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BBB é lugar de textão! Veja debates importantes levantados no reality show

Racismo, bulimia, bifobia, falta de pessoas trans e saúde mental foram alguns temas durante edições do "BBB" - Reprodução/Globoplay
Racismo, bulimia, bifobia, falta de pessoas trans e saúde mental foram alguns temas durante edições do "BBB" Imagem: Reprodução/Globoplay

De Splash, em São Paulo

12/01/2022 04h00Atualizada em 12/01/2022 11h58

O "BBB" é um reality show criado para gerar entretenimento aos participantes e telespectadores. Naturalmente, o confinamento de diferentes pessoas gera embates e discussões. Entre tudo isso, alguns debates sobre a realidade do Brasil aparecem.

Bem distante de uma militância —- ações combativas com ideais que geram mudanças na sociedade —, o programa acaba levantando assuntos para a atenção do público.

Se os "textões" nas redes não resolvem os paredões, eles se baseiam em coisas que acontecem na casa mais vigiada.

E se tratando de Brasil, com 54% da população autodeclarada negra (preta e parda), o racismo e suas diferentes maneiras de violência já foi abordado — mas ainda pouco resolvido.

O poder do "Black Power"

João Luiz - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
João Luiz, do BBB 21
Imagem: Reprodução/Instagram

O racismo é tema recorrente no "BBB", seja na casa ou nos bastidores. João, ao rebater a fala de Rodolffo sobre seu cabelo, teve um dos momentos mais lembrados sobre o tema no reality.

Ele explicitou que a comparação do seu black power com uma peruca de um homem das cavernas — ou seja, um cabelo com simbolo e significado da luta antirracista com algo primitivo e malcuidado — foi dolorido.

Ludmilla também rebateu a fala, assim como Camilla de Lucas explicou à exaustão que é para pessoas negras terem sempre que dizer o quanto uma "brincadeira" ou comentário ofende enquanto pessoas brancas tem acesso a informações e podem muito bem pararem de reproduzir tal comportamento.

Mas teve mais: Na edição 16, Ronan criticou o programa por conta de uma esponja com o formato de cabelo black power colocada na cozinha. Fora da casa, recebeu ataques racistas pela atitude.

O cabelo foi o tema de um dos maiores diálogos do BBB 20 com Thelma, Rafa Kalimmann e Manu Gavassi ouvindo Babu Santana. Ele explicou como o black power assumia uma estética de libertação e todo o significado do pente garfo, que o levanta.

O discurso foi lembrado por Leifert quando ele repreendeu as falas de Rodolffo na edição seguinte.

Representatividade e branquitude

No BBB 18, Leifert usou o discurso de eliminação de Nayara de Deus para abordar a luta por representatividade — o que foi motivo para críticas fora da casa. A ex-sister saiu do jogo com 92% dos votos, um dos maiores índices de rejeição daquela edição.

"Esta casa, especificamente, está com uma outra 'nóia'. Vocês não são mais vocês mesmos. Agora vocês representam algo. 'Ah, eu represento a comunidade X'. 'Fulano representa a comunidade Y'. 'Eu represento sei lá o quê'. Deixa eu falar a real. Ninguém aqui fora deu procuração para vocês representarem ninguém aí. Sem essa de representatividade, que isso não leva a nada", disse ele.

A jornalista tinha falado algumas vezes sobre racismo dentro do programa e a importância de termos mais pessoas negras como referência na TV. "A gente não pode esperar muito, ainda que ele tenha aprendido com o Babu. Ele já nasceu com a vida ganha. Ele não teve nenhum problema que qualquer pessoa normal num país de terceiro mundo teria. É só um branco fazendo 'branquice'", rebateu ela à Splash

Lumena - Reprodução/Globoplay - Reprodução/Globoplay
BBB 21: Lumena com o look que entrou no reality
Imagem: Reprodução/Globoplay

No "BBB 21", Lumena usou a expressão branquitude ao se referir a Carla Diaz — termo que fala da naturalização do branco como padrão, que passa a tratar os outros como "não-brancos" e que tira privilégios por isso.

Ana Maria Braga insinuou que Lumena estaria praticando racismo reverso, que não existe no Brasil já que os mais de 300 anos de escravatura atingiu a população negra. Ela ainda celebrou a falsa ideia de democracia racial e romantizou a miscigenação. Ana se retratou no dia seguinte.

