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Crise social e criatividade: mangá 'Mangaká da Favela' é 'Brasil do Brasil'

Mangá "Mangaká da Favela" - Divulgação/Panini Mangá "Mangaká da Favela" - Divulgação/Panini
Mangá 'Mangaká da Favela' Imagem: Divulgação/Panini

Fabio Garcia

Colaboração para Splash, em São Paulo

29/04/2025 17h19

Brasileiro ama ser referenciado por outros países, por isso houve uma comoção grande quando a dupla de autores Hagimoto Souhachi (roteiro) e Taruro Minoru (desenhos) lançou a obra "Mangaká da Favela". O título conta a história do japonês Hiroto, autor de mangás frustrado, que viaja ao Brasil para espairecer e acaba conhecendo João, adolescente talentoso cujo sonho de ser mangaká é uma esperança de fugir do destino cruel de ingressar numa facção criminosa.

Ser brasileiro e ler este mangá japonês sobre nossa cultura é um misto de emoções. Ao mesmo tempo em que somos expostos a alguns exageros e generalizações perigosas, principalmente sobre violência nas comunidades, a obra ainda tem algumas particularidades culturais retratadas com fidelidade. Os moradores da comunidade têm receio da polícia, a feira livre é retratada cheia de vida e a hospitalidade dos brasileiros é perfeitamente representada.

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Mas "Mangaká da Favela" não é apenas uma obra cuja qualidade é nos ter como tema, ela também é uma obra boa. Ainda que seja uma clássica história de professor e aluno na qual um vai aprender com o outro, o roteiro é construído de forma muito perspicaz. Hiroto deseja ajudar João por perceber seu talento, mas também sente frustração por ver que foi superado por um adolescente brasileiro. Mas enquanto ele se inferioriza, João está lá para levantar sua bola e apontar seu talento como profissional.

Com um traço agradável e um roteiro bem estruturado, além da identificação geográfica para nós, "Mangaká da Favela" é um título delicioso de ler. E a Panini acertou em cheio não só em licenciar este mangá, mas também em lançá-lo simultaneamente com o Japão em uma ação vista poucas vezes.

"Mangaká da Favela" (1 volume, em andamento)
Autores: Hagimoto Souhachi e Taruro Minoru
Editora: Panini

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Mangás sobre fazer mangás

"Bakuman"
Um dos maiorais no quesito "mangá sobre fazer mangá". Em "Bakuman" acompanhamos a história de dois adolescentes cujo sonho é publicar uma obra na revista Shonen Jump, que também publicou 'Bakuman'. Dá para ter uma ideia boa de como funciona a serialização de mangás no Japão. O título foi lançado no Brasil pela editora JBC.

"Opus"
Criado por Satoshi Kon, que é mais conhecido como diretor de filmes, este mangá conta a história de um autor que queria encerrar a história com a morte de seu personagem principal. Mas o querido não curtiu a ideia, roubou a página de sua morte e o autor caiu dentro da história. Este mangá foi publicado no Brasil pela editora Panini.

"A Estrela do Hentai"
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Mangá nacional existe! "Tools Challenge" é excelente shonen de lutinha

No "Mangaká de Favela" temos personagens que desejam publicar quadrinhos no estilo mangá, mas e se eu contar que temos brasileiros que já estão fazendo isso? Inclusive, essa é uma ótima hora para recomendar um mangá brasileiro que está finalizado e é muito interessante.

"Tools Challenge" se passa em um mundo no qual todo bebê nasce com uma ferramenta. Raion, o protagonista, veio com uma ferramenta especial de ouro, mas ela foi roubada. O problema é que a pessoa morre ao ficar 15 anos longe de sua ferramenta de nascimento, mas o agora adolescente tem um fio de esperança: sua ferramenta ouro roubada é o prêmio de um perigoso torneio de luta entre usuários desses itens especiais.

Talvez essa opinião pareça suspeita por eu conhecer o Max Andrade, autor da obra, e já ter conversado muito com ele em Artist's Alley da vida, mas "Tools Challenge" é tão legal. Uma das melhores coisas desta obra, criada originalmente em 2010 e publicada por completo após anos de publicação, é como ela não tem vergonha de usar clichês.

Raion e seus amigos não têm nada de novo, tudo remete a alguma referência dos shonens de lutinha, mas isso está longe de ser algo negativo. Max consegue criar personagens tão vivos, lutas tão empolgantes e entrechos tão surpreendentes que a leitura vai fluindo como se fosse uma obra aclamada da Shonen Jump japonesa —só que com todo o tempero brasileiro que nos traz uma identificação única. Vale muito a leitura.

Tools Challenge (2 volumes)
Autor: Max Andrade
Editora: JBC

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E nessa edição especial da newsletter sobre mangá no Brasil, a homenageada da vez só poderia ser Érica Awano, uma das maiorais dos quadrinhos em estilo japonês nos anos 1990. Formada em letras pela USP, ela entrou no caminho do desenho e se tornou uma das primeiras mangakás do país (ainda que já tenha declarado não gostar do termo).

Os primeiros trabalhos de Érica já eram em produções de personagens japoneses. Ela fez parte da equipe dos quadrinhos de "Mega Man", da editora Magnum (obra mundialmente conhecida por tomar "muitas liberdades" na história), e também desenhou para "Street Fighter Zero 3". Ela foi se aproximando de Marcelo Cassaro, escritor de RPG que também trabalhou na série de luta, e Awano se tornou desenhista dos livros de Tormenta. E, por isso, ela acabou entrando em um projeto muito especial.

"Holy Avenger" era um mangá baseado no universo de Tormenta, e tinha previsão de ser lançado em 40 edições mensais (depois reunidas em 5 volumes encadernados). O título foi um sucesso estrondoso de vendas e pegou aquele momento que os mangás japoneses estavam engatinhando no Brasil. "Holy Avenger" é uma tradicional campanha de RPG, mas com um jeitinho mais mangá de narrativa. Atualmente, ganhou uma republicação pela Jambô Editora.

Érica continuou no mundo das ilustrações e até fez uma outra história com temática de RPG, a "DBride Noiva do Dragão", mas sua importância no mercado nacional de quadrinhos é imensa. Caso tenha a oportunidade, leia 'Holy Avenger' para entender como se abriram as portas para o mercado de quadrinhos brasileiros no estilo mangá.

Até a próxima semana, otakus!


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