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Tecnologia não é pensada para idosos? Aqui estão 4 recursos que dão uma mão

Marisa Medeiros, 80, usa o celular configurado para exibir ícones e letras grandes, recursos de acessibilidade presente nos smartphones - Arquivo pessoal
Marisa Medeiros, 80, usa o celular configurado para exibir ícones e letras grandes, recursos de acessibilidade presente nos smartphones Imagem: Arquivo pessoal

Carina Gonçalves

Colaboração para Tilt

15/07/2021 04h00Atualizada em 15/07/2021 10h43

O celular, a internet, o computador são coisas de gente jovem? As mudanças de hábitos potencializadas pela pandemia de covid-19 só provam ainda mais que essa crença está ultrapassada. Porém, a jornada de aprendizado para muitos idosos pode ser desafiadora.

Dificuldades auditivas, visuais e/ou motoras que alguns desenvolvem com o passar dos anos refletem nesse processo, segundo especialistas ouvidos por Tilt. De modo geral, os idosos costumam ter três desafios para ingressar no mundo digital:

  • Quebrar a ideia de que a tecnologia é coisa de gente mais nova
  • Aprender a usá-las, uma vez que muitos precisam de auxílio de alguém para ensinar
  • Desconhecer recursos de acessibilidade que facilitam o uso no dia a dia (que você poderá conferir exemplos mais a baixo)

Marilda Delunardo, 72, queria distância do celular por achar que era coisa de gente jovem até a pandemia acontecer. Isso mudou quando ela viu sua independência ser reduzida ao espaço domiciliar e as reuniões do centro espírita que frequentava migrarem para o Zoom (serviço videochamadas pela internet).

Com ajuda da neta Lígia, Delunardo aprendeu a usar o celular e aplicativos para se manter conectada com o mundo lá fora.

Marilda Delunardo, 72, queria distância do celular antes da pandemia. Agora, não larga - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Marilda Delunardo, 72, queria distância do celular antes da pandemia. Agora, é chamada pela neta de avó super tecnológica
Imagem: Arquivo pessoal

Hoje, ela é considerada pela neta uma avó super tecnológica, que anda pela casa com o smartphone, tablet e computador.

"No WhatsApp é uma letra maior e o resto é tranquilo", afirma Delunardo, diagnosticada com catarata, e que possui dificuldades de locomoção. "Foi uma opção na pandemia. Ou eu 'ficava com 72 anos' ou 'com 22'. Então preferi fingir que tenho 22 para poder viver [usando a tecnologia]."

Aprendizado precisa ser adaptativo

Assim como Delunardo, pensar que a tecnologia está ligada à juventude é comum entre os idosos, de acordo com Luli Radfahrer, professor de comunicação digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP (Universidade de São Paulo).

Os mais velhos não viveram uma parte da curva da tecnologia. O processo de aprendizado para eles tem que ser adaptativo, não se pode ensinar informática da mesma maneira como seria ensinado a um jovem.

"Primeiro, precisa adaptar o que já existe para ele [para o idoso], um outro contexto e outras necessidades que precisamos compreendê-las para fazermos alguma coisa", explica Radfahrer, especialista nos impactos da internet na sociedade.

"De repente, você consegue associar o conhecimento de uma vida de experiências [que os idosos possuem] com conhecimentos novos", afirma o professor.

Pontos de atenção

Aos 72 anos, Delunardo teve até certa facilidade para explorar hábitos na internet. Porém, nem todos conseguem ter esse tipo de experiência. O médico Marcelo Paoli, supervisor do Ambulatório de Neuropsiquiatria Geriátrica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) destaca que condições de saúde como perda de memória, baixa visão e perda de visão afetam o aprendizado do uso de tecnologias.

Outro fator, segundo o médico, é o conflito de gerações, pois os mais velhos não cresceram precisando usar o computador da mesma forma como hoje. "Alguns idosos têm que aprender de uma hora para outra, portanto fica um conteúdo muito grande."

Dificuldades como essas estão presentes na vida de Marisa Medeiros, de 80 anos. Com a audição de apenas um ouvido, ela precisa aumentar ao máximo o som da televisão e do celular para conseguir ouvir algo parecido a um grunhido. Identificar as informações ditas nos áudios recebidos pelo WhatsApp também é complicado. Além disso, ela precisa contar com letras grandes na tela do telefone para a leitura das mensagens de amigos e de familiares.

