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Estudo: quase metade das contas postando sobre Covid no Twitter são robôs

Discussão sobre coronavírus no Twitter é tomada de bots - REGIS DUVIGNAU/REUTERS
Discussão sobre coronavírus no Twitter é tomada de bots Imagem: REGIS DUVIGNAU/REUTERS

Ana Prado

Colaboração para Tilt

24/05/2020 11h46

Um estudo da Universidade Carnegie Mellon, nos EUA, concluiu que 45% das contas no Twitter que estão postando sobre a Covid-19 provavelmente são robôs. E mais: os pesquisadores identificaram cerca de 100 narrativas falsas diferentes sobre o tema associadas a essas contas.

Para chegar a essa conclusão, foram analisados 200 milhões de tuítes postados desde janeiro sobre o novo coronavírus. Para determinar as chances de um perfil ser um bot, os autores avaliaram informações como o número de seguidores, a frequência de postagem e as menções recebidas na plataforma.

As contas identificadas como bots geralmente postavam com frequência excessiva ou publicavam tuítes de localidades diferentes com um intervalo de tempo muito curto entre eles.

Ação orquestrada?

Embora os autores afirmem que ainda é cedo para dizer quem são os indivíduos ou grupos por trás desses perfis falsos, eles afirmam que a ação provavelmente é orquestrada. A enorme quantidade de bots e de postagens aparentemente cronometradas, bem como o uso de hashtags e mensagens praticamente idênticas estão entre os indícios.

"Estamos vendo até duas vezes mais atividade de bots do que havíamos previsto com base em desastres naturais, crises e eleições anteriores", disse Kathleen Carley, professora de ciência da computação da Universidade Carnegie Mellon que conduziu o estudo.

Segundo ela, muitos desses perfis foram criados em fevereiro e, desde então, estão divulgando informações falsas que incluem supostos conselhos médicos, possíveis curas, teorias da conspiração sobre a origem do vírus (como aquelas associando a tecnologia 5G ao coronavírus, que levaram grupos a incendiarem torres de transmissão no Reino Unido) e pressão para acabar a quarentena.

"As teorias da conspiração aumentam a polarização. É o que muitas campanhas de desinformação pretendem fazer", afirmou ela ao site da universidade, acrescentando que a disseminação dessas teorias leva a opiniões mais extremas e comportamentos menos racionais.

Remoção de tuítes

Em março deste ano, o Twitter anunciou que iria combater a publicação de posts espalhando desinformação, como conteúdos com negação de fatos científicos já estabelecidos em relação ao coronavírus. A iniciativa resultou na remoção de posts do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, bem como do próprio presidente Jair Bolsonaro.

Mais recentemente, a rede social anunciou novo esforço que inclui adicionar "etiquetas de advertência" a tuítes com informações controversas ou enganosas sobre o Covid-19.

Ainda assim, Carley afirma que não há conhecimento suficiente para que se possa desenvolver uma medida realmente eficaz contra os robôs, uma vez que perfis bloqueados podem ressurgir e atacar contas individuais não irá resolver o problema.

Em seu posicionamento para Tilt, o Twitter destacou que de 18 de março até 11 de maio os seus sistemas detectaram mais de 4,3 milhões de contas focadas em discussões em torno de Covid-19 com comportamento de spam ou potencialmente manipulador.

"O Twitter trabalha globalmente, proativamente e em escala para fazer frente a essas tentativas de manipulação das conversas, e esse esforço também tem sido empregado no debate em torno de Covid-19. Não só nos baseamos em denúncias de usuários, mas também investimos cada vez mais em tecnologia para detectar proativamente comportamentos suspeitos", informou a empresa.

Além disso, o Twitter ressalta que é importante analisar com cuidado os bots que atuam na rede social. Nem todos os robôs e atividades automatizadas vão contra as regras da empresa.

"As pessoas muitas vezes se referem a bots (ou robôs) de maneira um tanto generalizada, para descrever desde contas com atividades automatizadas até indivíduos que por algum motivo não têm foto de perfil ou não utilizam seus nomes reais no Twitter, por exemplo. O termo também é comumente usado para classificar contas cujos nomes são uma combinação entre letras e sequências numéricas, combinações essas que são geradas automaticamente como sugestão quando uma conta é criada, uma vez que não é possível haver duas @s iguais na plataforma", explicou a companhia.

"O mais importante do trabalho que temos feito é o olhar holístico para o comportamento de uma conta, e não apenas para se aquilo trata-se ou não de uma automação (lembrando que nem todas as formas de automação são nocivas ou violam as Regras do Twitter - pelo contrário, há muitas automações que melhoram a experiência das pessoas na plataforma, como as relacionadas a serviços de atendimento ao consumidor ou envio de alertas meteorológicos, por exemplo). Nosso foco é em combater tentativas de manipulação da conversa pública no Twitter", acrescentou.

Enquanto ainda não existe uma solução definitiva contra essas práticas, cada usuário pode se proteger individualmente ao ficar atento a sinais de alerta, como o compartilhamento de links suspeitos, elevado volume de tuítes publicados muito rapidamente ou um nome de usuário e uma imagem de perfil que parecem não corresponder.

"Mesmo que a pessoa pareça pertencer à sua comunidade, se você não a conhece pessoalmente, dê uma olhada mais de perto e sempre vá a fontes autorizadas ou confiáveis para obter informações", aconselhou Carle.