A sister ainda foi vítima de estereótipos, devido a sua maneira de falar e por levantar debates, que tentavam generalizar as vivências e as opiniões de pessoas negras e invalidar discussões de pautas raciais.

Intolerância religiosa

Paula - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Paula von Sperling, campeã do 'BBB 19'
Imagem: Reprodução/Instagram

Paula foi a campeã de polêmicas no BBB 19, carregando o programa "nas costas" nas palavras de Tiago Leifert e, além de ser acusada de racismo, foi indiciada por intolerância religiosa.

De acordo com a Polícia Civil do Rio de Janeiro, ela praticou o crime contra Rodrigo ao dizer no programa ter "medo" do brother. "Ele mexe com esses trecos... ele sabe cada Oxum deles lá. Nosso Deus é maior", disse.

Ela teve o inquérito arquivado, mas as palavras repercutiram negativamente fora do reality.

Diferentemente de Paula, na edição 20, Lumena e Lucas Penteado eram adeptos de religiões de matrizes africanas e celebraram ao falar os nomes dos orixás que os orientam. Lumena, inclusive, manteve o uso de branco em uma sexta-feira para celebrar a Oxalá, o criador do mundo.

Saúde mental

Karol Conká - Reprodução/Globoplay - Reprodução/Globoplay
BBB 21: Karol Conká fala sobre o 'BBB 21' no 'BBB Dia 101'
Imagem: Reprodução/Globoplay

O tema foi pauta durante a passagem de Lucas na casa até sua desistência. Karol Conká reconheceu que ela deveria repensar suas atitudes após os atritos com Lucas.

A rapper afirmou fazer acompanhamento após o reality também para evitar cair em depressão devido a rejeição e aos ataques nas redes sociais.

"Minha batalha é para não cair numa depressão. Faço acompanhamento para isso. Tem várias coisas que pegam para mim, desde o trauma de se expor, se reconhecer ali naquelas atitudes ruins, a me sentir vendida. Sinto uma coisa, como se fosse um negócio, que as pessoas jogam para lá e para cá e tiram suas próprias conclusões", explicou a cantora.

Ela lançou um programa no Instagram, o "Vem K" para falar de saúde mental com os seguidores.

Bifobia

Lucas  - Reprodução/ TV Globo - Reprodução/ TV Globo
BBB 21: O beijo entre Lucas e Gil
Imagem: Reprodução/ TV Globo

Lucas Penteado e Gil do Vigor protagonizaram o primeiro beijo entre dois homens do reality show ao som de Ludmilla, cantora negra e bissexual. Lucas foi julgado por ter beijado o economista como estratégia no jogo e teve a sexualidade questionada por Lumena.

Ele se reconhece como bissexual, uma pessoa que tem atração por mais de um gênero. Os brothers geraram discussões a respeito do beijo — coisa que outros participantes, ao beijarem pessoas do sexo oposto, não vivenciaram —, e Lucas desistiu do reality no dia seguinte.

Um mês depois, Juliette questionou a sexualidade de Lucas e o tratou como indeciso. "Ele não decidia se ele queria mulher ou homem. Por que ele não ficou com o Gil antes?", perguntou.

A fala de Juliette reforça um estereótipo de que bissexuais são confusos, já que ficam com ambos. Mas não são: quando um homem bi, por exemplo, se envolve com outro homem, ele continua sendo bi, e não gay. E quando se envolve com uma mulher, ele não "volta a ser hétero", também continua bissexual.

Em 2020, um estudo publicado pelo "Journal of Affective Disorders" entrevistou quase mil pessoas lésbicas, gays e bissexuais em Hong Kong, e apontou que os indivíduos bis reportavam uma incidência maior de problemas como depressão e ansiedade. Eles também eram menos frequentemente assumidos para familiares, amigos e a sociedade em geral, e se sentiam menos conectados a comunidade LGBTQIA+ como um todo

Pessoas trans existem, apesar do "BBB" ter tido apenas uma

Ariadna  - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Ariadna Arantes foi a primeira e única pessoa transexual a participar do BBB, em 2011
Imagem: Reprodução/TV Globo

Ariadna Arantes foi a primeira e única pessoa transexual a participar do BBB até agora, no ano de 2011. Mesmo que de forma não deliberada, a ex-BBB tornou visível para muitos a existência de pessoas que não se identificam com o gênero biológico.

