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Caiu e não explodiu? A tecnologia por trás da bomba não detonada na Ucrânia

Bomba FAB-500 encontrada na cidade de Chernihiv, segundo as Forças Armadas da Ucrânia - Reprodução/Twitter
Bomba FAB-500 encontrada na cidade de Chernihiv, segundo as Forças Armadas da Ucrânia Imagem: Reprodução/Twitter

Barbara Mannara

Colaboração para Tilt*, do Rio de Janeiro

15/03/2022 18h18Atualizada em 16/03/2022 08h22

Uma bomba de fragmentação OFAB-500 foi removida de dentro de um apartamento em Chernihiv, na Ucrânia, na última segunda-feira (14), após colidir com seu alvo — e não explodir no impacto. A cidade, ao norte do país, a cerca de 130 quilômetros da capital Kiev, foi uma das mais atingidas pelos bombardeios russos, e resultou em cenas impressionantes após três bombas aéreas chegarem ao solo sem detonar.

As informações são do Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia (DSNS), responsável pela extração dos dispositivos, e foram divulgadas pelo site de notícias Dailymail. Os explosivos foram removidos de regiões residenciais da cidade, que abriga cerca de 290 mil pessoas.

O explosivo precisou ser removido com todo cuidado para não explodir e foi extraído intacto. Tanto pelo seu tamanho robusto da bomba quanto pelo fato dela não ter sido detonada, o processo deu o que falar na internet.

Chernihiv é uma das quatro cidades ucranianas — além de Kharviv, Sumy e Mariupol — que continuam cercadas por tropas russas. Para entender como este e outros ataques aéreos pode falhar e despejar projéteis que não detonam no momento do impacto, Tilt conversou com o Professor Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), Reinaldo Camino Bazito para entender melhor.

Por que não explodiu?

Para entender melhor sobre a falha no funcionamento da bomba — e o que causou sua não-explosão — é necessário que a arma passe por uma investigação por parte da instituição ucraniana. O motivo exato, segundo o pesquisador, ainda é incerto.

Bazito explica que a detonação desse tipo de bomba é causada por um detonador, ou fusível de proximidade (em inglês, "fuze"), normalmente controlado de três formas: eletricamente, de detonação instantânea ou com atraso, conforme programado.

"Aparentemente, para esse tipo de bomba, é usado um detonador do tipo AVU-ETMA. Uma corrente elétrica aplicada no momento definido detona uma carga explosiva que faz com que todo o resto da bomba exploda", explica.

No entanto, uma das hipóteses é que o problema tenha sido uma falha elétrica. "Provavelmente por uma falha no detonador elétrico ou seus sensores. A carga elétrica não foi aplicada ao explosivo do detonador, que não detonou todo o restante", completa.

Remoção segura

Um vídeo, divulgado pelo site de notícias Dailymail e postado no Twitter pelo DSNS, mostra a remoção da bomba aérea. Todo o processo é feito com um guindaste e de forma muito lenta e cuidadosa. Especialistas em descarte de bombas ajudaram a carregar a arma na traseira de um caminhão para ser removida da área residencial.

Mas, você deve estar se perguntando, como desarmar uma bomba desse tamanho de forma segura? Claro, isso precisa ser feito por técnicos no assunto.

Bazito explica que provavelmente as equipes que desarmam bombas removem o detonador — normalmente instalado na parte frontal da bomba, rosqueado nela — para que ele não consiga detonar o restante do explosivo da bomba.

"Eu não sei como os especialistas lidam com isso na Ucrânia, mas normalmente quando se desarma uma bomba, ou ela deve ser desmontada de forma segura, com remoção da maior parte do explosivo — que nem sempre é um processo seguro — ou deve ser detonada de forma controlada em uma área não habitada", completa Bazito.

Perigo a longo prazo

Segundo o canal de notícias Fox10, a bomba do tipo OFAB-500, que foi removida sem explodir na residência ucraniana, funciona como fragmentação. Os explosivos dessa linha "se dividem em pedaços menores, ampliando o efeito destrutivo", conta Bazito.

Ou seja, as bombas de fragmentação, foguetes e projéteis de artilharia abrem-se no ar. E com isso liberam submunições que são dispersas por uma grande área. Caso esses explosivos não sejam removidos com segurança, eles representam uma ameaça de longa data, podendo até matar ou mutilar pessoas, segundo a análise do canal Fox10. Isso aconteceria por conta de uma explosão tardia e instabilidade da bomba.

Ataques em massa

O envio de bombas aéreas para o território ucraniano já causou dezenas de mortes. Segundo o Ministério da Defesa da Grã-Bretanha, noticiado pelo Dailymail, a Rússia admitiu na semana passada o uso de outro tipo de arma, a termobárica, chamada de "bomba de vácuo", na cidade ucraniana.

Esse é um tipo de explosivo que utiliza oxigênio do ar para causar uma explosão de alta temperatura. Também é conhecido como "arma destruidora de pulmões" por causar a ruptura nos pulmões e órgãos internos de quem estiver na zona atingida.

No início de março deste ano, o explosivo desse tipo foi utilizado pelo artilheiro russo, Sergei Gubarev, na região de Chernihiv. As informações são do jornal ucraniano Ukrainska Pravda.

Viacheslav Chaus, governador regional de Chernihiv, fez um alerta sobre os ataques aéreos russos sobre áreas civis da cidade:

"O inimigo continua a atacar com foguetes do ar. Os civis estão sendo mortos. Muitas pessoas estão se machucando. O inimigo ataca áreas residenciais. Os lugares onde nenhum objeto militar pode ser encontrado", disse Chaus, segundo o site Dailymail.