Para aprender a mexer com essas tecnologias, Medeiros recorreu a um curso de informática. Mesmo assim, o mundo digital não convenceu. Ela gosta mesmo do bom e velho papel.

"Prefiro o manual, não sei como usar o digital. No computador podemos perder tudo e no papel se guarda as informações", afirma — ao ser apresentada ao armazenamento em nuvem como opção segura para ela salvar seus arquivos, Medeiros perguntou a Tilt se poderíamos ensiná-la.

Envelhecimento conectado

O uso de tecnologias por pessoas mais velhas se encaixa dentro do conceito de envelhecimento conectado, segundo Luciana Corrêa, fundadora da LSC Educação e Projetos, que promove ações de impacto educativo para idosos.

Corrêa explica que muitos avós passaram a ter interesse em dispositivos ao ver seus netos usando com tanta facilidade. "O que muda entre um consumidor jovem e um consumidor maduro é como essas funcionalidades serão utilizadas. Mas o desejo de consumo é o mesmo."

Tecnologia a seu favor

No mercado de celulares, existem algumas (poucas) opções pensadas exclusivamente para os consumidores idosos, como telefones vendidos de fábrica já com ícones, letras e números maiores. Eles costumam possuir aplicativos básicos de comunicação já instalados, como WhatsApp e Facebook. Alguns possuem ainda o recurso de segurança SOS integrado, no qual, em caso de necessidade, o aparelho emite um alerta de emergência (por mensagem ou ligação).

Outros modelos investem em teclados físicos no lugar das telas sensíveis ao toque. No resto, eles se conectam normalmente à internet normalmente e permitem o uso de apps de mensagens.

Ortelina Ferreira, 97, usa um aparelho auditivo. Para ouvir ligações e áudios do WhatsApp, a sua família conseguiu configurar o dispositivo junto ao smartphone. Assim, ela pode ouvir os sons recebidos diretamente do aparelho.

Dona Ortelina Ferreira, 97 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Dona Ortelina Ferreira usando o seu celular
Imagem: Arquivo pessoal

Confira a seguir exemplos de recursos de acessibilidade de tecnologias que podem facilitar o dia a dia de idosos:

1 - No celular

  • Audição: transcrição instantânea em tempo real e o leitor de tela do Google (chamado TalkBack); o iPhone também a função que lê em voz alta o que está na tela.
  • Visão: aumentar o tamanho da fonte e da exibição de programas na tela. Os smartphones comercializados atualmente possuem essas configurações.

"Nossos produtos de acessibilidade foram projetados com e para pessoas com deficiência. E [eles] podem ajudar a tornar as tarefas diárias mais acessíveis para idosos também", afirma o Google a Tilt.

2 - No computador

O sistema operacional Windows também possui recursos de acessibilidade que podem melhorar o dia a dia dos idosos.

3 - Fones de ouvido

Alguns modelos de fones de ouvido possuem um recurso que capta o áudio externo e centraliza o som vindo de fora direto no fone em determinadas situações. No modelo AirPods, da Apple, essa função chama "ouvir ao vivo".

O Galaxy Buds Pro possui um recurso que se chama cancelamento de ruído ativo. Ao usar para ouvir uma mensagem do WhatsApp, por exemplo, uma pessoa que tenha dificuldades leves de audição pode conseguir ouvir o som mais imersivo, sem impacto do barulho externo de fora do fone.

4 - Assistentes de voz

Assistentes de voz como a Alexa, da Amazon, e o Google Assistente possuem inteligência artificial que pode ser usada para auxiliar idosos em algumas situações, como:

  • Mobilidade: comandos de ligar e desligar a luz apenas pela fala; acionar eletrônicos como ar condicionado.
  • Companhia: elas têm a habilidade de simular conversas como se fossem reais, o que pode ser interessante para idosos que se sentem sozinhos.
  • Memória: elas são compatíveis com skills (habilidades) de oferecer jogos acionados pela voz. Eles podem estimular exercícios neurológicos, como a memória, por exemplo.

Essas atividades fáceis do cotidiano têm ajudado idosos e pessoas com deficiência ao tornar a execução das tarefas mais fáceis de acordo com avaliações dos usuários, explica Marina Zveibil, gerente de comunicação para dispositivos Amazon e Alexa. "Temos a preocupação com o design do produto como um todo para que mais usuários se sintam incluídos."