Natalia Timerman

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Opinião

Meu filho perguntou: para quem a gente torce nessa guerra?

Escutávamos o rádio a caminho da escola quando nosso filho perguntou: pai, mãe, para quem a gente torce nesta guerra?

Nunca foi tão difícil responder. Nós condenamos o massacre de civis, seja de que lado for, ocorra ele de uma só vez ou ao longo dos anos; mas agora não é tão simples distinguir quais são os lados. Quem, afinal de contas, é um país? O seu governante? As pessoas que vivem e trabalham nele? Um grupo pode ser confundido com um todo heterogêneo? A mancha de violência, ao que parece, iguala o que é e deveria ser mantido distinto.

Antes que a primeira palavra me saísse da boca para responder ao meu filho, flashes me passaram pela cabeça. Imaginei alguém que tenha ido dormir em sua própria casa na sexta passada sem suspeitar que aquele seria seu último dia de vida. Ou que veria suas filhas e sua esposa sequestradas por um grupo do país vizinho e que aquela cena marcaria para sempre sua vida, seja qual for o desfecho da história. O medo em estado puro. O terror.

Antes que a primeira palavra me saísse da boca, imaginei hospitais sem água e sem comida, imaginei o som dos bombardeios, o temor por simplesmente existir ao longo dos anos. Imaginei um pai que segura seu bebê morto no colo e chora o que aquele corpo sem vida não pode mais chorar. O medo em estado puro. O terror.

Ainda em silêncio, tentei imaginar como seria se nossos vizinhos nos atacassem por sermos governados por um genocida, mesmo que muita gente estivesse lutando contra esse mesmo genocida.

Algumas certezas que conseguiria dizer ao meu filho em voz alta: o Hamas é uma organização terrorista que tem em seu estatuto a destruição total de Israel, sua eliminação completa do mapa. Penso no amigo com quem falei pela manhã, lembro dos seus olhos apreensivos, se fechando a cada som de explosão. Penso nos meus primos que moram em Israel. Com o Hamas não é possível compactuar, mesmo que sua existência se deva à opressão reiterada por anos por Israel mesmo.

Tanto Israel quanto a Palestina têm o direito de existir e de proporcionar a seus cidadãos uma vida segura e de paz. O Hamas não é igual ao povo palestino, e boa parte dos palestinos se incomodariam com essa confusão.

Do conforto de um sofá distante da guerra, com celular e ideias apressadas em punho, é fácil se posicionar com base em ideias redutoras. É fácil gritar slogans que vêm de palavras impressas a tinta, é fácil defender a violência sem ouvir o som real e desesperado dos gritos nem sentir o cheiro do sangue. Mas a Palestina só será livre sem Benyamin Netanyahu e sem Hamas.

Respondi ao meu filho: nesta guerra, a gente torce pelas pessoas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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