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Desligar o celular por 5 minutos garante proteção contra hacker?

Celular desligado ou em modo avião - Getty Images/iStockphoto
Celular desligado ou em modo avião Imagem: Getty Images/iStockphoto

Rafael Souza

Colaboração para Tilt, de São Luís (MA)

15/07/2023 04h00

Todos nós temos uma responsabilidade. Coisas simples: desligue o telefone todas as noites por cinco minutos. Para as pessoas que estão assistindo: façam isso a cada 24 horas, enquanto escovam os dentes ou o que quer que estejam fazendo. Anthony Albanese, primeiro-ministro da Austrália

A declaração despertou a atenção dos cidadãos e do mundo digital. Para Anthony, a recomendação faz o país ser mais proativo para impedir riscos cibernéticos, pois desligar o celular uma vez por dia é uma medida de segurança. Mas será mesmo?

Tilt foi atrás da explicação. E, em parte, o político está certo.

De forma adaptada, a prática sugerida pelo primeiro-ministro da Austrália está presente em um documento publicado em 2021 pela NSA (Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos). A lista de boas práticas elaborada pela instituição inclui, porém, reiniciar os smartphones uma vez por semana.

A razão por trás da medida sugerida por Albanese é que aplicativos maliciosos podem estar sendo executados em segundo plano no aparelho. Por isso, reiniciar o celular regularmente seria uma medida inteligente de fechar esses aplicativos.

Priyadarsi Nanda, professor sênior da Universidade de Tecnologia de Sydney, disse ao jornal "Guardian" ter conhecimento de pessoas que simplesmente esquecem por meses de reiniciar os celulares.

Sabemos de casos em que as pessoas não desligam seus telefones por um ano inteiro, pessoas que dependem do despertador, que podem estar usando 24 horas por dia. Priyadarsi Nanda

Outros especialistas no assunto concordam que a medida pode funcionar em alguns casos. Mas alertam que, atualmente, os hackers mais sofisticados já utilizam métodos para manter ataques mesmo se o celular é reiniciado.

Uma das coisas mais constantes em vírus de computador —e smartphones são computadores— é algum mecanismo de sobrevivência a desligamentos e reboots. Portanto, desligar por cinco minutos ou simplesmente rebootar só irá causar ao malware sua reativação, através dos mecanismos legítimos ou não disponibilizados pelo sistema operacional do smartphone. Acontece da mesma forma como aos demais aplicativos que já estavam rodando legitimamente. Pelo menos no iOS é assim. Paulo Lício de Geus, professor do Instituto de Computação da Unicamp e especialista em cibersegurança

O professor da Universidade de Brasília e pesquisador na área de segurança cibernética Demétrio Antonio da Silva Filho também não vê sentido na estratégia. Ele recomenda, porém, a atualização periódica do aparelho para que o fabricante possa fazer as correções ao identificar falhas de segurança.

"Se um programa já estiver rodando no celular, ele [o aparelho] já está comprometido. Os ataques vêm de fora para dentro. Se há uma falha de segurança, eles duram um tempo mínimo para explorá-la. Assim, desligar o celular por 5 minutos só reduziria de 5/1440 (a fração de minutos do dia) a possibilidade do celular não ser invadido", afirmou.

Por fim, o delegado da Polícia Civil do Maranhão e especializado em crimes cibernéticos Guilherme Campelo entende que reiniciar o celular pode ser encarado como medida de segurança, mas é preciso entender que são outras atitudes que irão dar ao aparelho um maior nível de segurança.

De certa forma, isso chama a atenção do público para a prevenção em geral, mas a medida deve ser aliada com a atualização constante do sistema operacional e antivírus para blindá-lo contra as diversas versões de malware, bem como não clicar em links suspeitos. Guilherme Campelo, delegado da Polícia Civil do Maranhão