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Claro se une a Netflix para dar streaming 'de graça' em jogada arriscada

A partir de hoje, todos os novos usuários da Claro TV+ vão receber uma assinatura da Netflix sem custo adicional. De forma gradual, o mesmo benefício será ampliado para todos os outros assinantes de TV da operadora, incluindo aqueles que possuem os antigos pacotes "a cabo" ou por satélite.

Desde novembro, quem contrata o serviço já está recebendo "de graça" o Globoplay. O plano mais básico com ambas as opções custa R$ 109,90 ao mês. Para comparação, quem garante por fora os dois streamings desembolsa um total de R$ 46,80.

Claro e Netflix estão dando streaming "de graça"?

É importante frisar: não existe almoço grátis. Não há custo adicional para o assinante, é verdade. Por outro lado, ainda que não aconteça um aumento no valor da mensalidade, a Claro deverá repassar uma parte do pagamento para a Netflix.

O plano será o Padrão com Anúncios, que custa R$ 18,90 ao mês quando assinado de forma individual. Trata-se de um pacote que inclui propagandas antes e durante os filmes e séries. Caso não queira ver publicidade ou prefira o Premium com transmissão 4K, o usuário terá que desembolsar a diferença.

Quem já tem a Netflix também tem direito. De acordo com a operadora, bastará fazer o login no streaming com seus dados atuais por meio do set-top box, a "caixinha" da empresa. Após a ativação, a cobrança deixa de ser feita no cartão de crédito cadastrado.

O modelo já ocorre em outros casos. A Claro e seus concorrentes trazem diversos serviços "embutidos" no valor da assinatura do celular, incluindo livros e revistas digitais, antivírus, etc. Se você ainda não reparou, olhe novamente a sua fatura para encontrar a descrição de produtos que nem sabia que tinha.

Ao oferecer esses outros benefícios e descrevê-los na fatura, a empresa pode diminuir a incidência do ICMS - que é salgado, variando entre 12% e 20% de acordo com o estado e o produto. O imposto não é cobrado nos serviços adicionados. A coluna questionou a Claro para saber se a mesma brecha fiscal ocorrerá na parceria anunciada hoje, mas não obteve um retorno até o fechamento deste texto. Caso haja um esclarecimento, o conteúdo será atualizado.

TIM e Vivo já oferecem a Netflix, mas somente em alguns planos específicos - o que, na prática, evidencia uma cobrança adicional.

O que está por trás da novidade?

Pelo lado da Netflix, a empresa passa a ter uma grande parceira de vendas, agregando um novo contrato para ambas a cada venda feita. Isso sem mencionar o dinheiro investido pela operadora em marketing, que indiretamente ajudará a gigante do streaming.

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Hoje, a Claro informa que possui cerca de um milhão de contratos no chamado OTT, também conhecido como IPTV - ou seja, com transmissão via internet. Já o modelo mais tradicional, com cabo ou satélite, está em outros 4,5 milhões de lares. Com o tempo, todas essas pessoas terão acesso ao streaming por meio da operadora.

Frame da campanha da Claro com a Netflix: divulgação casada
Frame da campanha da Claro com a Netflix: divulgação casada Imagem: Reprodução/Claro

Apesar de uma certa sobreposição, considerando que parte dessa base já tem a Netflix, a expectativa é que o número total de assinaturas do serviço de streaming aumente no mercado brasileiro.

Não para por aí: a maioria acabará ficando no plano com anúncios, ampliando o número de pessoas que veem propagandas - rendendo ainda mais dinheiro para a empresa norte-americana.

Pelo lado da Claro, os benefícios são vários. Com a Netflix, a operadora oferece mais uma vantagem para seus assinantes - na esperança de mantê-los. Há uma crença no mercado de que o público costuma cancelar menos quando tem um pacote, diminuindo o chamado "churn".

A empresa também se posiciona mais fortemente em um papel que todos querem conquistar nesta era do streaming: a de centralizadora de conteúdo, funcionando como um lugar único para acessar diversos serviços, além de ter todas as cobranças juntas em uma fatura. Dessa forma, agrega uma melhor oferta para concorrer contra IPTVs piratas, o "gatonet", que são adversários ainda maiores que o streaming legalizado.

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Isso sem falar do possível benefício fiscal.

Vale frisar que a aposta é arriscada. Se der certo, a Claro cresce ao se consolidar como portal de entrada para o conteúdo audiovisual, juntando o linear com a comodidade do sob demanda. Este é o plano que a operadora compartilhou com esta coluna alguns meses atrás.

Se der errado, terá aberto de vez o caminho para a Netflix conquistar os seus assinantes - que eventualmente podem perceber que, para eles, é melhor pagar apenas os R$ 18,90 ao mês em vez dos R$ 109,90 (ou mais).

Tudo depende do que acontecerá com o conteúdo que segue sendo o trunfo da TV por assinatura, como as transmissões ao vivo - incluindo esportes e notícias. A Globo já oferece os seus canais lineares (incluindo Sportv e GloboNews) em combo com o Globoplay, enquanto o futebol e a NBA crescem em disponibilidade dentro de plataformas como Star+ (que, em breve, vai se fundir com o Disney+), Prime Video e HBO Max. Se essa tendência se intensificar, a Claro terá que procurar outros diferenciais - quem sabe fortalecendo ainda mais a posição de "pacote de streamings" no lugar dos pacotes de canais.

Seja como for, a Netflix sai vitoriosa em qualquer cenário.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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