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'Moço, esse fone é meu': ele rastreou Airpods por dias até pegar de volta

Paulo Ribeiro, de 32 anos, vigiou o fone de ouvido por 10 dias - Arquivo Pessoal
Paulo Ribeiro, de 32 anos, vigiou o fone de ouvido por 10 dias Imagem: Arquivo Pessoal

Abinoan Santiago

Colaboração para Tilt, em Florianópolis

04/04/2023 04h01Atualizada em 06/04/2023 08h44

"Jamais iria desistir, sou brasileiro", afirmou a Tilt o advogado Paulo Ribeiro, 32, que "stalkeou" por dez dias cada movimentação dos seus fones de ouvido perdidos na academia. A pessoa que achou os AirPods em questão não os devolveu nesse período.

O relato de Ribeiro já registrou 9 milhões de visualizações, cerca de quatro vezes mais do que a população de Guarulhos, onde a saga em busca dos fones se desenrolou.

Tinha pouco mais de 30 seguidores no Twitter. Na academia, sobrou um tempo, escolhi um arsenal de memes e fui construindo uma thread do que aconteceu. Tive 10 curtidas e para mim já era um hit. Do nada, quando entrei de novo, vi 20 mil curtidas. Pensei logo que era algum nude vazado. Paulo Ribeiro, em entrevista a Tilt.

A caça aos AirPods

O advogado importou o par dos AirPods, da Apple, em dezembro de 2022. Na época, pagou cerca de R$ 2 mil à vista.

Entre uma série e outra na academia, ele tirou os fones para conversar com um amigo e acabou os esquecendo, dentro da caixinha, em um dos aparelhos.

Decidiu tentar rastrear a localização do dispositivo usando uma função nativa da Apple, do aplicativo "Buscar". Pegou seu iPhone, entrou com usuário e senha e esperou a atualização do sistema.

No entanto, os AirPods apareciam como se estivessem na casa do advogado, com data de um dia anterior à ida à academia.

Achei estranho e reconfigurei o AirPod após ver um tutorial. Assim que atualizei a localização, meu coração saltou à boca. Ele estava em um bairro distante de onde eu moro e vi no mapa o fone se movendo de um lado para outro. Paulo Ribeiro

Após o susto, Ribeiro colocou o fone em "modo perdido". Assim, sempre que ele entrasse no aplicativo de localização da Apple, os AirPods emitiriam um sinal sonoro de alerta.

"Fiz isso também para ele ter ciência de que era de outra pessoa. Assim começou minha saga, com meus conhecimentos de CSI [série de investigação criminal]. Já estava na chuva mesmo...", lembra.

Ribeiro precisou viajar logo em seguida. Foi aí que adotou como "hobby" vigiar os AirPods ao longo do dia, criando uma rotina de prints de tela da localização de manhã, à tarde e à noite.

"Vi que ele não estava na cidade e já imaginei que poderia estar negociando uma possível venda. Também percebi que a pessoa carregava o aparelho, porque aparece o nível da bateria no aplicativo. Isso era péssimo, porque parecia que estava stalkeando alguém. Uma falsa sensação de controle de algo e uma angústia de não poder fazer nada."

No oitavo dia stalkeando o próprio dispositivo, o advogado voltou a Guarulhos e adotou outra estratégia:

Primeiro, procurou a academia. Mas descobriu que o aparelho onde esqueceu os fones estava em um "ponto cego da câmera". Ou seja, nada de provas de quem havia encontrado os fones.

No nono dia, foi até a uma casa indicada pela localização. Chegando ao local, não havia ninguém. Um vizinho, no entanto, perguntou se estava procurando pelo dono da residência, o que fez o advogado conseguir um prenome como pista.

"Cheguei a ficar a 2 metros de frente para a casa onde o fone estava, mas realmente não havia ninguém ali".

Ao retornar à academia, o sistema apresentou mais de 6 mil alunos com o mesmo nome, o que o fez abrir mão de tentar contato individualmente com cada matriculado.

