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CSI: 68% dos brasileiros investigam crushes no Google e Insta antes do date

Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Melissa Cruz Cossetti

Colaboração para Tilt

22/06/2021 04h00

Deu match, e agora? A expectativa de conhecer alguém quase sempre vem misturada com a insegurança de que o(a) crush pode não ser quem diz ser. É quase uma loteria. Mas brasileiros estão adotando práticas interessantes para descobrir se o potencial date vale a pena.

A "stalkeada do bem" nas redes sociais e a busca no Google a partir de informações dos contatinhos são duas bem famosas. Dois em cada três brasileiros (68%) que usam aplicativos ou sites de namoro online fazem pesquisas como essas.

Os dados são de um levantamento realizado pela empresa de segurança Avast com 2.216 brasileiros entre janeiro e fevereiro deste ano. Do total de participantes, 29% desistiram de encontrar os(as) crushs após o match com base no que viram nos resultados ou porque não conseguiram achar nada que lhes desse alguma segurança.

"Eu já conheci bastante gente no Tinder e no Happn. Depois do match, sempre que eu quis conhecer alguém mais a fundo, pedi primeiro o WhatsApp, depois o Instagram, para verificar se a pessoa existia mesmo, em busca de um mínimo de credibilidade", conta João Paulo Bastos, 40.

No passado, porém, Bastos arriscava mais. A falta também de tanta vida alheia exposta na internet ajudava. "Já conheci pessoas às escuras quando não tinha tanta rede social e se conversava mais pelo ICQ ou pelo mIRC. Eram outros tempos, acho que não existia tanto perigo e tanto golpe nos aplicativos", acrescenta.

Quem investiga contatinhos costuma focar a maioria dos esforços nas redes sociais Facebook, Instagram ou TikTok (82%) e/ou nos motores de busca como Google e Bing (35%).

CSI pré-flerte

Alguns dos entrevistados foram mais fundo e procuraram referências citadas em conversas também em redes sociais profissionais como o LinkedIn (17%) e, ainda, fizeram uma pesquisa reversa de imagens a partir de uma foto do perfil usada na plataforma de namoro pela pessoa (17%).

A carioca Maíra Machado, 33, conta que é desconfiada por natureza. Ela entrou no Tinder depois de sair de um relacionamento de onze anos. Criou o perfil por insistência de um amigo e acabou se adaptando à tecnologia de escorregar para lá e para cá, em busca de um novo match.

"Para me aproximar e chegar a passar o WhatsApp ou encontrar presencialmente é mais difícil do que parece. Quando a conversa flui, eu dou uma stalkeada no Instagram para saber onde estou me metendo. Mas, para chegar ao nível de fazer vídeo chamada ou marcar um encontro, rola quase uma investigação do FBI", explica.

Tudo pela segurança, não? Na maioria das vezes, sim. Mas a curiosidade humana também é motivo para correr atrás de informações antes do primeiro encontro. Segundo o estudo:

  • 70% querem apenas saber mais sobre a pessoa;
  • 57% querem verificar se a pessoa era mesmo de verdade (e não um fake);
  • 42% fazem para confirmar fatos que os pares contaram sobre si mesmos;
  • 32% desejam ver como os(as) crushes interagem nas suas redes sociais.

No caso da carioca, a investigação na internet deu certo. Há pouco mais de um mês, um match evoluiu para o início de um relacionamento virtual com uma crush de São Paulo, tudo de forma bem gradativa, afirma.

Cuidados extras após o match online

Ainda segundo o estudo, em média, as mulheres têm 9% mais probabilidade de tomar mais medidas de segurança do que os homens, quando o assunto é um encontro presencial — se você é mulher, é algo que provavelmente já sabe.

São elas:

  • Certificar-se de que seja um local público (62%)
  • Deixar um amigo ou um membro da família saber com quem estão ou compartilhar o local com eles (54%);
  • Marcar o encontro em um lugar com o qual estejam familiarizados (41%);
  • Pedir para um amigo ou um familiar estar no mesmo local, na hora e na data combinadas com o(a) crush (11%).

Proteção de dados nos dates online

Com o mundo vivendo uma pandemia de covid-19, os encontros virtuais com videochamadas foram a saída para várias pessoas. Uma outra pesquisa, realizada pelo Instituto Locomotiva, calcula que 45 milhões começaram a namorar durante as medidas de distanciamento social.

A adaptação foi uma estratégia de proteção necessária, mas o cuidado com a segurança das informações trocadas pela internet continua sendo necessário, reforça a Avast — como os dados coletados pela plataforma de relacionamento e os informados diretamente aos crushs.

A empresa destaca ainda que existem limites para as buscas realizadas na internet. Ou seja, quando a pesquisa deve ser feita com respeito à privacidade e com base nas informações públicas disponíveis no ambiente online, sem nenhum tipo de constrangimento envolvido.

Nem tudo o que você vê é real

Mesmo uma boa investigação digital pode não revelar traços mais radicais ou os hábitos cotidianos do(a) crush. Os perfis de rede social, repletos de fotos perfeitas, imersas em filtros e/ou fazendo diferentes tipos de ostentação quase nunca trazem à tona quem realmente somos.

Citando o "O mal-estar na cultura", o ensaio mais célebre de Sigmund Freud, que versa sobre o conflito entre as regras sociais e as nossas pulsões primitivas, o psicanalista Luís Gamma alerta que, mesmo as pegadas digitais em redes sociais e sites pela internet podem nos enganar e também enganar os outros.

"[A pesquisa] é um sinal de que as pessoas estão ficando mais cuidadosas. Como a imagem engana, é muito fácil se utilizar dela. Eu sou um grande empresário, eu sou isso, eu sou aquilo, tudo é muito grandioso. Corre-se o risco, sim, de serem pessoas perigosas", diz.

Cabe entender, também, de acordo com o psicanalista, que a busca constante por certezas esbarra no fato de que todos temos medo do desamparo, de não encontrarmos nossa metade da laranja ou de não termos um final feliz e clichê de novela.

"Engana-se você, que acha que tem uma grande imagem de perfeição, e que a imagem do outro também é perfeita. É um grande aprendizado e as pessoas estão procurando muito a análise por conta dessa frustração. Nossas imagens não são perfeitas", acrescenta.

Deixando rolar...

O outro lado sempre existe e, entre os entrevistados, há aquelas que contaram não pesquisar informações na hora do flerte online. Desses:

  • 17% disseram não possuir dados suficientes para realizar tal pesquisa;
  • 47% sentiram que não era necessário fazer isso;
  • 32% responderam também que preferem não julgar as pessoas com base no que poderiam encontrar na internet e, por isso, preferem conhecê-las presencialmente primeiro;
  • 14% não acreditam que essas avaliações pré-flerte sejam éticas a se fazer com o próprio crush.