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Artemis 2: conheça a primeira mulher e o primeiro negro em missão à Lua

Marcella Duarte

De Tilt, em São Paulo (SP)

03/04/2023 15h19Atualizada em 10/04/2023 17h16

Foram anunciados hoje (3) os quatro astronautas que farão uma viagem ao redor da Lua no ano que vem, na missão Artemis 2. São eles: Victor Glover, Christina Koch e Reid Wiseman, da Nasa, e Jeremy Hansen, da CSA (Agência Espacial Canadense).

Esta será a primeira missão tripulada rumo à Lua em mais de 50 anos, desde a era Apollo. Eles chegarão bem perto de nosso satélite mas ainda não pisarão nele — isso acontecerá apenas na Artemis 3, prevista para 2025.

Por si só já é algo histórico, e mais ainda por incluir uma mulher e um negro. Todos os astronautas que já foram à Lua eram homens brancos.

Eles foram escolhidos entre quase 50 candidatos. "Estes exploradores representam o melhor da humanidade, ousando forjar novas fronteiras no espaço em nome da humanidade", diz a Nasa em seu site.

Protagonismo feminino

O primeiro nome revelado foi o de Christina Koch, 44, que será especialista da missão. Ela é uma astronauta experiente, selecionada pela Nasa em 2013. Formada em engenharia elétrica e física, fez história como engenheira de voo nas expedições 59, 60 e 61 da Estação Espacial Internacional (ISS).

Inicialmente, sua viagem iria durar apenas alguns meses, mas imprevistos fizeram com que ela passasse quase um ano na ISS: foram 328 dias seguidos, entre março de 2019 e fevereiro de 2020. Assim, Koch bateu o recorde de mulher que passou mais tempo no espaço, apenas 12 dias atrás do número masculino. E mais: durante 288 deles, ela era a única tripulante na estação, também quebrando o recorde de mulher que passou mais tempo sozinha em órbita.

"Sua motivação é implacável e incomparável", disse Norm Knight, diretor da Nasa e um dos mestres de cerimônia, ao anunciar o nome da astronauta. Durante a longa estadia no espaço, ela realizou os mais diversos experimentos científicos, incluindo uma horta espacial e uma impressora de órgãos humanos, e participou da primeira spacewalk (caminhada do lado de fora da ISS, para realizar reparos) totalmente feminina, ao lado da colega Jessica Meir.

Das 591 pessoas diferentes que já foram ao espaço em missões orbitais, apenas 71 foram mulheres.

'Top gun' da vida real

Victor Glover, 46, será o piloto da missão. "Este é um grande dia", disse durante o anúncio, em Houston, Texas. "Temos de celebrar este momento da história humana". Ele acrescentou que viagens espaciais são como uma corrida de revezamento, com cada tripulação passando a tarefa para a próxima.

Glover é engenheiro e comandante da Marinha dos Estados Unidos e um experiente piloto de caça F/A-18 — o mesmo do filme Top Gun Maverick —, com mais de 3.000 horas de voo. Seu código de chamado é "Ike", de "I know everything" (eu sei tudo, em inglês). Ele participou de operações militares no Iraque e no Japão.

Após completar o treinamento de astronauta, em 2015, ele foi selecionado para a tripulação do primeiro voo opercional da cápsula Crew Dragon, dentro do programa comercial em parceria com a SpaceX. Membro das expedição 64/65, passou seis meses na ISS, se tornando o primeiro afro-americano a de fato viver na estação — e não apenas fazer uma breve visita, como aconteceram algumas vezes durante as viagens do Ônibus Espacial.

Até hoje, a Nasa mandou somente 14 negros ao espaço, entre o total de seus mais de 300 astronautas.

Comandante experiente

O comandante da missão será o veterano Reid Wiseman, 47, que começou a carreira como piloto de testes. Selecionado como astronauta em 2009, ele foi engenheiro de voo da missão 40/41 da ISS, passando 165 dias no espaço.

Em 2020, foi promovido a Chefe do Escritório de Astronautas da Nasa, coordenando o treinamento e seleção dos candidatos. Renunciou ao cargo para voltar a ir ao espaço — e chegar na Lua.

Primeiro canadense

São três astronautas dos Estados Unidos e um do Canadá — o país vizinho garantiu seu assento após desenvolver um moderno braço robótico para o programa de exploração lunar. Jeremy Hansen, 47, será especialista da missão.

É o único que nunca foi ao espaço, mas tem sólida formação. Piloto desde os 12 anos de idade e graduado em ciência espacial e física, foi selecionado pela CSA em 2009. Trabalhou no Centro de Controle da Missão (especialistas em Terra que monitoram a ISS) e chefiou cursos de novos astronautas da Nasa.

Cronograma

A missão Artemis 2 está prevista para ser lançada em novembro de 2024. Será o primeiro voo com astronautas a bordo da cápsula Orion, impulsionada pelo enorme foguete SLS (Sistema de Lançamento Espacial).

Eles farão "apenas" um sobrevoo de dez dias, contornando o lado oculto da Lua, a cerca de 400 mil quilômetros da Terra, e chegando o mais distante no espaço profundo que qualquer ser humano já foi.

Em 2025, finalmente, o objetivo da Artemis 3 é "alunissar" (aterrissar na Lua) e desembarcar a tripulação no polo Sul, um local diferente e mais desafiador do que os visitados durante as missões Apollo. Nenhuma pessoa, nem sequer uma missão robótica, já pousou lá.

Mas ainda é preciso desenvolver um sistema de pouso para isso; o plano é usar a nave Starship, da SpaceX, que ainda está em fase de testes. Também são necessários novos trajes espaciais, que garantam maior proteção contra o inóspito ambiente lunar — um protótipo foi apresentado em uma polêmica versão preta.

A última vez que alguém pisou na Lua foi em dezembro de 1972, na Apollo 17, viagem final do icônico programa que levou um total de 24 astronautas até a órbita da Lua (12 deles pisaram em solo lunar), todos homens brancos.

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Gene Cernan pausa para uma foto durante a missão Apollo 17, a última a ir à Lua; módulo de pouso e rover estão ao fundo
Imagem: Nasa

Se bem-sucedido e com verbas, a etapa seguinte do programa Artemis é instalar o "Lunar Gateway", uma pequena estação espacial que orbitaria nosso satélite e serviria de ponto de apoio para missões — o Canadarm3, braço robótico desenvolvido pelos canadenses, será usado aqui.

Em parceria com outras agências empresas privadas, como a SpaceX, a Nasa também pretende estabelecer uma base em solo lunar para manter presença humana constante por lá.

O grande plano futuro é que a Lua possa servir de entreposto para viagens mais longas pelo Sistema Solar, em especial a Marte — que, segundo as previsões mais otimistas, devem começar no fim da década de 2030.