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Tecnologia "convence" idosos a socializarem online e ficarem em quarentena

Ana Lúcia Faria da Costa quer se empenhar para aprender a mexer melhor no celular - Arquivo pessoal
Ana Lúcia Faria da Costa quer se empenhar para aprender a mexer melhor no celular Imagem: Arquivo pessoal

Caroline Apple

Colaboração para Tilt

28/03/2020 04h00

Para segurar os idosos em casa em tempos de coronavírus, tem muito filho e até nora ensinando as pessoas da terceira idade a mexerem no celular, no tablet e na TV, para ver se esses ativos cidadãos e cidadãs trocam a feira e a praça pelo sossego do lar. E de repente, o WhatsApp não é mais o bastante.

É o caso da aposentada Maria Ferrari, de 71 anos, típica nona da Mooca, zona leste da capital paulista. Mariazinha, como é conhecida no bairro, se orgulhava de não ter celular. Mas, a necessidade e a saudade falaram mais alto, e seu tablet passou a ter uma nova serventia além dos vídeos sobre autoconhecimento: fazer videochamadas com a netinha, a Teodora, de sete anos.

Maria Ferrari usa videoconferência para falar com a família - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Maria Ferrari usa videoconferência para falar com a família
Imagem: Arquivo pessoal

Nunca fiquei de fora de nenhum evento do centro espírita que frequento ou dos eventos da minha turma de italiano. Sempre dão um jeito de me avisar, mesmo eu não tendo WhatsApp. Mas agora minha nora está me ensinando a mexer no tablet para eu conseguir conversar por vídeo com a minha família. Agora, eles que me aguentem, porque vou ligar toda a hora para tirar dúvida

Para Mariazinha, os aparelhos eletrônicos separam as pessoas e as deixam mais sozinhas. "Até na guerra dava para se abraçar. Estamos separados, mas a verdade é que já estávamos antes. Ninguém se olha na cara. Não era isso que queriam? Agora fica com essa m!@#$ na mão e não precisa falar com ninguém. É lição da vida", se diverte a "nona da Mooca".

Maria Ferrari passou a usar o tablet na quarentena - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Maria Ferrari passou a usar o tablet na quarentena
Imagem: Arquivo pessoal

A situação na casa do publicitário Douglas Ribeiro, 40, era um pouco mais tensa. Ele estava enfrentando muitas dificuldades de manter em casa seus pais, os aposentados Roberto Ribeiro Pinto, 72, e Maria N. Palu Pinto, 70.

"Resolvi investir na troca de experiências em relação à tecnologia dos smartphones para preservar a sanidade mental dos meus pais. Os dois já possuíam o aparelho antes da pandemia, mas usavam somente para receber chamadas. Muitas vezes saíam de casa e não levavam o aparelho, alegando não haver necessidades", conta o publicitário.

Então, Ribeiro instalou todos os aplicativos de redes sociais e mensagens instantâneas nos aparelhos dos pais e passou a orientar tarefas simples, como salvar contatos na agenda. "Para minha surpresa e admiração, no terceiro dia, minha mãe já estava tirando fotos com qualidade, anexando e enviando para seus contatos", relata o publicitário.

Mas, por enquanto, não teve a mesma sorte com o impaciente pai. "Está um pouco mais resistente. Fico enviando a ele aulas de dança, que ele ama, e vídeos de séries com assuntos que ele gosta, como vídeos do 'The Big Bang Theory'", conta.

Aprimorando conhecimento

Além dos idosos que tiveram pouco contato com a tecnologia até hoje, tem os que estavam só nas redes sociais e WhatsApp. Este segundo grupo está aprendendo mais 'macetes' para aproveitar melhor a quarentena e não cair no tédio.

A aposentada Ana Lúcia Faria da Costa, 66, conta que estava se saindo bem com o WhatsApp e o Facebook. Diante do tempo livre, quis "inovar", mas precisou de ajuda do filho na hora da tarefa.

"Eu quis fazer um mural do meu neto com as fotos que eu tenho dele no celular, mas eu não tinha ideia de como fazer isso. Meu filho me ensinou a passar as fotos para o computador e imprimir. Recortamos as fotos e fizemos o mural. Ficou lindo", conta a aposentada.

Mas, o desafio maior de Ana Lúcia era a smart TV, que dava "de dez a zero" nela quando alguém mudava algo nas configurações. "Eu queria assistir meus filmes, mas não sabia voltar e nem ir para frente. Sempre tinha alguém para me ajudar. Meu filho me ensinou e estou mais independente", relata Costa.

A aposentadora agora quer aprender a mexer melhor no celular. "Quero aprender a pedir comida e manter contato com a minha sobrinha que mora na Austrália. Novos horizontes se abrem. A necessidade faz com que a gente saia da mesmice", afirma.

Além do filho, Ana Lúcia tem recebido a ajuda da nora, a professora de ioga Marília Pereti, 30, que vive com a aposentada. "É legal porque isso nos aproximou. Além dela desenvolver essa independência, a gente se aproxima mais, a gente se ocupa na quarentena. Virou uma atividade ensiná-la a mexer no celular e na TV", conta Pereti.

Outra idosa que decidiu se aprimorar foi a aposentada Marisa Soares, 69. Marisa é assídua nas redes sociais. Gosta de postar mensagens de autoajuda e ativismo político em sua conta no Instagram. Mas, com mais tempo em casa, decidiu pegar a onda dos cursos online.

"Quero aprender a falar inglês para conversar com as minhas netas que moram nos EUA. E quero também aprender francês, porque acho lindo. Agora, preciso aprender a buscar essas aulas na internet e mexer nos aplicativos certos", conta Soares.

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