofiar duas áreas do meu cérebro. A sequela foi a paralisia cerebral. As minhas chances de sobreviver eram pequenas e menores ainda as chances de não ficar em estado vegetativo ou com dificuldades motoras, intelectuais ou de interação social. Foi isso o que os médicos disseram para os meus pais, na época. Mas eles nunca ficaram desesperançados, não desistiram de mim e isso fez a diferença. Quando comecei a entender o meu quadro, também fiz a minha parte, tive que passar por vários tratamentos até a minha adolescência, sem parar... Fisioterapia, fonoaudiologia, tudo o que os médicos indicaram. O cuidado dos meus pais e das pessoas ao meu redor foi importante, assim como o fato de eles me tratarem como uma criança normal, entendendo que eu precisava de um tratamento e de um tempo a mais para uma série de atividades, mas, mesmo assim, permitindo o meu desenvolvimento. Hoje, tenho sequelas leves, uma pequena dificuldade de andar em terrenos instáveis e uma dicção natural como se eu usasse aparelho. Mas minha vida é normal, cursei alguns anos de licenciatura em História na Unesp e estou estudando para outro vestibular. Sempre que vou a algum médico novo, ele fica muito surpreso ao ouvir a minha história e perceber que sou totalmente saudável.”

(Maria Rita de Cássia Leonardo, 23 anos, estudante)