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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Piovani e Scooby: expor filhos na internet é o diálogo que não deu certo

Luana Piovani processada por ex-marido - Reprodução/Instagram
Luana Piovani processada por ex-marido Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

27/01/2023 12h00

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Luana Piovani está sendo processada pelo ex-marido, pai de seus três filhos, Pedro Scooby. A ideia é que ela seja proibida de expor os filhos em redes sociais - a atriz tem 4,8 milhões de seguidores do Instagram e tudo o que ela diz vira manchete nos portais de notícia.

Olhando assim, o pedido parece justo: por que uma mãe teria que expor problemas dos filhos nas redes sociais? Luana explica: "Ele está querendo me calar porque queima muito o filme dele cada vez que venho para cá contar o que ele faz, mas faço isso porque funciona", diz. E agora?

É muito difícil conseguir que a parceria na criação funcione em harmonia. Sempre vai ter um momento em que um dos dois genitores vai discordar, achar que faria melhor ou que o erro que cometeu não foi tão grave assim. Isso dá briga em casamentos sólidos, mas quando duas pessoas se separam então... pode virar uma guerra. Como as regras de duas casas, possivelmente com novos cônjuges, poderiam ser unificadas? O que vale aqui também vale ali?

A resposta é o diálogo. Nas diversas postagens que a atriz grava sobre o assunto de sua casa, em Portugal, ela afirma que tentou conversar com o pai das crianças sobre o assunto, não teve êxito e decidiu usar uma arma que ela tem: uma rede social que atinge milhões de pessoas e faz barulho. Seria esse o caminho anterior a procurar a justiça?

Os problemas podem ser o presente de Natal, como de fato aconteceu. Scooby deu celulares às crianças, ela ficou preocupada com o monitoramento do uso, tentou falar com ele, ele desligou na cara dela, ela foi às redes, falou do problema, pegou mal para ele, que fez o que ela vinha pedindo. Nada que exigisse intervenção de um advogado. Mas tornar o papo público acelerou a resolução. "Fui eu que escolhi o pai dos meus filhos, é lógico que é constrangedor para mim vir aqui falar sobre os erros dele", admite.

Ninguém diria que é a melhor solução falar publicamente de questões privadas. Entretanto, se a exposição alcança um lugar que o diálogo não resolve, por que não tentar?

O que prejudicaria mais os filhos de Luana: usar celular sem nenhum monitoramento na infância ou ter uma discussão sobre seus pais exposta na internet? Eu ficaria com a primeira opção.

Boa educação nem sempre é subjetiva

Luana traz questões que não são subjetivas. As crianças devem ter o uso de eletrônicos restrito. Ponto. Os menores devem receber a pensão integral acordada por lei. Ponto. Os filhos devem ser levados à escola no horário. Ponto. Ter um pai legal, surfista, radical, interessado em divertir os filhos é bônus. Há questões anteriores a essa e a reivindicação parte daí.

A mãe não está reclamando da marca de roupa que o pai escolheu, ou do sabor de sorvete que deixa tomar. Está falando sobre aquilo que todo mundo sabe que se trata de boa educação. Quem está pronto para apontar o dedo para a mulher pergunta por que ela não pode tratar isso por WhatsApp e leva a público. A resposta ela mesma dá. O pai não possibilita o diálogo. Mas, quando exposto, faz o que precisa ser feito. Faz sentido que não queira ser exposto, claro. E aí fica livre para desligar o celular na cara da mãe das crianças quando bem entender.

Piovani levanta em seu vídeo sobre o processo, que dura 12 minutos, que calá-la é calar outras mulheres. Sua arma (5 milhões de ouvintes) não está ao alcance de todas nós. Mas a voz dela amplifica a voz de tantas outras que estão tentando dizer o básico e não são ouvidas. Quantos pais estão desligando na cara de mães preocupadas com o bem-estar dos filhos?

A atriz, que tem uma carreira brilhante, está acostumada a ser exposta. Nos posts em que fala sobre educação dos filhos, entretanto, está apontando falhas de um homem, e não ridicularizando os menores, por exemplo. Uma coisa é o pai pedir que a mãe pare de fazer vídeos contando intimidades das crianças, como no dia em que pegaram piolhos, por exemplo? E aí nem precisaria de processo, bastaria o diálogo. Outra é entrar na justiça para que a mulher pare de expor seus defeitos. Não parece que a ação toda está muito mais focada na preocupação consigo mesmo do que com os filhos?

Luana parece de fato uma boa mãe. "Não teria exposto se eu não tivesse razão nas minhas preocupações de mãe", ela diz. Não vejo motivo para não ser verdade.

Você pode discordar de mim no Instagram. Ali, aliás, é bem fácil parecer o pai mais legal do mundo.

PS: Esse texto tem o olhar atento de Lucas Vasconcellos.