Ela participou do "No Limite" no ano passado e rebateu a fala transfóbica de Iris Stefanelli ao dizer que o preconceito que Ariadna enfrentou por ser uma mulher trans existia "na cabeça dela" - a ex-BBB explicava que recorreu a prostituição apenas por não conseguir outro emprego devido a transfobia.

Você não pode falar de uma coisa que você não estava dentro da realidade. [...] Amiga, você é uma mulher cis, branca, loira, dos olhos verdes Ariadna.

De acordo com dados da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), levantados em 2020, 90% das pessoas trans no Brasil precisam recorrer à prostituição para se sustentar.

Movimento estudantil e acesso à educação

Lucas Penteado - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Lucas Koka Penteado começou sua carreira nos slams de São Paulo
Imagem: Reprodução/Instagram

Nego Di chamou a militância estudantil de Lucas Penteado de "defender vagabundo".

O ator fez parte do movimento de estudantes secundaristas que ocuparam escolas em 2015 em São Paulo que, por iniciativa de estudantes, protestaram contra a proposta de reorganização do ensino público do então governador Geraldo Alckmin (hoje cotado para vice numa suposta chapa com Luiz Inácio Lula da Silva).

A fala gerou revolta e as entidades rebateram a fala de Nego Di, feito no reality show da maior emissora do país. A Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) destacou que a luta por educação é a luta por um país melhor.

A UNE (União Nacional dos Estudantes) apontou a série de ações feita pela entidade em prol dos estudantes — como cotas, meia-entrada e destinação de verbas — como uma forma de apoiar estudantes como Lucas, que foi um dos narradores do filme "Espero Tua Revolta", mostrando as ocupações.

Assédio sexual

Um dos temas mais falados do "BBB 20" aqui fora foi assédio sexual. O ginasta Petrix Barbosa foi acusado de apertar os seios de Bianca Andrade, a Boca Rosa, e de ter esfregado os genitais em Flayslane Raiane.

O hipnólogo Pyong Lee, por sua vez, teria tentado beijar Marcela Mc Gowan à força.

Petrix - Reprodução / Globoplay - Reprodução / Globoplay
Pyong pede desculpas à mulher Sammy depois de perder o controle em festa do BBB 21
Imagem: Reprodução / Globoplay

Fora do programa, alguns espectadores não só pediram a expulsão dos participantes, mas também os acusaram do crime de importunação sexual. Depois de serem ouvidos pela polícia, ambos foram liberados das acusações.

Relacionamento abusivo

Marcos Harter - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Marcos Harter foi acusado no BBB 17 de agredir Emily e levantou a questão do relacionamento abusivo
Imagem: Reprodução/TV Globo

O médico Marcos Harter foi acusado, no BBB 17, de ter agredido a namorada no confinamento, Emilly. Em uma discussão do casal, Marcos gritou com a parceira, colocou seu dedo no rosto dela e apertou seu pulso, deixando marcas roxas.

Ele foi expulso do reality em razão das cenas e levantou o debate fora da casa sobre relacionamentos abusivos — quando ao menos uma dessas violências são identificadas: verbal, emocional, psicológica, física, sexual, financeira e tecnológica como controle das redes sociais).

Uma em cada três mulheres já sofreu violência sexual ou física, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas) que aponta que a maioria é praticada por parceiros de relação.

O problema persiste na sociedade e foi agravado com a pandemia: entre junho de 2019 e junho de 2020, 243 milhões de mulheres e adolescentes de 15 a 49 anos foram submetidas a violência sexual e/ou física por um parceiro íntimo, segundo estimativa da ONU Mulheres.

Bulimia

Leka - TV Globo/Jaq Joner - TV Globo/Jaq Joner
Leka durante o primeiro "BBB"
Imagem: TV Globo/Jaq Joner

Leka, ao revelar no primeiro BBB que sofria de bulimia, transtorno alimentar em que a pessoa alterna consumo incontrolável de comida e vômitos, abriu caminho para discussões sobre o assunto.

Recentemente, Leka disse estar "melhor" do que na época do BBB. "Na época, fui a primeira a falar abertamente, e falaram à exaustão", relembrou no programa "Altas Horas", em fevereiro.

Ela escreveu um livro dedicado à sua experiência com o transtorno.