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Golpe do delivery faz conta de influencer no mercado subir R$ 230 'do nada'

Getty Images
Imagem: Getty Images

Lucas Carvalho

De Tilt, em São Paulo

04/08/2021 04h00

Tentado pelas inúmeras notificações de promoções e por um cupom de desconto de R$ 100, o publicitário e influenciador Hilário Junior, criador do podcast "Poc de Cultura", resolveu fazer uma compra de supermercado pelo aplicativo Rappi. Ele só não esperava receber uma cobrança "surpresa" de R$ 231 a mais no valor final e o não recebimento dos produtos.

Hilário foi vítima de uma nova modalidade do golpe do delivery, que engana pessoas na hora do pagamento via maquininha de cartão — a modalidade cresceu mais de 136% segundo o órgão de proteção ao consumidor Procon, de São Paulo. No caso do publicitário, a tentativa de fraude aconteceu quando o entregador parceiro do app de delivery alterou o pedido feito pelo cliente sem o seu consentimento, levando a mercadoria embora.

"Basicamente o entregador pode a torto e a direito alterar todos os itens do seu pedido. Hoje fiz uma compra. Eram 16 itens. O entregador incluiu mais 15", contou Hilário em seu perfil no Twitter. "Minha compra passou de R$ 212 para R$ 444!"

Em resposta ao ocorrido com Hilário, a empresa Rappi afirmou lamentar que casos assim aconteçam. Ela acrescentou que tenta resolver os problemas individualmente com cada usuário.

"O Rappi disponibiliza em seu aplicativo um canal de atendimento aos clientes — em que é possível reportar qualquer problema na plataforma —, e recomenda que, caso sejam lesados, os usuários façam boletim de ocorrência e registrem pedido de cancelamento da transação na operadora de cartão de crédito", diz a empresa em nota.

Como foi o golpe

Hilário disse a Tilt que evita fazer compras de supermercado por aplicativos de delivery, mas a insistência do Rappi (pelo envio automático de mensagens) e a promessa de um cupom de R$ 100 em desconto o convenceram a usar o app, que conecta entregadores autônomos a estabelecimentos, e os remunera por entrega realizada.

Era noite de quinta-feira (29 de julho) e, como o supermercado mais próximo estava fechado, Hilário agendou a entrega das compras para a manhã do dia seguinte e deixou pago R$ 212 após terminar de selecionar os itens da sua lista de compras. Quando acordou, viu a notificação do app por email informando de que a entrega havia sido feita, mas ele diz que não recebeu as compras.

"Quando abri o email, vi que o pedido já estava com o valor alterado", diz Hilário. "Não recebi nenhuma notificação do aplicativo falando que [o entregador] estava trocando os itens. Ele fez a compra, trocou os itens e foi embora com os produtos, marcando como entregue."

O influencer deixou o celular no modo "não perturbe" (quando limita o funcionamento de recursos, como as notificações) depois que fez o pedido. É possível que o app tenha enviado os alertas automáticos nesse período sobre as mudanças feitas pelo entregador. Porém, não explica como a pessoa conseguiu alterar os pedidos sem o cliente autorizar na plataforma.

O publicitário conta, por exemplo, que pediu um pote de ketchup, mas o entregador alterou o pedido para três unidades. "Pedi dois pacotes de carne, ele colocou mais um. Comprei duas caixas de paçoca, ele colocou mais cinco", diz.

As alterações no pedido fizeram o sistema da empresa Rappi gerar uma cobrança extra de R$ 231 no cartão de crédito de Hilário. Ou seja, mais de R$ 400.

Em contato com o suporte do app (por meio da central de Ajuda), o publicitário afirmou que, a princípio, a empresa tentou devolver o dinheiro como um voucher para uso no próprio aplicativo. "Eu não quero comprar dentro do app, quero que eles cancelem toda essa palhaçada", reclamou.

Outro lado

Procurado pela reportagem, o Rappi disse, em nota, que solucionou o caso e excluiu o entregador envolvido no golpe da sua plataforma. Hilário confirma que a cobrança de R$ 231 foi cancelada e que o valor original da compra foi devolvido. Mas diz que o aplicativo bloqueou sua conta porque "o número de reembolsos solicitados é superior à média dos usuários".

O Rappi disse na nota ainda que, para coibir condutas ilegais, as fraudes são mapeadas e analisadas. "A empresa também estruturou uma equipe que trabalha em conjunto com as polícias civil e federal para identificar o modus operandi das fraudes, como os locais mais utilizados e o perfil do fraudador. Já foram abertas investigações e originadas ações legais das autoridades contra entregadores que roubaram ou prejudicaram os usuários", completa a empresa.

Além disso, o Rappi diz que "tem um processo formal e rigoroso de cadastramento" de novos entregadores, que inclui a exigência de "documentos pessoais e outros dados comprobatórios", além de uma "análise em bancos de dados públicos". Quando suspeita de fraudes, o sistema automatizado do app exige "provas de vida" do entregador.

Segundo o Rappi, os profissionais que trabalham para a plataforma devem, cada vez que entrar no app, "digitar o código de verificação que lhe é enviado via WhatsApp e depois realizar outra validação por meio de uma foto feita em tempo real para fins de verificação de cumprimento do protocolo de uso das máscaras em prevenção ao covid". Essa imagem é comparada com a foto do respectivo documento de identidade por meio de um software.

De janeiro a julho deste ano, o Procon-SP registrou 341 queixas envolvendo tentativas de golpes em plataformas online de delivery. No mesmo período do ano passado, foram 144 reclamações. As principais queixas são contra o Rappi, com 124 registros; o iFood, com 123; e o Uber Eats, com 94.

Somadas as reclamações, os golpes teriam usurpado mais de R$ 1,3 milhão, segundo o Procon-SP.

Como se proteger (ou o que fazer se for vítima)

Para evitar golpes assim, vale seguir a dica do Hilário: use um cartão de crédito virtual "descartável". Alguns bancos permitem criar cartões virtuais que podem ser facilmente bloqueados pelo aplicativo. Assim, após fazer uma compra, basta bloquear o cartão, de modo que se houver alguma cobrança extra, ela não será efetivada.

Vale também ficar de olho no seu aplicativo de delivery após fazer uma compra de supermercado e checar, em tempo real, se os itens que você pediu não estão sendo trocados sem sua autorização. Se isso ocorrer, cancele a compra. Apesar da facilidade, pode ser mais seguro evitar fazer pedidos via aplicativo com entrega agendada.

Por fim, o Rappi e o Procon recomendam que você denuncie irregularidades pelo sistema do app de atendimento ao cliente e faça um boletim de ocorrência caso seja vítima de um golpe semelhante.