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'Tem mais influencer que jogo': com ausência de Xbox, TikTokers dominam BGS

Estande da Twitch e Amazon tiveram filas de oito horas de espera - Adriano Ferreira/Tilt
Estande da Twitch e Amazon tiveram filas de oito horas de espera Imagem: Adriano Ferreira/Tilt

Thaime Lopes

Colaboração para Tilt, em São Paulo

12/10/2022 11h25Atualizada em 14/10/2022 17h09

A BGS (Brasil Game Show) 2022 termina nesta quarta-feira (12) depois de seis dias direto de evento, o maior do tipo na América Latina. Com mais de 3 mil influenciadores confirmados, a primeira edição presencial após a pandemia de covid-19 fica marcada por ter sido mais um "Brasil Influencer Show" do que nunca.

Essa migração de foco foi sentida pelo público, pelos próprios influencers e pela reportagem. Ao passar pelos estandes, fossem eles de marcas de periféricos, televisores, consoles ou streaming, como foi o caso com os espaços do TikTok e da Twitch, a aglomeração deixava evidente que o burburinho maior envolvia o interesse nos famosos que estariam presentes.

Sem ter o que jogar, o interesse é outro

Quando a BGS foi anunciada com retorno presencial, os fãs esperavam encontrar, no mínimo, as três grandes tradicionais marcas: PlayStation, Nintendo e Xbox. A desistência da Microsoft de levar um estande para a BGS pegou muitos de surpresa.

Na época, internautas compartilharam publicamente a frustração com a falta do Xbox.

Com apenas PlayStation e Nintendo para preencher o espaço das grandes marcas, um dos maiores atrativos da BGS no quesito games sequer estava nesses estandes.

O Street Fighter 6, lançamento de 2023 da Capcom para consoles Xbox One, PS4 e PC, ocupou um estande pequeno quando comparado aos dos concorrentes. Mesmo com a possibilidade de testar o futuro jogo, em nenhum dia de BGS houve filas grandiosas em torno do espaço.

Por outro lado, você sabia que estava perto dos estandes do TikTok, Twitch ou de qualquer marca que estava prestes a receber algum influenciador pela aglomeração que se formava ao redor dos palcos.

Letícia Marques, embaixadora do PlayStation no Brasil, ficou feliz com a atenção que recebeu do público durante a BGS, mas decepcionada com a falta de jogos para testar. "Apesar de sermos influenciadores, nós também somos consumidores e ficamos hypados e ansiosos com os lançamentos que estão para chegar", afirmou.

"Esse ano não tivemos isso com quase nada, com exceção do Street Fighter 6, e esperava como espectadora ter mais acesso a lançamentos e previews de jogos", completou.

O estudante Luís Felipe, 19, estava em sua terceira edição de BGS. Ele estranhou a quantidade de influenciadores neste ano. "Achei estranho porque, no fim das contas, é um evento de jogos, né? Três, quatro anos atrás as pessoas até zoavam uns com os outros se você falava que vinha tirar foto com youtuber. Agora, não. Tem muito mais influenciador do que jogo ou novidade."

Quando perguntado se tirou foto com alguém, ele comentou que pediu foto só para um streamer, e que preferia aproveitar para testar os produtos das marcas do que ir atrás "de gente famosa".

O movimento não é de hoje

Ainda que na edição 2022 a presença dos influenciadores tenha ficado muito mais evidente, vale lembrar que a BGS aposta em grandes nomes do mundo gamer já há vários anos.

Diana Zambrozuski, streamer com mais de 500 mil seguidores no YouTube, lembra de quando os youtubers começaram a frequentar a BGS, e mais especificamente o caso de Cellbit em 2014. Na ocasião, o criador de conteúdo foi expulso do evento após grande aglomeração de fãs na feira.

"Desde que começou a era dos youtubers, esse equilíbrio de jogos e influenciadores já deu uma balançada na BGS. Lembro quando o Cellbit foi e deu uma causada, mas até então era uma coisa muito nichada, só ia ver youtuber quem realmente acompanhava muito a gente na internet", lembra Diana.

A mudança de lá para cá é que a democratização da produção de conteúdo ganhou força com a chegada de outras plataformas de transmissão ao vivo. Isso fez a balança pesar ainda mais para o lado dos influenciadores, que dominaram completamente a BGS neste ano.

"Eu espero que os eventos comecem a valorizar cada vez mais os influenciadores, porque eles fazem a diferença na vida das pessoas. Muitas vezes um fã prefere assistir seu streamer favorito jogando um game do que ele mesmo jogar aquele jogo. E eu mesma como influenciadora vejo cada vez mais o público indo nos encontrar, porque somos parte da vida deles nas lives e nas redes sociais", concluiu.

Para Letícia Marques, até que foi natural que a atenção do público se voltasse aos influenciadores. "Por um lado foi muito bom, porque isso nos deu a possibilidade de nos aproximarmos muito mais do nosso público, ouvir o feedback deles, saber se eles estão curtindo nosso conteúdo."

E o Xbox vai voltar?

É difícil dizer. Diante do desafio de mais de dois anos de pandemia de covid-19, a Microsoft tem investido cada vez mais em transmissões ao vivo focadas em seu público para fazer anúncios de novos jogos e atualizações.

Ainda que a empresa tenha participado das edições online da E3 (feira internacional de games), em 2020 e 2021, e do Summer Gamer Fest neste ano, a ausência na BGS preocupa os fãs sobre um possível retorno da marca aos eventos presenciais.

Por enquanto, não há confirmação da presença do Xbox na edição de 2023 da E3, que acontecerá em Los Angeles, e nem na próxima Brasil Game Show.

Procurada pelo Tilt, a assessoria da BGS não nos respondeu sobre a ausência de grandes lançamentos este ano e nem se a organização pretende continuar investindo em grandes espaços para influenciadores nas próximas edições.