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Pedro Antunes

Afinal, aonde quer chegar Tiago Iorc?

O que está acontecendo com Tiago Iorc? - Foto: Rafael Trindade / Montagem: Pedro Antunes
O que está acontecendo com Tiago Iorc? Imagem: Foto: Rafael Trindade / Montagem: Pedro Antunes

Colunista do UOL

16/11/2021 10h46

Quando saiu "Masculinidade", a nova música de Tiago Iorc, lembre-me de um papo antigo com o ex-empresário do artista (ambos, hoje em dia, em disputas judiciais) e prevíamos um futuro brilhante para o músico.

Foi um fiapo de memória, então o tempo e espaço daquele papo são confusos, mas era claro que, naquela época, entre 2015 e 2017, nada poderia frear o ímpeto e o sucesso do rapaz nascido em Brasília.

Ascensão brilhante

Depois de incontáveis presenças em trilhas de novela desde 2007, quando apareceu para o mundo (chegando ao top 10 no Japão e premiado na Coreia do Sul), com a música "Nothing But a Song", ele chegava ao ápice em meados dos anos 2010.

O disco "Troco Likes" (2015) foi um estouro. Tinha um punhado de canções românticas e gentis, como "Coisa Linda" e "Amei Te Ver", ambas de refrãos amplamente compartilháveis, mas também era conectado com o mundo moderno, debatia os tempos de fúteis carícias virtuais pelas redes, como o título já entregava.

No papo com o empresário, era difícil imaginar algo com força para frear o cometa Tiago Iorc. A não ser ele mesmo.

E foi o que aconteceu. "Troco Likes" virou uma turnê intensa e extensa, transformou-se em um álbum ao vivo que ganhou Grammy Latino. De repente, todas as gravadoras queriam ter um "Tiago Iorc para chamar de seu" e artistas se arriscavam por aquilo que preguiçosamente chamavam de "folk fofo".

Seria uma heresia pensar que Iorc atingiria um status de Roberto Carlos ou Caetano Veloso desta geração?

Acontece que, diferentemente de todos que vieram antes, esta geração, a de Tiago, não tem tempo de recolhimento ou de reflexão. Redes sociais, dinâmica das plataformas música por streaming, turnês infindáveis. Tudo é pra ontem, pra já, pra agora. Recolhimento vira "hiato".

Em janeiro de 2018, Iorc deu um tempo. Avisou no Instagram que viveria a vida fora da plataforma. E foi o que fez, talvez pela primeira vez verdadeiramente desde que começou a fazer sucesso uma década antes.

Quando voltou, estava diferente, mais ácido e melancólico com versos sobre a vida contemporânea. Em "Reconstrução", tratou de ausências, de solidões com milhões de seguidores e likes, de paixões tórridas por dolorosas saudades. O sorriso repuxado da capa de "Troco Likes" deu lugar a um rosto sério, com cabelão longo e solto.

O trabalho foi transformado em um Acústico MTV poético, mas sem graça. E, veja bem, este colunista acompanhou a gravação ao lado dos emocionados pais de Tiago Iorc e se emocionou com as lágrimas de aperto de mãos entre eles.

Depois, mais um período de hibernação. E tem sido assim. Vai e vem.

Mais de um ano passado sem notícia alguma do artista, na semana passada, Iorc soltou "Masculinidade", uma música em que segue arrancando de dentro de si os seus fantasmas, como fez em "Reconstrução".

De cabelo raspado, corpo esguio e magro demais, ele dança ao som de uma música mais percussiva e com um fluxo de versos assustadoramente autobiográficos. Saca só:

A música, em si, não é boa. Soa como um diário musicado com rimas não exatamente cativantes, mas tudo tem um sentido ali.

Esteticamente, é um antipop.

Ao mesmo tempo, a canção apresenta um artista sincero sobre seus defeitos, debatendo, com isso, a masculinidade frágil de uma sociedade historicamente misógina.

Minha cunhada, estudante de psicologia, levantou pontos interessantes da letra, que certamente precisam entrar nas conversas de terapia e serem abordados pela academia.

O questionamento que levanto é: apesar de ser um papo importante, seria Iorc capaz de atingir o público que precisa ouvir essas ideias sobre o tema?

Ao fazer um som anti-Iorc de "Amei Te Ver" e das palavras doces, sem entrevistas ou explicações do que está acontecendo, Tiago Iorc parece renunciar àquilo que fez dele um hit.

Processos de autoconhecimento são dolorosos. E os resultados, geralmente, são transformadores.

E talvez este não seja o caso de Iorc, mas é importante pontuar cuidado ao tratar o pop como uma doença contagiosa que precisa ser expulsa do corpo.

Ao final de 6 minutos de música, "Masculinidade" se parece com um autoexorcismo.

Como se Tiago quisesse tirar, de dentro de si, a sua história, o seu passado. E, ao mesmo tempo, se desculpar por coisas que talvez a gente nunca vá entender, de fato.

"Só Tiago Iorc poderia frear Tiago Iorc", pensei anos atrás.

Hoje, a pergunta é outra: "Aonde quer chegar Tiago Iorc?"

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