Natalia Timerman

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Opinião

Como se trabalha, como se cuida de um filho, como se escreve com depressão?

O que Clarice Lispector, Franz Kafka, Sylvia Plath, Henry James e Vanessa Barbara têm em comum? Se você ler "Três camadas de noite", saberá que todos escrevem sobre, com ou apesar da depressão.

Quem já teve depressão sabe como é diferente olhar de dentro e olhar de fora para o sofrimento psíquico. Sabe que as pernas podem não conseguir andar, mesmo não havendo nada visível que as impedisse.

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Muitas mães que padecem de depressão puerperal conhecem a mistura de amor, culpa, necessidade e impossibilidade que rege seu olhar para um filho que chegou. Um filho que sentem precisar delas a despeito da lentidão, da angústia descomunal, da barreira entre elas e o mundo, entre elas e o filho, que as impede de cuidá-los como gostariam.

A literatura e o mito talvez sejam os melhores lugares para enxergar esse abismo que, de tão humano, parece inumano. É precisamente isso — literatura, mito — o que Vanessa Barbara conjuga, nesse romance que chega aos confins da esperança da única maneira possível: com humor.

"Três camadas de noite", recém publicado pela editora Fósforo, é um sofisticado mergulho triplo. Alternando a história de escritores que tiveram a vida e a escrita marcada pela depressão com a sua própria, imbricando tudo com mitologia -- a narradora sem nome é estudiosa e está traduzindo um livro sobre o assunto --, rodopiamos e saltamos com a segurança de uma escrita firme, mesmo para falar das pernas que bambeiam para andar.

Desde "O livro amarelo do terminal", livro-reportagem de 2008, a escrita de Vanessa Barbara me intriga e surpreende. Como é possível que a rodoviária do Tietê vire objeto de literatura? A resposta que tenho hoje é: da mesma maneira que a depressão. Tudo, nas mãos da escritora magnífica que Vanessa é, pode virar literatura.

A narradora de "Três camadas de noite" escreve às madrugadas, sob o jugo da insônia, como faz a própria autora. Quando não há o que se fazer, se escreve, e então a depressão vira palavra, não para curar, mas porque é isso o que uma escritora faz, uma escritora escreve.

Seja sobre uma rodoviária, seja sobre um quadro depressivo desencadeado pelo puerpério e pela pandemia, quando o isolamento e a privação de sono se combinam e tornam sua existência um inferno, seja sobre o que for. Sorte a de quem, conhecendo ou não a depressão, conhece a literatura de Vanessa Barbara.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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