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No décimo dia, Ribeiro disse ter acordado "determinado". Olhou no mapa às 7h e viu que o aparelho estava parado a apenas 5 minutos de distância de sua residência.

Nesse momento, fui lá e era uma rua residencial. Fiquei dentro do veículo e observei. Desci do carro e o localizador realmente deu que eu estava perto.

"Fiquei entre duas casas e não poderia errar. Nisso, uma moça com o emblema de portaria no peito entrou em uma delas. Era uma empresa descaracterizada. Em dois minutos, respirei fundo e toquei a campainha. Essa moça me atendeu e eu disse que eu queria fazer um orçamento", acrescenta.

'Moço, esse aparelho é meu'

Ao ser direcionado para um vendedor, Ribeiro viu que estava a 2 metros dos AirPods por meio do sistema de rastreio exibido no iPhone. Nisso, acionou o alerta sonoro do modo perdido no aplicativo.

"Bati o olho nele e não tive nenhuma dúvida de que já havia visto a pessoa na academia várias vezes. Com sorriso no rosto, ele me atendeu e virou as costas. Nesse momento, entrei no aplicativo e acionei o alarme, apitando no bolso dele. Mesmo assim, ele continuou o atendimento e eu colocando para apitar", recorda.

O advogado frisa que insistiu no alerta sonoro, até que a pessoa pegou os AirPods do bolso e os mostrou dizendo "que não era nada". Era a chance que Ribeiro precisava.

"Eu peguei o AirPod da mão dele e falei, 'moço, esse aparelho me pertence'. A alma do cara saiu do corpo, ficou estatizado por 5 segundos que pareceram 30 minutos".

Só pedi para sair e disse que 'estava limpo'. Ele pediu para falar comigo fora da empresa e pediu desculpas. Eu falei do transtorno, pois usava para trabalhar. Ele ficou chocado, principalmente quando soube que fui à casa onde morava e mostrei por onde andou todos esses dias, inclusive na praia. Ele confirmou os locais. Paulo Ribeiro, advogado

Eu peguei da mão dele, disse c cara bem fechada:
- fera tá limpo, tá limpo pic.twitter.com/pNHADFXMiL

? ribeiro (@ribeiro_dez) March 30, 2023

Dias depois, Paulo afirma que chegou a se encontrar com a pessoa na academia. Detalhe: ela treinava sem fones.

"Ele deu um 'joinha' meio amarelado para mim. Retribui o gesto e fingi que nada aconteceu. Vida que segue." O advogado decidiu não registrar nenhuma queixa formal contra quem encontrou o fone.

Apesar da saga de Ribeiro ter terminado bem, a ação de ir pessoalmente até um endereço em caso de perdas, roubos e furtos não é recomendada por questões de segurança. Não é possível saber quem você encontrará no local.

Na dúvida, formalize o caso em um boletim de ocorrência e forneça os dados de geolocalização.

"Essas questões de segurança passaram, realmente, pela minha cabeça. Será que minha vida valia R$ 2 mil? Mesmo assim, eu mantive a calma e conhecia bem o bairro virtualmente para saber onde estava me metendo", diz o advogado.

Viral rendendo até paquera na internet

Com a repercussão da história, os 30 seguidores no Twitter viraram 1,2 mil, número que, para ele, é considerado expressivo.

"O importante foi que muita gente foi se identificou com a história. Quando chegou a milhões de visualizações, foi a minha alma que saiu do corpo porque sou reservado e nem tinha Facebook e Instagram", comentou o advogado, que agora disse lidar com paqueras e reencontros virtuais com amizades antigas por causa da fama repentina.

"Amigos começaram a mandar mensagem, rolaram muitas DMs com paqueras do tipo 'ah, vou pegar seu AirPod para vir pegar na minha casa', 'nossa, que bonito'. Foram muitas brincadeiras. Eu até brinco dizendo, 'Boninho, estou pronto para entrar no BBB'", conclui.