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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Marie Kondo descobriu como é ser mãe; podemos nos livrar da culpa pela zona

Marie Kondo: o que é uma prateleira bagunçada perto de uma fralda suja, minha gente? -
Marie Kondo: o que é uma prateleira bagunçada perto de uma fralda suja, minha gente?

Colunista do UOL

01/02/2023 04h00

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Escondida no quarto, escrevo esse texto com medo do momento em que meu filho vai chegar da escola e ver que tirei toda instalação de casinhas de papel que ele havia feito na mesa do escritório para usar o móvel para trabalhar mais cedo. Os brinquedos foram carinhosamente jogados sobre a cama dele, que vai chegar, jogar sua mochila na sala, perceber meu delito e gritar alguma coisa como "ninguém me respeita". Ele tem cinco anos.

As casinhas de papel estão de lá para cá desde o Natal. Preciso arrumar uma caixa para elas. E para os outros brinquedos que ele ganhou no Natal. E para os brinquedos que ele havia ganhado muito antes do Natal, que vieram encaixotados em uma mudança e estão ainda sem reconhecer o novo lar — tem algum filme do Toy Story sobre como os brinquedos se sentem quando não têm uma prateleira definida para viver? Queria ligar para Marie Kondo.

A organizadora, aliás, andou dizendo por aí que desistiu de manter a casa em ordem. Como se diz "escolha suas batalhas" em japonês? Não precisa nem ter criança em casa para saber que a missão de manter as gavetas impecáveis é para heróis de filme. Quem consegue fazer reuniões o dia inteiro e tirar a roupa do varal já está num nível elevado da competência. Tirar do varal, dobrar, passar (alguém ainda passa roupa em 2023?) e guardar na gaveta de maneira impecável parece exigir habilidades Marvel.

Marie desencanou: vai ficar bagunçadinho, ué. Ela prefere brincar com as crianças. Eu também prefiro, mas como vou fazer isso se não sei onde raios a gente enfiou as caixas de lápis de cor?

Ela está certa. Tem que relaxar mesmo. Ou ter a certeza de juntar os trapinhos com pessoas que minimamente obedeçam as mesmas regras — seja tolerar a bagunça em conjunto ou fazer mutirões para organizá-la. Um dos ensinamentos mais valiosos de Marie, antes que ela se tornasse só uma mãe que faz o que dá, é se livrar daquilo que não usa mais. Facilita bastante a vida de quem quer arrumar tudo. Mas você já tentou tirar o Marshall, da Patrulha Canina, de uma caixa cheia de cachorrinhos para aliviar um pouco o espaço? Não recomendo.

Que bom que Marie me libertou da culpa. Estou pensando em usar o tempo que não vou perder hoje pensando que não vou arrumar aquele armário de novo. Quem sabe brincar com meu filho? Acho que vou comprar lápis de cor.

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